Romanée-Conti 1929, degustando história
Um vinho como o Romanée-Conti traz sempre uma densa carga de história. Mais ainda sendo de uma safra tão...
Por Marcelo Copello
Um vinho como o Romanée-Conti traz sempre uma densa carga de história. Mais ainda sendo de uma safra tão antiga quanto perfeita como a de 1929. Mais ainda trazendo uma peculiaridade, este vinhos não foi engarrafado na Domaine de La Romanée-Conti, e sim por um negociante*, Van der Meulen, um dos melhores da história.
Tive a rara oportunidade de provar o último Romanée-Conti Van der Meulen 1929. A seguir conto esta história, mas antes, agradeço aos que me proporcionaram esta experiência e que comigo a compartilharam
*Negociante ou négociant em francês, são comerciantes do vinho que compram e vendem de tudo, desde uvas, mosto, vinho à granel ou em barricas, até o vinho pronto. Podem, por exemplo, comprar uvas ou mosto de diversos fornecedores, para misturar, fermentar, amadurecer, engarrafar e comercializar com seu próprio nome no rótulo.
Van der Meulen foi um negociante belga famoso no início do século passado, pela qualidade de seus produtos, geralmente bem melhores que negociantes em geral. Van der Meulen sabia, na hora da compra, selecionar as melhores barricas e seus vinhos por vezes ganhavam em qualidade das garrafas vindas dos próprios Châteaux ou Domaines.
Este 1929 que provei é um Romanée-Conti engarrafado por Van der Meulen. Reparem que mesmo o vinho de maior prestígio do planeta, em um ano de crise como 1929, foi obrigado a vender sua produção à um negociante.
A SAFRA 1929 NA BORGONHA
Uma das melhores safras do século, 1929 foi excepcional em toda a França. Na Borgonha proporcionou quantidade com qualidade. A clima foi perfeito ao longo do ano todo, com um verão extremamente quente, que só não prejudicou as uvas pois três dias de chuva caíram no início de setembro. A colheita foi iniciou-se em 15 de setembro, com as uvas altamente concentradas em cor, açúcares e acidez. Os vinhos resultaram robustos e refinados, agradando desde a juventude e com incrível potencial de guarda. Os melhores exemplares ainda estão excelentes e muito vivos até hoje, quase 90 anos depois da colheita.
A PROVA
Romanée-Conti Van Der Meulen 1929
A cor, como pode ser vista na foto, é bastante jovial para um vinho de quase 90 anos, clara, granada com reflexos alaranjados. O aroma se mostrou perfumado, com notas de flores secas, rosas, sultanas, resinas, geleias, tostados, algo que lembra um vinho do Porto, e muitas especiarias exóticas, quase uma marca do Romanée-Conti, sem falar no finesse. O paladar surpreendeu pela maciez, quase quente, com textura densa, sensação de doçura, com camadas de sabor, com grande profundidade, extremamente longo. Com extrema elegância, mas também com muita riqueza, talvez por ser um vinho pré-phyloxérico, talvez por ser uma safra muito quente e concentrada, ou talvez (mas pouco provável), como contam alguns relatos históricos, Van Der Meulen, poderia ter fortificado alguns de seus vinhos, com álcool ou com vinhos do sul da França, para lhes dar mais força (o que não faz muito sentido em uma safra poderosa como a de 1929). Obs: a procedência da garrafa é segura, sem possibilidade de falsificação. Seja como for o vinho emocionou, uma perfeição, muito vivo, merecendo uma nota que dei poucas vezes na vida: 100+.
Nota: 100+ pontos