No Chardonnay day, uma Vertical de 40 safras de Motrachet, 1964-2011
Foi um daqueles almoços que acabam no jantar. No relógio apenas algumas horas, que, como vivência valeram por anos.
Por Marcelo Copello
Foi um daqueles almoços que acabam no jantar. No relógio apenas algumas horas, que, como vivência valeram por anos. Em uma degustação particular tive o raro privilégio (pelo qual agradeço o proporcionou), de degustar 40 safras do Le Montrachet Marquis de Laguiche (de 1964 a 2011), com a presença de sua enóloga, Véronique Drouhin-Boss.
O vinhedo Le Montrachet, na Côte de Beaune, no coração da Borgonha-França, é simplesmente o pedaço de terra que gera os maiores vinhos brancos do planeta. Como já escrevi sobre este vinhedo em outra vertical de Motrachet que parciticei, transcrevo aqui uma parte do material:
O vinhedo Montrachet – História
Montrachet é um pequeno vinhedo Grand Cru, de apenas 7,99 hectares, na Côte de Beaune, coração da Borgonha. Este vinhedo é tão famoso que outros vinhedos ao redor tomam seu nome emprestado, como o Chevalier-Montrachet, Bâtar-Montrachet, Bienvenues Bâtar-Montrachet, Chassagne-Montrachet e Puligny-Montrachet. A história deste vinhedo remonta ao século XIII, quando abadia Cisterciense de Maizières inclui em seu inventário, um vinhedo chamado “Mont Rachaz” ou “Montrachaz”, entre as vilas de Puligny e Chassagne.
Montrachet – terroir
Uma garrafa de Le Montrachet custa 3-4 vezes o preço de uma garrafa originada no vinhedo vizinho, de poucos metros à oeste, o Chevallier Montrachet (considerado o 1º degrau logo abaixo do Montrachet), e é cerca de 20 vezes mais cara que seu vizinho de poucos mehores à norte, o Puligny-Montrachet Le Cailleret, que estaria vários degraus abaixo em qualidade.
Mas porque o Montrachet é tão mais caro e especial do que os vinhos que se originam dos vinhedos ao seu redor? O diferencial do Le Montrachet é uma conjunção de fatores, como: composição e profundidade do solo e do subsolo, relevo (inclinação e altitude) exposição ao sol, proteção dos ventos e drenagem.
Montrachet é simplesmente perfeito, uma suave colina, com 6-10% de inclinação e terroir único, com solo pobre com bastante calcário, rico em dióxido de ferro, com profundidadee de 0,5 a 1,5 metros, altitude de 255-270 metros, voltada à leste e com ótima exposição ao sol e protegida dos ventos frios pelo monte Rachet.
Quando visitamos o local não notamos diferença entre os vinhedos, pois o maior segredo está debaixo da terra. Uma falha geológica de cerca de 100 metros de profundidade, faz com que a composição do solo do Le Montrachet seja substancialmente difrente da do Chevallier-Montrachet (que fica mais alto e tem 15% de inclinação e é bem mais seco e pedregoso), e o coloca acima do Bâtard-Montrachet (que fica 1-3 metros abaixo e é quase plano, com 1% de inclinação e tem a 1ª camada do subsolo bem mais rasa). A natureza também privilegiou o Le Montrachet com uma perfeita drenagem e distribuilção de água no subsolo.
Como resultado, o Chevallier-Montrachet é mais mineral, sério, quase com taninos, e com grande finesse, enquanto o Bâtard-Montrachet é o mais rico e opulento da família. O Montrachet é perfeito, um meio termo, com as qualidades de ambos.
O vinho Montrachet
Por sua fama e raridade todo Montrachet é sempre caríssimo, mas alguns decepcionam. O motivo é a fragmentação do vinhedo, este minúsculo pedaço de terra tem 18 donos, nem todos cuidadosos. Contudo, os Motrachets dos melhores produtores, nos melhores anos, são simplesmente os maiores vinhos brancos do mundo – os mais ricos, coesos e perfeitos, unindo concentração-integração, profundidade e finesse.
Os mais confiáveis produtores de Montrachet são Comtes de Lafon, Ramonet, Marquis de Laguiche (feito por Drouhin) Domaine Leflaive e a mítica Domaine de la Romanée-Conti (DRC).
Marquis de Laguiche e Drouhin
O vinhedo Le Montrachet entrou para o patrimônio da família Laguiche por casamento em 1776
A família de Marie-Jenne Clermont-Montoison, que se casou com Charles de La Guiche, já era então a maior proprietára deste mítico vinmhedo, com 4,3 hectares, mais da metade do total. Com a Revolução Francesaas terras foram confiscadas e Charles de La Guiche foi preso por traição. O que aconteceu exatamente com o vinhedo não se sabe, mas uma lenda reza que o antigo mordmo da família comprou o vinhedo de volta dos revolucionários e o deu a seu antigo patrão. Após este periodo obscuro, em 1810, foi feito um inventário e misteriosamente a familia tinha de volta seus originais 4ha, que foram divididos entre dois ramos da família, os Mandelot e os Laguiche, que ficaram com os 2,06ha, que mantém até hoje.
Durante a Segunda Gurerra Mundial, o herdeiro dos Laguiche, Philibert, lutou ao lado produtor e negociante Maurice Drouhin. Em nome destes laços, após a guerra, em 1947, através de um acordo de cavalheiros, a Maison Drouhin recebe dos Laguiche o direito exclusivo de vinificar seu Montrachet. Este acordo de cavalheiros, informal, até hoje é cumprido por seus descendentes. Desde então o proetário do vinhedo continua sendo a família Laguiche, mas quem cuida do vinhedo, faz o vinho e o comercializa é a famíla Drouhin.
A Prova
As 40 safras de Montracher Marquis de Laguiche, de 1964 a 2011, foram provadas em flights de 5-6 vinhos de dácadas diferentes em cada. Eu apresento aqui uma tabela com minhas notas em ordem decrescente e um descritivos de meus 15 predileitos. Vale ressaltar que das 40 garrafas haviam apenas 2 vinhos que demonstravam decadentes pela idade e um defeituoso.