Crise financeira ameaça expansão do metrô e despoluição da Baía
A crise financeira do estado ameaça obras que estavam prometidas para sair do papel até a Olimpíada
Alçado a protagonista do crescimento econômico do país na última década, o Rio teve seu ciclo de euforia suspenso abruptamente em 2015. A paralisação do setor petroleiro devido à queda do preço do barril no mercado internacional e à corrupção na Petrobras culminou em uma espécie de tsunami financeiro nas contas do governo estadual. Calcula-se que, somente neste ano, o déficit orçamentário chegue próximo dos 13,5 bilhões de reais. Em meio à operação de guerra para conseguir fechar as contas mais básicas, o estado precisa lidar também com a responsabilidade de concluir as obras prometidas para a Olimpíada. A grande questão: com o déficit nos cofres públicos, essas obras agora correm o risco de não sair do papel. Na lista dos projetos ameaçados estão as reformas do Maracanãzinho, do complexo Júlio de Lamare e do Estádio de Remo da Lagoa, mais a despoluição da Baía de Guanabara e das lagoas de Jacarepaguá, legados cruciais para o futuro da capital. Há ainda promessas feitas na campanha de reeleição do governador Luiz Fernando Pezão, em 2014, como a construção da Linha 3 do metrô e da estação metroviária Praça XV. “A situação é muito preocupante”, diz Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE). “Além do severo ajuste fiscal dos governos estadual e federal, a crise da Petrobras afeta em cheio empreiteiras como a OAS, sócia na operação das Linhas 1 e 2 do metrô carioca, por exemplo, que podem vir a enfrentar problemas financeiros”, explica.
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Sem ter como arcar com intervenções bilionárias, o estado agora muda de estratégia e aposta no envolvimento maciço da iniciativa privada. São as chamadas parcerias público-privadas (PPPs) e concessões, duas ideias que nunca deslancharam por aqui. É com uma PPP, por exemplo, que o governo diz ser possível viabilizar a limpeza da Baía de Guanabara, mesmo que isso não aconteça a tempo dos Jogos Olímpicos. O projeto deve ser lançado até o início de 2016, e promete regularizar a coleta de esgoto e o tratamento de água de 4 milhões de pessoas que vivem na Baixada, em São Gonçalo e em Itaboraí. “Para tapar o déficit nas contas, conseguimos um empréstimo de 6 bilhões de reais concedido pelo Tribunal de Justiça, mas só essa obra custará o dobro disso, aproximadamente uns 12 bilhões”, diz Júlio Bueno, ex-secretário de Desenvolvimento Econômico na gestão anterior e que está à frente da Secretaria de Fazenda desde fevereiro. A pasta trabalha em conjunto com entidades como a PUC-Rio e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para elaborar o programa e atrair os investidores. “Nossos projetos terão taxas de retorno muito maiores que em outros lugares”, propagandeia. De olho nos canteiros espalhados por toda a cidade, o carioca aguarda apreensivo que as promessas sejam cumpridas.
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Despoluição das lagoas de Jacarepaguá
Custo: 673 milhões de reais
Prometida como um dos principais legados ambientais do evento, a limpeza das lagoas que cercam a Vila dos Atletas e o Parque Olímpico deveria desassorear e tratar o esgoto da região. A dragagem, no entanto, ainda não foi iniciada
Reforma do Maracanãzinho e do complexo Júlio de Lamare
594 milhões de reais
A concessionária Maracanã S.A. deveria ter iniciado em 2014 a adaptação das estruturas, mas fez um pedido de renegociação do contrato
Construção da Linha 3 do metrô
3,5 bilhões de reais
Principal financiador da obra, o governo federal encontra-se sob forte ajuste fiscal e não deve mais garantir o projeto. Há a possibilidade de a linha metroviária ser substituída por um BRT
Reforma do Estádio de Remo da Lagoa
4,4 milhões de reais
Até o momento a empresa vencedora da licitação não foi convocada para assinar o contrato. O atraso pode prejudicar o evento-teste da prova de remo para a Rio 2016, marcado para agosto
Despoluição da Baía de Guanabara
2,5 bilhões de reais
Destaque no dossiê olímpico, o tratamento de 80% dos efluentes lançados não deve sair até o fim da década. Sem recursos suficientes, o estado agora promete uma parceria público-privada de 12 bilhões de reais para expandir o saneamento básico nos municípios do entorno