Muito além do senso comum: a importância do conhecimento
Paira no mundo certa tendência a desprezar o conhecimento, como se o saber não tivesse mais importância na vida das pessoas
Os educadores passam por um momento difícil, não apenas pelas reivindicações justas que fazem por reconhecimento em todos os níveis, mas também porque paira no mundo certa tendência a desprezar o conhecimento. Como se o saber não tivesse mais importância, como se a escola não fosse fundamental na vida das pessoas.
Li o resultado de uma pesquisa na semana passada que aponta que 50% dos entrevistados acreditam que a Terra é plana. Um espanto porque, afinal, grande parte dos participantes da enquete deve ter cursado, pelo menos, alguns anos de escola. No entanto, quando interrogados, respondem com o que parece ser sua crença remota. É assim com o caso da Terra plana e também com outra muito comum, a crendice de que bolo quente faz mal, o que não é verdade. Alunos cursam não sei quantos anos de escola e voltam ao conhecimento de senso comum. É uma boa linha de pesquisa sobre o ensino escolar: quando ou o quanto os alunos desistem das crenças de senso comum e aderem ao conhecimento científico. Se não acontece, o que houve? Foi a escola que não convenceu? É o mundo que está fazendo um complô contra o conhecimento?
Neste terceiro milênio nos deparamos com a invenção absurda de uma ‘verdade alternativa’. Absolutamente não existe uma verdade alternativa. Existe o conhecimento, que é uma verdade, até prova em contrário. Não se pode afirmar que o café queima mas não está quente, que o gelo não é gelado, que as pessoas não vieram mas o evento está cheio de gente. E quanto à forma do planeta, sabe-se, desde a Grécia Antiga, que a Terra é redonda.
Nossa educação tem sido muito desprezada e maltratada. Sua valorização pela sociedade implica o desenvolvimento de uma nova mentalidade junto com a comunidade a que as escolas pertencem. O envolvimento das famílias na escola pode ser feito com propostas de atividades culturais para expandir o conceito de educação escolar e ampliar a significação da escola para todos.
Educar crianças e jovens neste momento de transição entre eras, em que a tecnologia digital traz mudanças importantes em intervalos de tempo cada vez menores, demanda uma mudança de foco que não pode estar mais apenas nas lições do professor e em cada aluno centrado na sua realização individual. É preciso abraçar a cooperação, a colaboração e a solidariedade e trazer a discussão e os debates de problemas reais para que os alunos realizem uma aprendizagem intercultural, interdisciplinar e ecológica. As aulas individuais dos professores dão lugar à colaboração entre eles, numa transformação da “grade curricular” para temas abrangentes de acordo com as necessidades e interesse dos alunos.
As escolas são instituições importantes e precisam ser protegidas. É nelaa que as crianças são acolhidas e podem exercer com liberdade sua capacidade de pensar sobre o mundo e sobre o acervo de conhecimento construído pela humanidade.
Os modelos de escola não precisam ser universais, isto é, não precisam ser todos iguais. Podem e devem ser reimaginados, da arquitetura, espaços, horários, grupos de estudantes com diversos critérios até a consciência de que são parte essencial do entorno em que estão instaladas. A educação ocorre principalmente nas escolas, mas é preciso acolher e expandir as oportunidades educacionais em todos os lugares para todos.
Universal é o papel da escola no desenvolvimento da capacidade de pensar das crianças e jovens. O que ajuda a pensar são problemas reais próximos das crianças e que elas devem discutir e pesquisar para que apontem soluções. Os livros, computadores e celulares servem de fonte de pesquisa. O professor mantem e amplia seu papel indispensável de orientar a pesquisa, ajudar nas buscas e apoiar os grupos na busca das soluções.
Exercer a capacidade de pensar e produzir conhecimento trouxe grandes avanços para a humanidade. É preciso continuar pensando e refletindo para que através do conhecimento se criem relações solidárias entre as pessoas e delas com os outros seres vivos, cuidando de proteger o equilíbrio do sistema planetário de que todos somos parte.