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Confira o fact-checking da peça Leopoldina, Independência e Morte

Espetáculo que conta a história da primeira imperatriz do Brasil, em cartaz no CCBB, irá para o Teatro Petra Gold, no Leblon, em março

Por Da Redação
Atualizado em 18 fev 2020, 20h35 - Publicado em 18 fev 2020, 20h32

Em cartaz no Rio desde janeiro, depois de temporada em São Paulo, a peça Leopoldina, Independência e Morte, do diretor paulista Marcos Damigo, já levou mais de 10 000 pessoas ao teatro para conhecer a “história não contada” da primeira imperatriz do Brasil. Vivida pela atriz Sara Antunes, a protagonista narra desde sua chegada ao país em 1817 até sua morte, nove anos depois; e aborda seu interesse pela ciência, sua relação com o marido infiel e sua participação na Independência, pouco retratada pelos livros de história. “Leopoldina disse o ‘fico’ muito antes de dom Pedro I”, explica o historiador Paulo Rezzutti, consultor da peça, em referência à exortação da imperatriz, escrita a próprio punho, para que o marido sacramentasse a separação de Portugal. A trama, porém, usa de alguma licença poética e não é um retrato fiel do passado: apesar de ter presidido o Conselho de Estado que deliberou pela Independência, Leopoldina nunca assinou nenhum documento separando o Brasil de Portugal, por exemplo. A peça fica em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) até o próximo domingo, 23 de fevereiro, e parte para o Teatro Petra Gold, no Leblon, com apresentações de quinta a domingo. Confira, abaixo, o “fact-checking” do enredo:

1) A imperatriz cientista

O interesse da jovem Leopoldina por botânica e mineralogia, expresso logo no início da peça, é 100% verdadeiro. Logo que chegou ao Brasil, a princesa coletou espécies de vegetais, minerais e até pequenos animais para enviar ao pai, na Áustria, e à irmã, na Itália. “A família a incentivava a estudar e a manter suas próprias coleções. Alguns itens que hoje estão no Museu de História Natural de Viena foram enviados por ela”, conta Rezzutti. Entre os poucos objetos que sobreviveram ao incêndio no Museu Nacional, aliás, está seu antigo herbário.

2) Amor à primeira vista – à distância

Apaixonados do Instagram, uni-vos: sim, a imperatriz Leopoldina se encantou pelo marido, dom Pedro I, à distância, graças a um medalhão com uma foto de dom Pedro I enviado à Áustria às vésperas do casamento, também realizado em continentes diferentes, em 1817. “O retrato do príncipe está me deixando transtornada, é tão lindo como um Adônis”, escreveu à irmã. Muitos outros textos seriam escritos depois, sempre exaltando o marido – mesmo depois da chegada ao Brasil.

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3) A Independência

Apesar de a ideia de a imperatriz Leopoldina ter assinado de próprio punho a declaração de Independência – tal como é dito na peça – ser muito inspiradora, a verdade é que não há nenhum documento formalizando a dissolução dos laços entre Brasil e Portugal. O que existe são cartas onde a imperatriz exorta dom Pedro I a fazer a proclamação; além do despacho governamental que a coloca como regente do país durante a viagem do marido para São Paulo em setembro de 1822. Neste papel, Leopoldina presidiu o Conselho de Estado que deliberou pela Independência, que já contava com o aval do imperador.

4) A amizade e a mágoa com José Bonifácio

Único personagem a aparecer na peça junto com a princesa, o político e diplomata José Bonifácio foi retratado como um ex-amigo de Leopoldina e do imperador; e teria deixado mágoas severas ao advogar pela República depois de dom Pedro I fechar a Assembleia Constituinte. Na peça, um longo diálogo entre a dupla marca a admiração mútua e as diferenças de projetos de país. Na história, não há registros dessa conversa – embora tenha algum fundamento. “Bonifácio tinha idade para ser pai dos dois, que tinham por ele um respeito quase filial. Leopoldina o tem como um sábio, especialmente por conhecer mineralogia, e faz poucos comentários sobre seu exílio”, explica Rezzutti.

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5) As amantes de dom Pedro I

Apesar de nunca ter mencionado nas suas cartas o nome de Domitila de Castro, como faz na ficção, Leopoldina era, sim, consciente do famoso caso entre dom Pedro I e a Marquesa de Santos – especialmente quando começa a perder influência na corte por conta da ascensão da amante. Os outros amores do imperador tampouco lhe passaram despercebidos: em carta datada de 1819, dois anos depois da sua chegada ao Brasil, Leopoldina lamenta: “Infelizmente, vejo que não sou amada, meu esposo e meu dever exigem que eu suporte até o último instante”.

6) A morte agonizante e a comoção popular

Não é preciso muita pesquisa para saber que o monólogo final da imperatriz à beira da morte é fictício. É verdade, contudo, que Leopoldina sofreu fortes delírios antes de falecer e, segundos relatos de terceiros, chegou a confessar neste momento a raiva que sentia pelas amantes do marido e pelo próprio dom Pedro I. Seja como for, a doença e consequente morte da imperatriz, em 1826, causou imensa comoção popular no Rio de Janeiro, um fato que chegou a ser reproduzido por despachos estrangeiros. “A saúde de Leopoldina aparecia espontaneamente nas intenções das missas e, depois do falecimento, o povo participou de todos os cortejos”, lembra Rezzutti.

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Leopoldina, Independência e Morte. Centro Cultural Banco do Brasil. Rua Primeiro de Março, 66, Centro. Quarta a domingo, 19h. Até 23 de fevereiro. Em 7 de março, o espetáculo inicia temporada no Teatro Petra Gold.

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