Perplexidades de fim de ano: para onde vai a educação?
Precisamos falar sobre temas como falta de investimentos, leilão de escolas públicas para iniciativa privada e chegada da Inteligência Artificial
Quero dividir com todo mundo questões da educação das crianças e jovens brasileiros, da Educação Fundamental à Universidade, que me causaram impacto.
Nem sei por onde começar. A educação tem sido tão sovada, tão desprezada, tão deixada de lado que parece que nos habituamos. E até dá preguiça de fazer as mesmas queixas, as mesmas reclamações. A gente reclama aqui e ali, pontualmente, sem insistir que o todo vai mal. A começar pela situação crônica da falta de investimento. Das escolas elementares às universidades públicas, há décadas existe a deterioração da infraestrutura, o básico do funcionamento.
Neste fim de ano lemos no jornais a situação de penúria dramática da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sem luz e sem água por falta de pagamento. E mais ainda: como é proprietária de prédios antigos tombados por seu valor histórico, vê o patrimônio ruir, o que significa que nossa memória se dissolve. Mas me parece que só ficam indignados aqueles que reconhecem a tragédia que é perder uma instituição educacional da qualidade e excelência da UFRJ. E ela é apenas uma das universidades em situação de calamidade.
As escolas públicas, o pilar fundamental para o futuro de um país, também se deterioram. E falo aqui apenas das questões infraestruturais. As questões das necessidades de aprendizagem para o novo milênio ou para a nova era – inaugurada pela chegada das tecnologias digitais – precisam ser abordadas com urgência: Quem é o aluno atual? Qual é a expectativa dele em relação à escola? E qual é a expectativa da sociedade para ele? Qual é o projeto de nação que o país tem?
Lembro aqui o projeto das escolas cívico-militares, inventado com uma mentalidade pré-tecnológica, num modelo de escola para formar pessoas sem questionamentos, cegamente obedientes. Dá pena pensar que essas pessoas vão viver um século em que exatamente precisam aprender a questionar, a resolver problemas da vida real, desafios que ainda nem imaginamos quais serão. É um desrespeito às novas gerações.
O leilão de escolas públicas para entidades privadas também deixa má lembrança. Numa visão de educação (e de escola) atrasada, medíocre, em que tanto faz quem educa, o governo abdica de liderar a formação dos seus cidadãos – aqueles que vão construir o desenvolvimento do país no novo milênio. Quem não é educador continua com um arquétipo de escola cheia de salas de aula e um professor na frente a “dar matéria”. Façam-me o favor de refletir: escola não é mais assim! É outra coisa. Escola é o lugar de aprender a pensar, aprender a questionar, aprender a resolver desafios da vida. São discussões antigas, desgastantes, e a chegada da tecnologia digital não foi o suficiente para mudar as mentalidades. O arquétipo engoliu a tecnologia.
Agora chegou a Inteligência Artificial (IA), evento grave na vida da humanidade (e portanto da escola), cuja consequência para a educação de pessoas tem que ser objeto de reflexão. É preciso pensar que tipo de formação será necessária para as novas gerações numa sociedade que se transforma numa rapidez tão grande que é difícil para humanos se adaptarem. Como se faz para formar pessoas para a incerteza? Tomara que exista um grupo oficial pensando sobre isso.
Voltarei a falar de funcionamento e papel da escola neste futuro incerto, de IA e de qual será a educação necessária para este tempo.
Resumi minhas angústias do ano que passou – educação sem investimento, educação escolar é atribuição do Estado e a chegada da Inteligência Artificial – e desejo que todos participem dessas reflexões e acreditem, como eu, que a educação é fundamental para o desenvolvimento do país.
Que nossas crianças e jovens tenham um próximo ano tranquilo e que suas escolas ofereçam ambientes interessantes.