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William Reis: “O primeiro passo para ser antirracista é ter empatia”

Coordenador do AfroReggae estreou a série Colunistas Ao Vivo. "Ler pessoas negras e segui-las nas redes sociais é um bom passo contra a discriminação"

Por Bruna Motta
Atualizado em 10 jun 2020, 21h36 - Publicado em 10 jun 2020, 21h11

William Reis, coordenador do grupo Afroreggae e colunista de Veja Rio, foi o primeiro convidado da série Colunistas ao Vivo, no Instagram da revista.

O bate-papo realizado nesta quarta (10) teve condução da repórter Marcela Capobianco. Assuntos como racismo, educação, favela, coronavírus e solidariedade não puderam faltar. No final da conversa, Willian indicou quatro livros para entender mais sobre a luta antirracista. Abaixo, alguns trechos da conversa:

Despertar

“A minha história é realmente ímpar, porque apesar de ter crescido com a minha família na favela, eu tive uma criação de classe média. Nunca passei fome, por exemplo. Isso me possibilitou ter uma visão sobre a falta de integração entre a favela e o asfalto. Como a maioria dos meninos da comunidade, eu nunca tive acesso a informação, sobre o que era racismo, homofobia, nada. Mas todas essas coisas sempre aconteceram ao meu redor. Quando eu entrei no Afroreggae, comecei a estudar sobre o assunto. A partir de muita leitura, entendi sobre todas as vezes que eu sofri racismo e que, às vezes, nem entendia o que estava acontecendo.”

Trabalho durante a pandemia

“As atividades do Afroreggae estão paradas, porque não podemos fazer aglomeração. Mas, por outro lado, estamos fazendo muita coisa para ajudar as comunidades. Nós sabíamos que a primeira coisa que afetaria a favela na pandemia seria a fome. Logo no início fizemos uma vaquinha para distribuir cestas básicas em locais de vulnerabilidade social. A cada semana visitamos uma favela carioca para distribuir alimentos e itens de higiene. Muita gente está ajudando. Tanto anônimos quanto famosos, como apresentador Luciano Huck e o jogador do Flamengo Éverton Ribeiro”

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Favela e Covid-19

“A dura realidade fica escancarada em um momento como esse. Como pedem para as pessoas usarem máscaras, lavar as mãos, se muitas favelas não têm nem saneamento básico? Como pôr em prática o distanciamento social morando numa casa de um quarto com sete pessoas? A consciência nas favelas sobre os perigos do coronavírus está até boa, mas com a flexibilização das medidas, não sei como vai ficar. No início, as pessoas estavam realmente com medo e sabiam que podia ser muito grave. Mas acho que estão tendo movimentos legais na cidade, diversos projetos sendo postos em prática. O que nós, do terceiro setor, queremos é que essa solidariedade não fique somente na pandemia. Depois que essa doença for embora, também vamos precisar reestruturar a cidade e as favelas”.

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Quero ajudar. Como faço?

“Procure as instituições que já estão fazendo um trabalho de doações. Hoje tudo é mais fácil com as redes sociais. É preciso entender que o Rio não se resume à Zona Sul. Temos que aceitar que temos um apartheid social na cidade. Falta essa conscientização para reconstruirmos a cidade partida. Se queremos melhorar como cidadãos, precisamos nos aliar a pessoas que lutam pela diminuição das desigualdades. Falta o movimento individual. A princípio, o Afroreggae vai continuar com as ações de cestas básicas. Depois voltamos a executar os projetos que já estavam em andamento”.

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Movimento antirracista

“Não existe passo a passo, cada pessoa vai aderir ao movimento de uma forma. A minha dica sempre é: leiam pessoas negras, sigam pessoas negras. E se desconstruam diariamente. Se questione quando na rua vier uma pessoa negra e você atravessa. Já cansei de passar por isso. Pensem duas vezes antes de evitar sentar ao lado de uma pessoa negra no ônibus por medo de assalto.  A primeira coisa que fazem quando um jovem negro morre é procurar a ficha criminal. Reparem no ambiente onde vocês vivem… Tem algum preto? Às vezes, a gente não se questiona porque não estamos passando por aquilo. Eu mesmo fiz essa reflexão em relação ao machismo”.

Lei 10.639/03

“É preciso respeitar a lei que estabelece a obrigatoriedade do ensino de história da África e das culturas africanas e afro-brasileira no currículo escolar. Sem romantizar que uma princesa acordou e decidiu abolir a escravidão. E logo depois disso os negros viveram felizes para sempre. Se as pessoas entendem melhor como as coisas aconteceram, tudo pode mudar. Eu acredito no poder da educação. Só a educação é o caminho para evitarmos muitos conflitos raciais. Isso vai estimular jovens e crianças a lerem pessoas negras, sem contar a contribuição cultural. Mas falta implementar. Tem que cobrar do MEC e dar as ferramentas necessárias para os profissionais.”

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Intolerância religiosa

“Demônio, diabo, nada disso existe em religião de matriz africana. Essa figura vem da cultura europeia. As pessoas no geral são desinformadas, te julgam sobre ser ‘do bem’ ou ‘do mal’. Se elas entendessem minimamente sobre o evangelho veriam que Jesus não era o intolerante que elas estão sendo. Vivemos num país diverso. Respeita a minha religião que eu respeito a sua. Grande parte da intolerância religiosa está ligada ao racismo.”

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Indicação de livros para exercitar o pensamento antirracista:

Nelson Mandela – Um longo caminho a liberdade – Nelson Mandela

Pequeno manual antirracista – Djamila Ribeiro

Escravidão – Laurentino Gomes

Autobiografia Malcom X – Malcom X

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A estreia da série de entrevistas com os colunistas de Veja Rio abordou a luta antirracista, a pandemia da Covid-19 nas favelas e a intolerância religiosa. Confira o papo com William Reis (@williamreis85).

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