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Namorados para sempre

Para mim, a melhor fase de uma história de amor é a do namoro. Chego a sonhar com uma vida em que eu passasse de um namoro a outro sem ter de viver os lances que nos põem diante de duas opções: um final odioso ou o casamento. Ambos traumáticos. Esse comentário foi feito pelo […]

Por Daniela Pessoa Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 25 fev 2017, 17h28 - Publicado em 25 jun 2016, 01h00
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Para mim, a melhor fase de uma história de amor é a do namoro. Chego a sonhar com uma vida em que eu passasse de um namoro a outro sem ter de viver os lances que nos põem diante de duas opções: um final odioso ou o casamento. Ambos traumáticos.

Esse comentário foi feito pelo Nestor, no encontro casual que tivemos no Café Severino.

— Uma vida assim dispensaria também os divórcios custosos e todos os desprazeres que acompanham a relação monótona da vida em comum.

— E pensa em continuar dando um filho a cada namorada?

— Quem falou em filhos? — retrucou o Nestor, a expressão de surpresa, como se perguntasse sobre marcianos.

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— Ué, você consegue pensar numa vida amorosa e feliz sem pensar em filhos?

Nestor deu um amplo sorriso e baixou a voz:

— Vida amorosa com harmonia, em clima de permanente namoro, não só dispensa os filhos como só é possível de alcançar sem eles. Você conhece a minha opinião sobre o assunto: “Sejam felizes até que os filhos os separem”. Foram eles, e mais a maldita rotina da vida em comum, que quase me levaram à falência com os três divórcios.

Para quem não o conhece, posso apresentar o Nestor com poucas palavras: 61 anos, casou-se três vezes e — como já contei acima — tem três filhos, um com cada uma de suas mulheres. Depois do terceiro divórcio, passou ao namoro constante.

— Deixa eu lhe contar um namoro inesquecível entre os muitos que tive e tenho — continuou ele. — Uma vez, há vinte anos mais ou menos, numa ponte aérea Rio-SP, o avião entrou numa área de assustadora turbulência. Uma bela comissária, que até então distribuía sorrisos, sentou-se apressadamente no assento vazio ao meu lado. E essa jovem, que estava ali para acalmar a todos, teve medo, tremeu da cabeça aos pés e segurou a minha mão. Reconheci que era uma cena emocionante e certamente rara.

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— E você?

— Lamentei que a viagem fosse tão curta! Já tocando a pista, ela me olhou com carinho e gratidão. E me beijou o rosto. Conversamos, trocamos os números dos nossos telefones e, já no dia seguinte, iniciamos um namoro, que durou um ano e foi a suprema felicidade da minha vida.

— Nossa! — exclamei eu —, e por que acabou?

— Ah, acabou porque ela teve de entregar o apartamento em que vivia e pediu para ficar morando comigo até que alugasse outro. Bem, com isso, em menos de um mês, o namoro foi para o vinagre, virou casamento. E os casamentos acabam, ao contrário dos namoros, que podem durar para sempre.

Eu ia contestar, dizer que isso não era uma regra geral e que os filhos…

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O papo foi interrompido pela chegada da Virgínia, a atual namorada do Nestor, que entrou esbaforida, queixando-se do trânsito. Não sei se foi impressão minha, mas achei que ela estava com uma barriguinha que parecia ser o início de uma gravidez. Aproveitei para me despedir e fui ao Shopping Leblon, onde entrei numa loja e comprei um presente para a minha namorada. Um namoro que já dura 37 anos e nos deu dois filhos maravilhosos. Espero que o Nestor ainda encontre, como eu encontrei, uma namorada para a vida toda.

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