Os melhores Bordeaux vêm da Rioja.
Os vinhos da região espanhola são caracterizados pelo paladar marcantemente amadeirado e por um estilo único no mundo. De quebra, ainda têm preços muito competitivos para a qualidade que entregam Por Marcelo Copello Tenho um grande amigo, amante dos vinhos espanhóis, que costuma dizer: “os melhores Bordeaux vêm da Rioja”. Se analisarmos a história dos […]
Os vinhos da região espanhola são caracterizados pelo paladar marcantemente amadeirado e por um estilo único no mundo. De quebra, ainda têm preços muito competitivos para a qualidade que entregam
Por Marcelo Copello
Tenho um grande amigo, amante dos vinhos espanhóis, que costuma dizer: “os melhores Bordeaux vêm da Rioja”. Se analisarmos a história dos vinhos desta região, veremos que, verdade ou não, há alguma lógica nesta afirmação. Além disso, enquanto os preços de Bordeaux sobem sem freio, puxados pela China, os ícones do novo mundo os perseguem. Para quem quer algo em estilo tradicional e de bom nível, os clássicos da Rioja tem preços bastante competitivos para a qualidade que entregam.
Histórico
Já se faz vinho na Rioja há três mil anos, mas a região só emergiu para o mundo quando terríveis pragas atacaram Bordeaux (o Odium, em 1850, e depois a Filoxera, em 1870). Rioja já era conectada à Bordeaux pelas rotas de peregrinos rumo à Santiago. Quando a praga castigou a capital francesa do vinho, os negociantes de vinho de Bordeaux foram se abastecer na Rioja. Consultores bordaleses levaram novas técnicas de vinificação aos espanhóis, notadamente o uso de barricas de carvalho. O sucesso dos vinhos riojanos madeirados foi tanto que o uso das barricas cresceu e uma pequena indústria tanoeira floresceu na região. O carvalho americano foi a opção econômica adotada (bem mais em conta que o carvalho francês), tornado-se a “marca registrada” dos clássicos da Rioja.
A palavra chave: madeira
O uso da madeira tornou-se um item estilístico fundamental na Rioja, desde a chegada dos Bordaleses em 1850. É curioso notar, no entanto, que o uso das denominações como “Reserva” e “Gran Reserva”, hoje objeto de legislação, só surgiram na região nos anos 1950, 100 anos depois da “invasão” francesa.
Normalmente os produtores riojanos só usam barricas novas para os primeiros seis meses de amadurecimento do vinho, que depois é transferido para barricas usadas.
A legislação da Denominación de Origen Calificada (DOCa) Rioja, classifica os vinhos por seu tempo de envelhecimento em madeira e em garrafa antes de chegar ao mercado. Enquanto os do tipo “joven” não passam por madeira, os “crianza”, precisam cumprir dois anos de envelhecimento entre garrafa e madeira, sendo que deste total o mínimo em madeira é de 6 meses. Os “Reserva” e “Gran Reserva” seguem a mesma lógica, respectivamente com três e cinco anos de envelhecimento total (madeira e garrafa), com tempo mínimo em madeira de 12 meses – Reserva, e 24 meses – Gran Reserva.
Os melhores Gran Reservas são normalmente vinhos de médio corpo, complexos, expressivos, cheios de especiarias e aromas de evolução, macios, com taninos finíssimos. Com tudo isso e bastante madeira também. Nós e os cupins, adoramos.
DOC dos Riojas
Riojas Tintos
Joven – sem madeira
Crianza – mínimo de 6 meses em madeira
Reserva – mínimo de 12 meses em madeira
Gran Reserva – mínimo de 24 meses em madeira
– Amancio 2005, Sierra Cantabria, (Distribuidora: https://www.peninsulavinhos.com.br).
