Com a chegada do coronavírus, viramos especialistas no assunto. Sabemos os países onde ele foi detectado, quantas pessoas estão infectadas, se há mortes; discutimos o tempo de duração do surto, se vai continuar a se dispersar pelo mundo, se os cientistas conseguirão fabricar uma vacina ou descobrir uma forma de tratamento. Não se fala de outro tema. Esquecemos da dengue, da zika, da febre amarela, do sarampo, da nossa água contaminada com geosmina e esgoto, e por aí vai.
Os adultos estão preocupados, com razão, com as incertezas de comportamento do COVID19, mas é preciso ter objetividade e não amedrontar as crianças, sempre atentas ao que se passa à sua volta e cuja emoção reflete muito a das pessoas que cuidam delas. Podem estar impressionadas com o alarde a que assistem, que tem mais intensidade do que os fatos e as informações dos órgãos públicos. Pode parecer que as crianças não ligam, porque não falam abertamente, mas certamente pensam no assunto.
Molly Gardner, psicóloga do Nationwide Children’s’s Hospital, em Ohio, aconselha o adulto a estar bem informado, manter- se objetivo e sem ansiedade para conversar com as crianças e os jovens. Melhor usar a franqueza, sem fantasiar, respeitando a faixa de idade em que estão.
Os pais sabem qual é a melhor maneira de abordar o assunto com seus filhos. Existem crianças que podem receber informação e não se sentem inseguras. Já outras preferem não saber porque ficam ansiosas.
Os adolescentes, provavelmente, têm informação sobre o vírus nas redes sociais e talvez se espantem com a diferença entre a informação fornecida pela instituição pública responsável por acompanhar o vírus e o bombardeio de notícias sobre o assunto. O Ministério da Saúde anuncia que não há motivo para pânico, que para prevenir é recomendado lavar as mãos com frequência e evitar tocar no próprio rosto ou no dos outros, caso considere que há algum risco de contaminação. As máscaras são desnecessárias, a vida pode fluir normalmente e os contaminados são uma faixa de pessoas em situação de saúde precária, em geral, as mais velhas.
É bom conversar com as crianças para esclarecer suas dúvidas e tentar saber o que já sabem (ou acham que sabem) e como interpretam as informações. A criança precisa se sentir segura de que tudo será feito para que todos permaneçam saudáveis, que cientistas do mundo todo estão pesquisando soluções para encontrar a cura e para tratar as pessoas que estão doentes.
Talvez fiquem mais tranquilas se souberem que podem ter algum controle sobre a situação, como criar o hábito de lavar as mãos com frequência, da maneira que higieniza mais, e cobrir a tosse e os espirros para evitar contagiar pessoas ou ser contagiado por elas.
A medida da ansiedade das crianças passa pelo tamanho da ansiedade dos adultos à sua volta. Vamos cuidar para não avultar os fatos, lembrando que o sarampo, a zika, a água contaminada e outros problemas também ameaçam a população e conseguimos conviver com os riscos.