Tulio Brandão Por Tulio Brandão, jornalista atento a cidades sustentáveis Em busca da linha fina entre a transformação urbana e o patrimônio natural
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Andar a pé é revolucionário

Textos de Rogério Daflon nos ajudam a entender por que a calçada é o território sagrado de quem se dispõe a viver plenamente a cidade

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Atualizado em 29 nov 2021, 15h16 - Publicado em 29 nov 2021, 11h28
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  • Em tempos cada vez mais acelerados, andar a pé pelo Rio é um ato de resistência. Livre-se do medo, encontre rotas mais seguras, desvie dos buracos: a calçada segue sendo o território sagrado de quem se dispõe a viver a mágica da cidade. É o lugar onde cidadãos de matizes distintos se encontram e dão uma forma viva à urbe, como se alimentassem as veias de um corpo com interação e diversidade.

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    Confesso devoção aos passeios pelo Rio de Janeiro. Sei que há muito a dizer sobre obstáculos, violência, ocupações indevidas e carência de infraestrutura, mas, pelo menos neste texto, atenho-me a defender o caminho dos pedestres. Até porque, sem os cariocas nas ruas, a cidade definha e, depois, morre.

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    É na calçada que você encontra o outro, o diferente. O espaço abriga o vizinho, o guardador, pessoas em situação de rua, o padeiro, o outro vizinho, o jornaleiro, o trabalhador, o porteiro, o prestador de serviço, o rico, o aposentado. Deste caldo gerado pela interação e pela tensão social, forja-se o espírito da cidade e, mais que isso, brotam cidadãos mais plenos e conscientes das diferenças que os cercam.

    Andar a pé é, ainda, um manifesto definitivo contra o uso desenfreado de meios de locomoção sujos e uma defesa intransigente do planeta, em plena crise da mudança climática. Neste modo primário de mobilidade, o tempo nos coloca em nosso devido lugar. Ganhar dez minutos de carro pode significar perder muito mais que isso.

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    As calçadas também são a vitrine preferida de nosso patrimônio urbano. Ao caminhar um pouco, o carioca depara com joias da belle époque como a Praça Paris, na Glória, do francês Alfred Agache, ou com o Pedregulho, icônico conjunto residencial modernista de Affonso Reidy, em São Cristóvão.

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    Os dois monumentos me lembram os passeios pelo Rio com o saudoso Rogério Daflon, jornalista devoto ao urbanismo, que nos deixou prematuramente em 2019. Caminhar pelas ruas, ensinou ele, era o ritual obrigatório e preparatório para os mais brilhantes textos sobre a cidade.

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    Assim, Dafla (como meu amigo era conhecido pelos mais chegados) produziu peças jornalísticas definitivas sobre temas essenciais à cidade, como a representatividade dos negros na Zona Portuária, o problema da privatização do espaço público, o desafio das favelas, a interface da cidade com seus dilemas ambientais.

    Estas reportagens e muitas outras de seu extenso portfólio foram reunidas por familiares e amigos no livro “Andar a pé – uma obrigação profissional” (Ibis Libris). A publicação, que eterniza o pensamento deste fundamental jornalista flaneur, será lançada na sexta (3), às 18h, na Blooks Livraria, que fica no Espaço Itaú de Cinema (Praia de Botafogo, 316).

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    Os passeios de Dafla muitas vezes não tinham um destino, mas serviam de caminho para a próxima história. Assim acontece também com o pedestre, que se transforma em cidadão pela experiência de andar a pé. Mais que chegar a algum lugar, o importante é aprender com o caminho.

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