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Por Vanessa Aragão, pesquisadora e instrutora de meditação
Criadora do projeto Meditante Urbana
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Nenhuma escolha precisa ser eterna

Caminhos para sair do (des) conforto

Por Vanessa Aragão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
12 set 2023, 13h53

Quando os yanomamis querem conhecer as coisas, eles se esforçam para vê-las em sonhos. Para eles, sonhar é saber ver, ver o invisível. Talvez eu esteja tão empenhada em sonhar porque é doloroso entender as nossas dores sem a ajuda dos Xapiris, os espíritos da floresta. São eles quem carregam a nossa imagem para bem alto no céu durante nossos voos oníricos. Noite após noite, através dessa abertura, meu pensamento consegue se expandir – e eu compreendo que todos nós temos mais em comum do que nos damos conta. 

Outro dia fiz uma matemática de padaria e descobri que em 7 anos já atendi umas 3.700 pessoas. E todas, sem exceção, descobrem que dias ruins também chegam ao fim. Então, em cada sonho que eu vejo um pouco mais do invisível das minhas dores, vejo também aquelas das pessoas que passam pela minha sala de atendimento. E a boa notícia que sempre trago do Mari tehe – o espaço-tempo do sonho yanomami, é que existem muitos caminhos. 

Afinal, se a impermanência é uma lei universal, a mudança existe em mim. E se a mudança existe em mim, então é normal que os caminhos que eu sigo mudem comigo. Antes que esse texto acione os seus gatilhos naturais de reatividade, lembre que para fazer qualquer ajuste de rota, seja ele escolhido por você ou por terceiros, você precisa conhecer a si mesmo para sobreviver. E isso exige coragem – coragem porque não é um processo fácil. E paciência porque não é um processo rápido. 

Tem coisa que não dá para planejar. E por coisa me refiro a vida. É ilusão acreditar que temos o controle de todos os fatores externos que acontecem e mudam completamente nossos caminhos. Se você precisar fazer novas escolhas, erga a mão como quem pede trégua, como quem deixa ir, e como quem se ama suficiente para se permitir seguir em frente. 

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Recomeçar dói  porque a sensação de estar perdido é muito frequente no recomeço – e ninguém está preparado para isso. A descoberta acontece no percurso. Recomeçar não é sobre esquecer tudo o que você viveu, muito pelo contrário. É reconhecer que tudo o que você viveu te trouxe até aqui. É bonito demais se dar essa oportunidade. 

Às vezes, pergunto para os sonhos se eu atravesso o caminho ou se o caminho me atravessa. E quando me sinto confusa pensando no que as pessoas esperam de mim durante esse processo, eu repito um mantra mágico: o que as pessoas esperam de mim é exatamente isso: apenas o que elas esperam de mim. Nem eu nem você precisamos viver com base em expectativas que não são nossas. 

O escritor Davi Kopenawa costuma dizer que os brancos não sabem sonhar, por isso não conseguem ver as coisas como elas realmente são. Um dia, quem sabe, se nos transformarmos em sonhadores de primeira, possamos entender que nenhuma escolha precisa ser eterna porque os desejos mudam: os meus, os seus, os do mundo. 

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Quem sabe, com um pouco mais de sonho e ajuda dos Xapiris, eu possa acolher o fato do que eu queria no passado já não faz mais sentido para quem eu me tornei hoje. Muitas vezes isso é o mais difícil: aceitar que eu e você já não somos mais o que éramos antes. 

O fim é também um recomeço.

*Texto inspirado no livro Nenhuma escolha precisa ser eterna, de Lucas Misunaga.

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