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Manoel Carlos: a infância quando não era difícil ser feliz

Na crônica da semana em VEJA RIO, o autor de novelas especula sobre a pergunta "O que você quer ser quando crescer?"

Por Manoel Carlos
Atualizado em 9 jul 2018, 12h32 - Publicado em 9 jul 2018, 08h00
Leo Martins
(Leo Martins/Veja Rio)

Na minha geração, menino algum escapava da pergunta que os adultos faziam assim que deparavam com uma criança:

— O que você quer ser quando crescer?

Uma indagação a que respondíamos prontamente: “avia­dor”, “paraquedista”, “marinheiro”…

Fui criança numa época em que não era tão difícil ser feliz. Uma época em que os sonhos eram modestos e possíveis. E boa parte do tempo era vivida ao ar livre. Tive infância de quintal.

O que nos influenciava para que tivéssemos essas escolhas era a II Guerra Mundial, que esteve em curso de 1939 a 1945, anos que assinalam minha idade dos 6 aos 12 anos.

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Lembro-me de que uma das distrações mais comuns entre os meninos, nesse período, era o jogo Batalha Naval, um impresso em papel reticulado, em que dois adversários travam uma guerra no oceano, disparando tiros hipotéticos. Fiquei sabendo que ainda existem esses impressos e que o jogo continua um exercício fascinante para a imaginação.

A razão desse delírio infantil ficava por conta do clima que reinava em todo o mundo e que nos chegava através do rádio. Mas o que mais nos motivava e nos levava a sonhar com uma heroica atividade militar eram os jornais da tela, exibidos nos cinemas como suplemento dos filmes de ficção, estes muitas vezes também ambientados nesse período de conflito. Os bonitões da época, como Clark Gable, James Stewart, Robert Taylor e Tyrone Power, entre muitos, ficavam ainda mais bonitões de uniforme militar. As mocinhas suspiravam. E, por essa razão, quando a pergunta era dirigida a uma delas, soava normal a resposta:

— Quero ser enfermeira.

E fechavam os olhinhos, tão lindas, já imaginando Clark Gable em seus braços, como ferido de guerra, sorrindo em meio à dor, heroico e abnegado. Minhas duas irmãs estavam entre essas sonhadoras.

Para a geração dos meus dois primeiros filhos, o sonho foi diferente, já que a guerra que lavrava no mundo era a fria, de motivação política e ideológica, que não chegava às crianças. A televisão estava em seus dez, quinze anos de vida, com informações nem sempre acessíveis às crianças. O sonho que prevalecia era ser cosmonauta, inspirado pelo militar soviético Yuri Gagarin, o primeiro homem a viajar pelo espaço, em 1961.

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Hoje, passados tantos anos desses momentos de felicidade, penso em Gagarin com simpatia. Estive perto dele quando da visita que fez a São Paulo, ainda em 1961. Era carismático, como já sabíamos pelas fotos. O que não sabíamos é que era de pequena estatura, algo que não se permite em heróis da ficção.

Dessa viagem maravilhosa de Gagarin, o que mais marcou foi ele ter revelado ao cruzar o espaço: “A Terra é azul”. Essa frase já foi desmentida e confirmada, mas lembro que fez brilhar os olhos dos meus filhos. Gagarin era também um poeta. Um poeta que as crianças compreendiam.

Encerrando. Meu pai, um dia, depois de ouvir as respostas repetidas por vários meninos, perguntou:

— Ninguém quer ser um cientista como Oswaldo Cruz, não?

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