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Marcelo Copello dá dicas sobre vinhos

A influência inglesa no Vinho do PORTO

Por Marcelo Copello (trecho do livro “Os Sabores do Douro e do Minho” Editora Senac-SP

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Atualizado em 28 dez 2017, 14h50 - Publicado em 28 dez 2017, 09h48
 (marcelo copello/Vinoteca)
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Por Marcelo Copello (trecho do livro “Os Sabores do Douro e do Minho” Editora Senac-SP)

Os ingleses influenciaram e influenciam até hoje grandemente o mercado mundial de vinhos, como consumidores e importadores. Historicamente foram responsáveis diretos pelo surgimento da indústria vinhateira na Austrália e América do Norte, por exemplo. Também foram e são grandes importadores de vinhos franceses e espanhóis. Em Portugal esta influência foi enorme e chegou a ponto de motivar a instalação de mini-colônias britânicas em Viana do Castelo (principal cidade litorânea do norte do Minho) e posteriormente no Douro.

As exportações de vinhos portugueses, principalmente os do Minho, vêm de tempos imemoriais, pelos pescadores do norte, que levavam vinhos à costa da Grã Bretanha e voltavam com bacalhau. No século XII já era grande o tráfico de vinhos de Monção, que saiam do país por Viana do Castelo com destino a Inglaterra. Estes vinhos não eram os hoje famosos Alvarinhos de Monção e sim o que os ingleses chamavam de “eager wine” (algo como “vinho ansioso” ou pronto antes do tempo), vinhos tintos acídulos e de pouca cor, já que as castas tintureiras que hoje dominam os tintos do Minho só surgiram após a praga da Filoxera, no século XIX. O Tratado de Windsor, de 1396, pacto entre D. João I e Richard II, formalizou e favoreceu ainda mais florescimento das relações comerciais entre Portugal e a Inglaterra.

O tratado de Methuen e a crise

Em 1703 Inglaterra e Portugal firmaram o Tratado de Methuen. O acordo previa a entrada dos tecidos ingleses em Portugal (o que estava proibido desde 1684) e em contrapartida os vinhos portugueses entrariam Inglaterra pagando apenas 2/3 da taxa que pagavam os vinhos franceses.

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Nas entrelinhas deste tratado estava o interesse inglês no Brasil, no ouro e em um enorme mercado aqui para seus produtos têxteis, já que a população brasileira quintuplicou entre 1700 e 1760, indo de 300 mil para 1,5 milhão de pessoas.

Os mercadores ingleses passaram a dominar o negócio do Vinho do Porto desde sua origem em Portugal. Cerca de 30 firmas britânicas instaladas em território luso detinham 60% do mercado, enquanto os portugueses ficavam com 35% e os restantes 5% era dividido por empresas alemães, franceses e holandeses.

Como resultado do Tratado de Methuen houve uma disparada nas importações inglesas de Vinho do Porto, que atingiram 20 mil pipas em 1720 e 25 mil pipas em 1728. Aumentos de produção tão bruscos não são possíveis no mundo do vinho, que é um produto natural, com apenas uma safra ao ano. Para aumentar a produção desta maneira os comerciantes começaram a misturar vinhos de outras regiões e em 1730 já se registravam denuncias de fraudes.

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O Gosto Inglês

É necessário explicar aqui o “gosto inglês” pelo Vinho do Porto, com um trecho de uma carta de “Novas Instruções” da Feitoria Inglesa (associação dos comerciantes ingleses) aos produtores portugueses, de 1754. Para agradar ao gosto inglês o vinho deveria ser “hum fogo potável nos espíritos, huma pólvora incendiada no queimar, huma tinta de escrever na cor, hum Brazil na doçura, huma Índia no aromático”. Este estilo de vinho era chamado de “vinho de feitoria”, em referência a Feitoria Inglesa. Alguns lavradores fabricavam artificialmente este vinho mirabolante usando, além de aguardente, a baga de sabugueiro (corante natural), açúcar e outros artifícios.

Os ingleses, que dominavam o comercio do Porto, pararam de comprar acusando os produtores de fraude. O preço da pipa, que após o tratado de Methuen atingiu 60.000 réis, despencou para 6.000 réis em meados do século. Para piorar o ruim, as colheitas de 1753 e 1754 foram péssimas e a década de 1750 viu sucessivas cheias no Douro, causando muitos estragos.

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Este período de expansão desmedida que resultou em crise (de 1703 com o Tratado de Methuen, a 1755), também foi o de fatos importantes na história do vinho, como o surgimento da interrupção da fermentação do Porto com aguardente, que teve início na década de 1720.

A crise não foi apenas do Vinho do Porto, mas de toda a economia portuguesa. O período áureo dos descobrimentos causou uma perda interna na agricultura, pois muitas culturas foram abandonadas com a entrada dos produtos do oriente e do ouro do Brasil. O Vinho do Porto chegou a 1755 em estado de falência, o que suscitou a intervenção do estado, e a entrada do Marquês de Pombal em nossa história.

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