A taça certa para seu vinho
O copo está para o amante dos vinhos assim como o piano para o pianista ou a raquete para o tenista.
Por Marcelo Copello
O copo está para o amante dos vinhos assim como o piano para o pianista ou a raquete para o tenista. Apreciar um bom rótulo num copo reto de vidro grosso é como esperar que Nelson Freire toque em um piano faltando teclas ou que Guga jogue com uma raquete de tênis de mesa (ping-pong).
Para os neófitos desta arte, as recomendações básicas, condições sine qua non para apreciação de bons vinhos, são: servir o líquido na temperatura ideal (cerca de 6-8ºC para os espumantes, 10-12ºC para os brancos e 16-18ºC tintos) e em taças adequadas. São medidas relativamente baratas e imediatas, que farão toda a diferença, melhorando muito o julgamento da bebida. Um termômetro e ao menos duas taças apropriadas são um investimento baixo que dá grande retorno. O copo é a ponte entre o bebedor e a bebida, e influencia todos os sentidos utilizados na degustação: visão, olfato, tato e paladar.
COR E TRANSPARÊNCIA DO VIDRO
O primeiro aspecto é a cor e a transparência do recipiente. O ideal é que seja totalmente incolor e de material puro e translúcido, para que não interfira na beleza da tonalidade e reflexos do líquido.
TAMANHO
O tamanho terá influência na quantidade de oxigênio a que o vinho ficará exposto e no espaço que este terá para desenvolver seus aromas. Quanto mais intenso e complexo o rótulo escolhido, maior capacidade do recipiente ele irá demandar. Colocar um grande branco da Borgonha em uma taça pequena é como pedir que Rudolf Nureyev dance em uma boate lotada. Por outro lado, se colocarmos um vinho simples e curto de nariz em uma taça grande, seus poucos aromas serão insuficientes para preencher o espaço e desaparecerão. Seria como pegar um jovem que dança na boate lotada e colocá-lo sozinho no enorme palco do Theatro Municipal – ele ficaria perdido…
FORMATO
Quanto ao formato, a taça ideal estará de acordo com a personalidade do vinho: taninos, acidez, alcoolicidade e doçura. O feitio da borda, bojo, haste e boca vai determinar como o líquido terá seu primeiro encontro com o palato e qual parte da boca ele irá tocar antes. Quando se trata de paladar, a primeira impressão é a mais importante. Formatos diversos irão valorizar características diferentes da bebida. Recipientes que orientam o líquido para a ponta de nossas línguas, por exemplo, valorizam a doçura, sentida mais nesta parte da mucosa.
QUALIDADES BÁSICAS DE UMA BOA TAÇA
Existem, no entanto, algumas premissas básicas para qualquer bom copo: material fino para que o contato com nossos lábios seja agradável; bojo com certa largura para que haja suficiente superfície de evaporação; e, finalmente, formato que se estreite em direção à boca de modo a manter os aromas dentro da taça. Esta deve ter sempre uma haste onde por ela ou pela base deve ser segura – jamais pelo corpo -, evitando assim esquentar o líquido e deixar marcas de dedo que atrapalhariam a apreciação visual da bebida.
Importantíssimo: nunca encha demais o copo, no máximo um terço da capacidade, para que se possa girar o líquido sem derramá-lo, liberando seus aromas, e para que haja espaço livre para eles.
Seguindo estes critérios existirá uma taça ideal para cada tipo de vinho. Algumas clássicas: como a tipo Bordeaux, ovalada e alta; ou tipo “balão”, quase uma esfera cortada, ideal para os brancos da Borgonha. Existe também uma taça padrão, a ISO (International Standards Organization) ou INAO (Institut National des Appelations d’Origine). Esta pode servir de curinga para qualquer vinho (tintos, brancos, secos, doces e fortificados e até espumantes. A taça ISO é interessante para degustações técnicas, quando se quer manter uma referência entre diversos tipos de vinho. Por outro lado, como ela é pequena, tende a nivelar as amostras por baixo.
A verdadeira revolução das taças aconteceu no século XX, na modelagem dos recipientes. Descobriu-se que formato, tamanho e material das taças influíam diretamente na percepção das qualidades da bebida. Foi Claus Josef Riedel, 9ª geração de um família dedicada aos cristais desde o século XVII, que, nos anos 1950, por meio de experiências práticas, provou que o copo muda a apreciação do vinho. Este vidraceiro austríaco estudou a correlação entre cada uma das características do líquido e o formato e tamanho das taças. Os efeitos alcançados por esta tecnologia já são amplamente reconhecidos no mundo do vinho.
QUE TAÇAS DEVO TER EM CASA?
Existem no mercado uma infinidade de modelos e formatos de taças para vinhos. Como já citado, o produtor Riedel, por exemplo, tem modelos diferentes para cada tipo de casta/uva e regiões dos vinhos. Você não precisa ter todos este modelos. Com dois tipos você atenderá uma ampla gama de vinhos. Sugiro uma maior para os tintos e brancos de maior estrutura, que precisam de maior aeração, e um modelo menor para os demais. Para os espumantes sugiro usar as mesmas taças e seguir a mesma lógica. A taça maior para os espumantes de maior corpo e a menor para os mais leves. Não recomendo as taças tipo flute, mas isso é tema para outra matéria. Prometo publicar em breve!
Você não precisa ter em casa De forma prática, sugiro que você tenha