Texto Marcelo Copello, ilustração Marcelo Marchese
Afrodite ou Vênus, deusa da beleza e do amor, nascida da espuma do mar, imagem magnificamente retratada por Boticelli em “O nascimento de Vênus”, originou a palavra afrodisíaco, definida como “tudo aquilo que produz desejo erótico”. Os afrodisíacos podem ser classificados em dois grupos: psicofisiológicos (visuais, táteis e olfativos) e internos (alimentos, bebidas e drogas).
Os psicofisiológicos são tão sutis quanto a reação do organismo humano a uma bem preparada refeição. A combinação das várias reações sensoriais – a satisfação visual da comida, o estímulo olfativo dos agradáveis aromas e a gratificação tátil proporcionada pelo sabor do prato – tende a trazer um estado de euforia que pode conduzir à expressão do desejo sexual.
Já os internos são mais conhecidos. Os mais populares são peixes e frutos do mar, vegetais e especiarias. Além destes, um pouco de tudo: de raízes, como o ginseng, a drogas como o Viagra. Entre os brasileiros, conhecemos bem o guaraná, a catuaba, o muira puama. Um dos mais antigos tônicos é a cantárida (Cantharis vesicatoria), um besouro que era ressecado, moído e diluído em bebidas. Sade foi preso por administrar doses letais de cantárida em mulheres.
As bebidas alcoólicas, por sua vez, desde a Antigüidade ocupam um lugar de destaque no hall dos afrodisíacos. Entretanto, também foi notado que o consumo excessivo pode atrapalhar em vez de ajudar:
“Macduf: Quais as três coisas que o beber especificamente provoca?
Porter: Nariz vermelho, sono e urina. Luxúria, senhor, ele provoca e não provoca; provoca o desejo, mas impede o desempenho”
Shakespeare (Macbeth, ato II, cena III).
Uma quantidade moderada de bebida reduz a ansiedade e a inibição. Cerca de meio grama de álcool puro por quilograma de peso do indivíduo é a quantidade mais aceita como limite. Ou seja, para uma pessoa de 75 kg, meia garrafa de vinho seriam o máximo a se consumir antes do ato.
Em 1994, um estudo publicado na revista científica inglesa “Nature” afirmava que a ingestão de álcool aumentaria sensivelmente o nível de testosterona nas mulheres, acentuando a libido. Normalmente, a mulher produz cerca de 1/10 do hormônio masculino.
Acredita-se que algumas bebidas sejam muito potentes. O absinto foi muito utilizado nos fins do século XIX na Europa. A mistura da planta absinto (Artemísia absinthium) com anis, ervas e álcool era narcótica e tida como altamente afrodisíaca. A fada verde, como era conhecida, foi proibida em 1915. Hoje é comercializada sem a substância ativa, a thujone, óleo extraído da planta absinto.
A alguns licores de ervas, como o Benedictine e o Chartreuse, criados por monges, atribuem-se os mesmos efeitos. O licor Opal Nera é à base de anis (Pimpinella anisim, grão afrodisíaco natural do Egito). Sua misteriosa cor negra é obtida a partir da casca dos sabugos da amora-preta, planta selvagem que cresce na Itália, seu país de origem.
Não poderia deixar de citar o vinho, que além de ser um estimulante faz parte de incontáveis poções de amor. Desde a Antiguidade o nobre fermentado é associado ao sexo e à fertilidade. Durante muito tempo nosso fermentado foi proibido às mulheres, pois achava-se que, após consumir a bebida, elas estariam mais propensas ao adultério. Rabelais, em sua obra “Gargantua e Pantagruel”, recomenda Borgonha tinto com canela, gengibre, cravo, baunilha e açúcar. A Aqua Mirabilis, um tônico usado na Europa no século XVII, era preparado com canela, gengibre, salsa, timo, noz-moscada e vinho tinto. Uma versão moderna, criada pela sabedoria popular, é vinho quente das festas juninas, que combina tinto, frutas e especiarias.
Vivemos em busca de sensações cada vez mais fortes, um arrebatamento extremo, que pode chegar às drogas ou à pornografia, ao invés de valorizar uma carícia suave ou o prazer de compartilhar uma taça de nossa bebida predileta. Portanto, nenhuma receita funcionará se não se levar em conta as palavras do sábio romano Seneca: “Vou lhe mostrar um afrodisíaco sem poções. Sem ervas, sem nenhuma feitiçaria. Se você quiser ser amado: ame”.