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Falta de ar: psiquiatra explica a diferença entre Covid-19 e ansiedade

Ainda segundo Analice Gigliotti, a pandemia terá legados positivos: "Guerras e germes adiantam o curso da humanidade"

Por Bruna Motta
Atualizado em 20 out 2021, 15h04 - Publicado em 17 jun 2020, 21h17
Analice Gigliotti: O uso continuado (dos ansiolíticos) em até 4 semanas já pode deixar a pessoa dependente. (Acervo pessoal/Divulgação)
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Analice Gigliotti, psiquiatra e colunista de Veja Rio, foi a segunda convidada da série Colunistas ao Vivo, no Instagram da revista.

No bate-papo, realizado nesta quarta (17), a médica abordou assuntos como ansiedade, compulsão alimentar, ansiolíticos, alcoolismo e a falta de tesão durante a pandemia do novo coronavírus. No final da conversa, Analice indicou três livros para ler durante a quarentena. Abaixo, alguns trechos da conversa:

Compulsão alimentar

“Vejo que, de alguma maneira, há uma pandemia de estresse dentro da pandemia do novo coronavírus. São muitas incertezas e isso leva à ansiedade, ao medo. É normal se sentir assim. Antes de deslocar a ansiedade para a comida, é preciso saber lidar com o estresse. Tente focar no autocuidado, incluindo atividades prazerosas no seu dia a dia, para que o razer não se restrinja só à comida. É também importante dormir bem e fazer exercícios físicos. Também é bom evitar ficar muito tempo sem comer, porque dessa forma é muito mais fácil acabar comendo comidas mais calóricas. Outro problema é ficar beliscando. A melhor coisa é fazer refeições em horários pré-estabelecidos”

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Consumo de bebidas alcoólicas

“Não existe uma quantidade de bebida que ateste se uma pessoa é dependente ou não do álcool. Há pessoas que podem tomar uma taça de vinho por dia e não ser dependente do álcool. Já se a pessoa precisa tomar uma taça todo dia, talvez tenha algum problema. O transtorno por uso do álcool pode evoluir de estágios leves até a dependência. Quatro dimensões explicam se há ou não o transtorno: 1) a perda de controle – quando a pessoa tenta diminuir a quantidade de álcool ingerida e não consegue. 2) Prejuízo social ou ocupacional – quando o álcool prejudica o indivíduo socialmente ou no trabalho. 3) Uso de risco – se a pessoa bebe em situações de risco, como dirigir ou operar uma máquina. 4) Síndrome de abstinência –  a pessoa sente tremor, sudorese, mal-estar intenso, ansiedade caso não beba. Para fazer um diagnóstico, é preciso avaliar o comportamento”

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Tarja preta

“Durante a pandemia, a Anvisa permitiu que as pessoas passassem a comprar uma quantidade maior de medicamento tarja-preta a cada ida à farmácia. Eu acho isso um absurdo. É muito mais importante aprender a lidar com a ansiedade do que se medicar. Caso o paciente não consiga, é melhor procurar um médico. Eu só prescrevo os tarjas-preta em última instância, algo totalmente pontual. Há outras formas, inclusive com outros medicamentos, para tratar a ansiedade. O que eu posso dizer é que deveria ser um recurso quase nunca utilizado. O uso indiscriminado de tarja-preta pode levar a dependência”

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Falta de ar: Covid-19  ou ansiedade?

A falta de ar causada pela infecção pelo novo coronavírus vem junto a outros sintomas, como dor de cabeça, diarreia, perda de olfato, dor musculares, tosse ou febre. Essa falta de ar não vem do nada e, quando vem, o paciente precisa procurar ajuda médica urgente. Já no caso da crise de pânico, o mal estar vem do nada, junto a uma taquicardia, tremor na mão e sudorese. Ela acaba em 10, 20 minutos. Em relação às crises de ansiedade, a falta de ar diminuiu quando a pessoa se acalma. Essa calma pode vir de um abraço ou numa ligação para alguém querido, que profira palavras de conforto. Se for Covid-19, a falta de ar não vai passar rápido.

Tesão: vítima da pandemia?

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“O tesão realmente pode estar morto no meio de tanto estresse. Mas a primeira coisa a fazer é tentar se manter interessado e interessante. Ficar de pijama o dia inteiro acaba com tesão de qualquer um. Melhor se arrumar, se ajeitar, colocar um perfume. Faça um jantar à luz de velas, mantenha o romance. Reserve um tempo para a sua intimidade. Já os solteiros, a masturbação virou o jeito mais seguro de fazer sexo atualmente. Só é preciso lembrar de lavar bem as mãos e os objetos antes do prazer”

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Legados da quarentena

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“Guerras e germes adiantam o curso da humanidade. A descoberta do valor da ciência vai ser um grande aprendizado dessa pandemia. As pessoas estão descobrindo como funcionam os processos científicos. Isso é uma maravilha que a população está ganhando de presente. A pandemia também trouxe consciência acerca das notícias falsas que circulam pelo WhatsApp. Falo para os meus pacientes: vá conferir uma fonte confiável, um veículo de credibilidade. A grande imprensa está cumprindo muito bem o papel de informar”

Livros indicados

Cartas a um jovem poeta – Rainer Maria Rilke

Adicão, dependência, compulsão e impulsividade – Analice Gigliotti e Angela Guimarães

Homens maus fazem o que homens bons sonham – Robert I. Simon

Confira a entrevista:

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