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Por Rita Fernandes, jornalista
Um olhar sobre a cultura e o carnaval carioca
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O samba é meu dom

Com o controle da pandemia, as rodas de samba estão de volta às praças e ruas da cidade, como Moça Prosa, Awerê, Samba na Praça e Gloriosa.

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Atualizado em 19 mar 2022, 09h40 - Publicado em 19 mar 2022, 06h00

O samba, de fato, é o dom dessa cidade. Não existe nada mais carioca que as rodas de samba nas praças. Agora, com a liberação o uso de máscaras, depois de quase dois anos de pandemia elas voltam a ocupar com força os espaços da cidade, em diversos bairros, e trazendo muitas opções.

O roteiro é imenso, mas aqui vão algumas sugestões só para dar a partida. A primeira é começar hoje, sábado, pela roda da Moça Prosa. A partir das 17h, as moças fazem uma nova ocupação na Sacadura Cabral, 73, em frente ao Largo de São Francisco da Prainha, lugar de origem do grupo. O samba do Moça Prosa começou há dez anos, na Pedra do Sal, ali ao lado. Mas, por causa do crescimento do público, as meninas precisaram se mudar para o Largo da Prainha. Os dois anos de ausência da rua, imposta pela pandemia, acabaram reconfigurando a ocupação da praça, a onde foram chegando bares e outras manifestações culturais.

Recomendo a ida ao samba do Moça Prosa hoje não apenas para curtir uma roda de samba que é de primeira, mas também para apoiar o trabalho das meninas que têm uma história importante no movimento de afirmação da mulher negra e do samba. Além da música, que corre até 23h, haverá também no local as barraquinhas de artesanato, moda, gastronomia, literatura e bebidinhas para atender todo o público, o que garante a renda para a realização do trabalho.

Recomendo a ida ao samba do Moça Prosa não apenas para curtir uma roda de samba de primeira, mas também para apoiar o trabalho das meninas.
Recomendo a ida ao samba do Moça Prosa não apenas para curtir uma roda de samba de primeira, mas também para apoiar o trabalho das meninas. (Carolina Merat/Divulgação)

Fabiola Machado, cantora do grupo, diz que os dois anos de ausência no local acabaram trazendo uma reconfiguração da ocupação de um território que vem sendo constituído por diversas representações, especialmente do movimento de afirmação da cultura negra. “Sempre fomos evento de rua e optamos por não fazer nada durante a pandemia. Quando decidimos voltar, encontramos uma nova reconfiguração e que nos trouxe alguns problemas. Mas vamos seguir fazendo o samba ali pertinho, no terreno em frente, cedido pela prefeitura, para que a gente não perca o vínculo com o nosso lugar”, diz.

Fabíola também faz parte de outra roda importante na cidade que está retornando, o Awerê, tema de uma das minhas primeiras colunas aqui. A próxima vai ser no dia 27 de março, a partir da 16h, no Quintal de Madureira, na Estrada da Portela, 563. Lugar de muito axé, muito especial, que volta a fazer sua roda de samba uma vez por mês. A próxima traz o tema “O Malandro na Praça outra Vez”.

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“Vamos pedir licença ao povo de rua para usar esse lugar. Teremos todo um ambiente com a cara da malandragem, dos curandeiros que viveram nas ruas do Rio. Temos que pedir licença a eles, garantindo um bom retorno. O Rio é rua ”, faz questão de ressaltar.

Sob o comando de Paulão 7 Cordas, a roda conta com canjas surpresas e com a feira gastronômica e de artesanatos no entorno.
Sob o comando de Paulão 7 Cordas, a roda conta com canjas surpresas e com a feira gastronômica e de artesanatos no entorno. (./Divulgação)

Por outras bandas, amanhã, domingo, é a vez da Gloriosa Roda de Samba, na Feira da Glória, a partir de 15h. Sob o comando de Paulão 7 Cordas, também retornou recentemente depois de dois anos de ausência, arrebatando um público de mil pessoas, sempre no terceiro domingo do mês. Além dos músicos, a roda conta com canjas surpresas e muito especiais, e com a feira gastronômica e de artesanatos no entorno. A Gloriosa também encontrou novas ocupações quando pode voltar do período pandêmico, e acabou adotando a praça para firmar sua presença no local.

Em Botafogo, na Praça Mauro Duarte, hoje tem samba em homenagem ao grande compositor. O projeto Samba da Praça apresenta choros e sambas de vários de raiz, a partir de 16h até as 21h. No entorno, há várias opções de bares com comidinhas e bebidas.

A cada primeiro domingo do mês tem o Samba na Praça da Ribeira, na Ilha do Governador.
A cada primeiro domingo do mês, tem o Samba na Praça da Ribeira, na Ilha do Governador. (Divulgação/Divulgação)

Do outro lado da cidade, no dia 1 de abril e depois a cada primeiro domingo do mês, tem o Samba na Praça da Ribeira, na Ilha do Governador. O projeto foi criado pelo bloco Batuke de Batom, um dos maiores do bairro, sob o comando de Catinha Coelho, em 2016, e também foi interrompido pela pandemia. Agora voltou com força total, pelos acordes da roda de samba Ratatuia Pandeco, que convida as cantoras Maryzellia e Jack Rocha.

“O público sentia muita falta do projeto por causa da alegria que transmite e que estamos precisamos tanto, depois de dois anos da Covid-19 e também por causa do cancelamento do carnaval. No Samba na Praça todo mundo vai poder suprir um pouco dessa falta, com muita empolgação”, diz Catinha.

Para ajudar esse movimento cultural tão importante do Rio, as rodas de samba de rua estão resguardadas pelo Decreto 49.709 de 2021 da Prefeitura do Rio, que institui o programa de desenvolvimento e salvaguarda da Rede Carioca de Rodas de Samba, que reúne 95 grupos de samba, garantindo a ocupação das rodas tradicionais em seus locais de origem.

Seja onde for, o melhor de tudo é que as rodas de samba nas ruas e praças são locais muito democráticos, de extrema igualdade e muita alegria. E, acima de tudo, de resistência cultural que faz dessa cidade a maravilha que ela é.

Rita Fernandes é jornalista, escritora, presidente da Sebastiana, pesquisadora de cultura e carnaval.

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