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Um autor antidiretor

Li Teatro, coletânea de ensaios do dramaturgo americano David Mamet lançada recentemente no Brasil. O livro ficou, vá lá, famoso por defender de forma intransigente algumas ideias polêmicas. Uma delas é que diretores de teatro são, para encurtar a história, inúteis. Segundo Mamet, uma peça depende de apenas três elementos para ser realizada: autor, atores […]

Por rafaelteixeira
Atualizado em 25 fev 2017, 18h30 - Publicado em 22 out 2014, 19h09

Li Teatro, coletânea de ensaios do dramaturgo americano David Mamet lançada recentemente no Brasil. O livro ficou, vá lá, famoso por defender de forma intransigente algumas ideias polêmicas. Uma delas é que diretores de teatro são, para encurtar a história, inúteis. Segundo Mamet, uma peça depende de apenas três elementos para ser realizada: autor, atores e plateia (e a sensação que eu tive às vezes foi de que talvez desse para excluir esta última). Diz ele que, com um texto em mãos, os atores são capazes de fazer seu trabalho muito melhor do que fariam com a interferência de um diretor.

É uma tese ousada, ainda mais vinda de quem vem. Embora tenha excelentes peças no currículo de autor, como Oleanna e American Buffalo, Mamet, como se sabe, também dirige. Talvez se dedique mais à função no cinema do que no teatro e não sei se ainda tem dirigido tanto nos últimos anos. Seja como for, todas as montagens de suas peças, salvo engano, têm um diretor à frente. Mas, mesmo isso desconsiderado, suas afirmações a respeito são, na melhor hipótese, excessivamente generalizantes. Na pior, são apenas tolas, mesmo.

Mamet escreve bem e suas opiniões têm em si aquele charme de quem contraria o senso comum. Assim, alguns leitores podem se encantar com seus argumentos. Mas qualquer pessoa que já tenha visto meia dúzia de peças com atenção sabe da importância do diretor. Não se trata de louvá-los como gênios, indiscriminadamente. O que não dá é para considerar todos dispensáveis. Mamet diz que qualquer montagem fica de pé sem um diretor. Isso pode até ser verdade em alguns casos. Mas dá para levantar, por exemplo, um grande musical sem alguém comandando o processo? Mesmo espetáculos, digamos, convencionais se beneficiam de um diretor. Ou Ziembinski não contribuiu decisivamente dando forma aos três planos de ação de Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, em 1943?

Parece-me que o equívoco de Mamet está em aplicar à sua tese a ideia de necessidade. Explico. Um grupo de excelentes instrumentistas com partituras de uma composição estupenda pode produzir música de qualidade? Claro que pode. É necessário um maestro? Claro que não. Mas alguém seria capaz de negar que, sob uma batuta competente, esse mesmo grupo poderia fazer algo muito melhor? Nas mãos de um bom diretor, montagens ganham ritmo, adquirem unidade estética e conceitual, têm suas partes individuais equalizadas em prol do todo. Se isso é inútil, eu mesmo sou um diretor de teatro.

Há outras ideias explosivas (Mamet as chama de “heréticas”) em Teatro. O autor diz, por exemplo, que o famoso Método, inspirado pelas formulações de Stanislavsky e ainda hoje uma referência para muitos atores, é uma bobagem. Que ensaios são essencialmente desnecessários e só servem para alimentar o ego dos envolvidos. É de uma ranhetice até divertida e funciona como um exercício intelectual, nem que seja para discordar. Mas, ao fim da leitura, fica a impressão de que as opiniões de Mamet é que são uma bobagem desnecessária cuja única serventia é alimentar seu ego.

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