O espumante brasileiro
Por Marcelo Copello Com mais da metade dos prêmios amealhados pelo país lá fora, só faz aumentar o prestígio das borbulhas nacionais O espumante brasileiro está girando o mundo, colhendo láureas em concursos internacionais, conquistando consumidores e instigando experts de várias nacionalidades. A pergunta que todos fazem é a mesma: o que leva o espumante nacional […]
Por Marcelo Copello
Com mais da metade dos prêmios amealhados pelo país lá fora, só faz aumentar o prestígio das borbulhas nacionais
O espumante brasileiro está girando o mundo, colhendo láureas em concursos internacionais, conquistando consumidores e instigando experts de várias nacionalidades. A pergunta que todos fazem é a mesma: o que leva o espumante nacional a ser tão bom? A resposta é uma conjunção de fatores históricos, naturais, sociais e mercadológicos.
História centenária
Não é de hoje a dedicação dos produtores brasileiros aos espumantes. Apesar de uma história bem mais antiga (a produção de vinhos no Brasil começou em 1532), foi em 1915, portanto há quase 100 anos, que espocaram as primeiras rolhas de espumantes brasileiros, com a fundação da vinícola Armando Peterlongo, a pioneira no setor.
Sabedora do potencial do terroir brasileiro para espumantes, a Möet Chandon construiu aqui uma vinícola em 1973, mesmo ano em que se estabeleceu na Califórnia e antes de inaugurar a sua sede na Austrália (em 1986).
O terroir da Serra Gaúcha
Como a região de Champagne, na França, a Serra do Rio Grande do Sul percebeu cedo que a adversidade do clima para tintos poderia, sob a ótica dos espumantes, se transformar em vantagem.
Principal região produtora de vinhos do país e berço do espumante brasileiro, a Serra Gaúcha localiza-se na latitude 29º Sul, com altitudes entre 400 e 800 metros. O clima é temperado sub-tropical, com verões amenos e úmidos, com chuvas de 1.700mm, temperatura média de 17ºC, umidade relativa do ar de 77%, com cerca de 2.200 horas de sol ao ano. Os solos são argilo-calcários ácidos, com boa drenagem, ricos em potássio e pobres em fósforo.
Tais dados mostram um terroir difícil para uvas tintas de ciclo longo, porém perfeitos para a elaboração de vinhos-base para espumantes, de baixo teor de álcool, alta acidez e ótimos aromas. Dentro da Serra Gaúcha foi regulamentada a Denominação de Origem “Vale dos Vinhedos”, que determina o uso das uvas Pinot Noir, Chardonnay e Riesling Itálico. Além destas cepas outra que merece destaque é a Moscatel, cujos espumantes leves, frescos e perfumadíssimos já conquistaram público cativo.
Outras regiões
Não é só da Serra Gaúcha que provém os bons espumantes brasileiros, mas de todo o Rio Grande do Sul e de outros estados do país, como a vizinha Santa Catarina e Pernambuco, no Nordeste brasileiro. Este último um terroir muito peculiar, no paralelo 8º Sul, com duas colheitas ao ano. O Vale de São Francisco, debruçado sobre os territórios pernambucano e baiano, possui clima muito quente, tropical semi-árido, e nos espumantes a vocação é para a elaboração de moscatéis mais cremosos e exuberantes, de acidez moderada.
Santa Catarina, por sua vez, é quase o oposto disto, com altitudes que chegam a 1.400 metros e temperatura média de 12,7oC. A colheita é até 4 meses mais tarde que no Rio Grande do Sul e as uvas chegam à grande maturidade, mantendo alto nível de acidez. As uvas utilizadas, além de Chardonnay e Pinot Noir, incluem a Cabernet Sauvignon e a Merlot, originando espumantes fresquíssimos, de acidez crocante e ótima estrutura.
Método de tomada de espuma
O método de tomada de espuma mais usado é o charmat, com segunda fermentação em tanques de inox, podendo ser um “charmat curto” (com cerca de 3 meses de tempo com as borras) ou um “longo” (com cerca de 8 ou mais meses sur lie). O método tradicional (ou champenoise) também é bastante utilizado para os produtos de mais alta gama, com alguns produtores altamente especializados neste processo.
Mercado
De nada adiantaria o domínio técnico e a ajuda da natureza se a resposta não viesse do consumidor. O brasileiro adora o espumante nacional e o prestigia. Esta foi a categoria que mais cresceu em nosso mercado nos últimos anos, com um crescimento de quase 100% entre 2005 e 2010 (chegando a 12,5 milhões de litros comercializados). Vale destacar o desempenho dos moscatéis que cresceram quase 300% no mesmo período, chegando a 3 milhões de litros.
Reconhecimento internacional
Alguns números comprovam tudo o que foi dito acima. Entre 2002 e 2011, 1.966 rótulos brasileiros receberam medalhas em concursos internacionais. Destes nada menos que 51% (ou 1.003 medalhas) foram de espumantes, um desempenho digno de um (ou vários) brinde(s)!
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Marcelo Copello (mcopello@bacomultimidia.com.br)