Menu do Brics: as inusitadas exigências dos chefs de estado
Espumante, chardonnay e tinto Cordel da vinícola baiana Uvva foram selecionados pela sommelière Maíra Freire para acompanhar as refeições da cúpula

Responsável por alimentar as delegações que participam da cúpula do Brics no Rio, o chef Rafa Costa e Silva, do premiado restaurante Lasai, comanda uma operação grandiosa — com direito a vigilância sanitária dentro da cozinha e pedidos nada convencionais dos convidados.
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As refeições — cerca de 1.200 por dia — chegarão às mãos dos líderes e suas equipes em belas bandejas individuais de madeira brasileira, com louças de qualidade e taças de cristal. Nada de mesas montadas: os participantes comem enquanto seguem nas conversas.

Os pratos foram preparados no Lasai, em Botafogo, sob rigoroso controle: seguranças e agentes sanitários acompanharam tudo de perto. “Quando ainda havia a possibilidade de o presidente Vladimir Putin vir, a tensão foi ainda maior. Provaram tudo, até as torradinhas”, conta Rafa.
Lacrados no sábado, os alimentos seguiram em caminhonetes refrigeradas para o Museu de Arte Moderna (MAM), onde serão finalizados. A equipe, porém, se deparou com um desafio inesperado: o espaço que abrigava o antigo restaurante Laguiole estava vazio, sem estrutura. “Precisamos montar uma cozinha do zero, até máquina de lavar pratos foi alugada”, lembra o chef.
Entre os pedidos mais inusitados está o de um integrante da comitiva brasileira, que só bebe líquidos em um tipo específico de copo, com bojo maior e haste curta. Foi encontrado objeto semelhante na loja Casa & Vídeo, segundo Malena Cardiel, mulher e parceira de Rafa. O nome do autor do pedido? “Segredo de estado”, desconversa o chef, antes de confidenciar: “Os brasileiros deram mais trabalho do que os estrangeiros”.
O cardápio oferece duas opções por bandeja, entre carnes, peixes, sopas e saladas. Neste domingo, os presentes puderam escolher entre peixe ao molho beurre blanc com palmito grelhado e brócolis, ou costela de vitelo com canjiquinha gratinada ao queijo meia-cura. Na sobremesa, pannacotta de leite de castanha com frutas frescas brasileiras. No café da manhã, bolinhos de milho, laranja e aipim completam a experiência.

Os vinhos, nacionais, foram selecionados por Maíra Freire, sommelière do Lasai. “Sugeri à equipe de eventos três rótulos: um espumante extra brut, um chardonnay e o tinto, todos da Vinicola Uvva, da Chapada Diamantina. O tinto é o Cordel, um corte de syrah, cabernet sauvignon, merlot e malbec”, diz Maíra. Entre os mais vendidos da casa baiana, o Cordel foi lançado na safra 2019 com um corte de cabernet sauvignon (65%), merlot (20%) e malbec (15%). Alcançou 91 pontos no Guia Descorchados e a partir de 2020, passou a incluir o syrah como protagonista do blend (65%), ao lado de cabernet sauvignon (22%), merlot (12%) e malbec (1%), reforçando seu estilo maduro, elegante e com potencial de guarda.
O serviço do Brics também foi ensaiado: os garçons treinaram durante quatro horas para que todas as bandejas fossem entregues ao mesmo tempo no salão. Tudo para garantir que, mesmo em meio às negociações, a refeição fosse impecável — na bandeja e no prato.