Vinhas velhas de Tempranillo de baixo rendimentio (25hl/ha). Fermentado em tonéis franceses e amadurece 200% (passa duas vezes) em barricas francesas novas, em um total de 24 meses. Cor granada muito escura. Aroma intenso e muito complexo, precisa de uma boa decantação, com notas de frutas muito maduras, mineral terroso, tostados, flores maceradas, ervas aromáticas, baunilha e muitas especiarias, pimenta, chocolate. Paladar encorpado e profundo, em camadas, 14,5% de álcool, taninos doces e volumosos, acidez equilibrada, muito longo. Já provei este vinho antes e acho que agora está entrando em seu melhor momento, no qual deve permanecer ao menos uma década. Nota: 97 pontos
Marqués de Riscal Gran Reserva 2004, (Distribuidora: https://www.interfood.com.br)
Vinhas de 30 anos de Tempranillo 85%, Graciano10% e 5% de outras. 30-36 meses em carvalho americano. Granada escuro. Aroma intenso, ainda frutado, com bastante madeira, com notas florais, muitos especiarias e tabaco, couro, tostados, café, chocolate, tudo muito bem integrado. Paladar de bom corpo, com taninos firmes, finos e sedosos, acidez muito boa, com 14% de álcool. Estilo clássico muito elegante. Pronto, mas no início de sua evolução. Nota: 93 pontos
Gran Reserva 2001, Luís Cañas, (Distribuidora: https://www.vinci.com.br )
95% Tempranillo, 5% Graciano, de vinhas velhas, com média de 50 anos de idade. Fica 12 meses em barricas de carvalho francês novas e posteriormente 12 meses em barricas de carvalho americano de segundo uso. Vermelho granada entre claro e escuro. Aroma rico, intenso, com frutas maduras, bastante madeira (como deve ser em um Gran Reserva), notas baslâmicas, defumados, tabaco, avelãs torradas, chocolate. Paladar de bom corpo, com boa profundidade, taninos finos, longo e equilibrado. Nota: 93 pontos
Viña Real Gran Reserva 1998, CVNE (Distribuidora: site https://www.vinci.com.br)
Granada claro alaranjado. Aroma intenso, etéreo e com bastante madeira (muito bem integrada), com notas de coco queimado, tostados, baunilha, terra molhada, muitas especiarias. Paladar macio, com taninos finíssimos e prontos, apenas 13% de álcool, perfeito equilíbrio, um pouco curto, muito prazeroso. Um Rioja excelente a moda antiga. Nota: 92 pontos
Marqués de Caceres Gran Reserva 2001 (Distribuidora: site https://www.mistral.com.br)
Elaborado com 85% Tempranillo; 7,5% Garnacha e 7,5% Graciano, fica em cavalho francês por 26-28 meses. Granada claro alaranjado. Nariz muito rico, com notas de evolução couro, bastante madeira muito bem integrada, finos tostados, frutas vermelhas e negras, cerejas, ameixa, passa, tabaco, cedro, canela, baunilha, defumados. Paladar de médio-bom corpo, com 14% de álcool, taninos finos e prontos, acidez equilibrada. Polido e equilibrado, em estilo clássico, em seu auge, excelente. Nota: 92 pontos
Beronia Gran Reserva 2005, Gonzalez Byass (Distribuidora:www.inovini.com.br)
Rubi escuro com reflexos granada. Aroma intenso e rico, de frutas maduras, doces, cerejas ao maraschino, figo seco, bastante madeira e especiarias, baunilha, coco queimado, terra molhada, defumados. Paladar concentrado, taninos finos e presentes, longo. Estilo um pouco mais moderno. Precisa de decantação, abriu-se muito na taça ao longo da prova. Nota: 92 pontos
Marqués de Tomares Gran Reserva 2001, Marqués de Tomares (Distribuidora: https://www.portoaporto.com.br )
Granada entre claro e escuro, com reflexos alaranjados. Aroma intenso e complexo, com notas de ervas, terra molhada, tostados, café, baunilha, bastante medeira, muito bem integrada,
Paladar de bom corpo, taninos finos e muito macios, 14% de álcool, longo, equilibrado e elegante. Ótimo custo-benefício. Nota: 91 pontos
Conde de Valdemar Gran Reserva 2004, Bodegas Valdemar (Distribuidora: https://www.mistral.com.br)
90% Tempranillo, 10% Mazuelo, com dois anos em barricas. Vermelho granada ainda vivo, com reflexos alaranjados. Aromas intensos e frutados, perfil mais jovial e moderno de grand reserva, fruta mais densa, madura, bastante madeira (bem integrada ao conjunto), coco queimado, baunilha e muitas outras especiarias doces, alcaçuz, cravo, noz-moscada. Paladar de médio-bom corpo, 13,5% de álcool, taninos macios, mais moderno e pronto, com menos taninos e acidez. Delicioso e agrada fácil.Nota: 89 pontos
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