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Por Luisa Mascarenhas, psicóloga e escritora
Autora do livro 'A Vida Virtual Como Ela é'
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E você, vai fazer o que no Carnaval?

Reflexões e desabafos de uma carioca que está falhando na folia

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Atualizado em 20 fev 2020, 14h57 - Publicado em 20 fev 2020, 11h46

Para mim, foi anteontem o fim do ano, com toda a correria do Natal e as emoções da virada. Quando finalmente desmonto a árvore, troco os presentes, compro o material escolar e começo as providências de início de ano, dou de cara com ele. Ele, o maior e mais cobiçado feriado do ano. E a pergunta que escuto quase diariamente é: “Vai fazer o que no Carnaval?”.

Pelo visto eu tinha que estar fazendo alguma coisa. Todo ano é isso. As pessoas perguntando e eu quase sempre não tendo a menor ideia do que vou fazer, e altamente inclinada a não fazer nada. Nada, não, peralá. Não fazer nada é algo que não existe. A pessoa pode estar olhando para o teto que já é fazer alguma coisa. Mas digo “nada” no sentido de tudo que é valorizado nesse período. É grave não fazer nada?!

Vejo que quem viaja tem uma espécie de habeas corpus. Não vai participar da folia “porque vai viajar”. Impressionante como viajar tem prestígio. Você pode viajar para um moquifo, mas viajou, fez “alguma coisa”. Quem viaja ganha imunidade, está livre de tudo, até de ter que pular Carnaval. A não ser que a pessoa viaje para pular Carnaval em outra cidade. Mas vamos simplificar e pensar que ela optou por um destino não carnavalesco. Está liberada. Afinal de contas, foi viajar. Muitos viajantes assumem que vão “fugir” do Carnaval. Comentário comum e quase sempre recebido com um riso de quem compreende a fuga. Isso prova que todos sabem que há uma roubada embutida na folia.

Deixo claro que não sou anti-Carnaval. Longe de mim. Se as pessoas querem acordar sete da matina para tomar cerveja, se aglomerar, passar calor e arriscar ter o celular roubado, quem sou eu pra julgar…

Brincadeira. Eu gosto do espírito do Carnaval. Adoro. Acho lúdico, acho sinal de que os adultos não perderam a capacidade de brincar e fantasiar. É lindo. Mas é quente, é tumulto, é confusão para ir e vir, é difícil demais achar lugar pra fazer xixi. Tá certo, tô falando de Carnaval de rua. Mas acho que o calor é meio geral e uma certa dose de perrengue quase sempre também. Então fico dividida entre achar que pular Carnaval é sinal de saúde mental ou de insanidade temporária.

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Seja como for, admiro a disposição de quem se joga intensamente na folia. Nunca tive essa energia toda. E nem essa capacidade de beber tanto. E nem essa paciência toda de comprar mil apetrechos e fantasias. E nem essa empolgação para ficar me maquiando e fazendo cada detalhe do “look”. Um ou dois dias acho divertido (muitas vezes até bem divertido…). Mais do que isso acho uma canseira.

Só que todo ano é essa história, essa culpinha de ser uma brasileira, uma carioca, sem o devido espírito folião. Eu tento ser madura, serena, superior, achar que não preciso cumprir essa expectativa social, que afinal de contas cada um faz o que quer, do jeito que quer. Se quer ficar em casa, quieto, ou se quer fazer programas paralelos, como praia, cinema, museu, restaurante, que que tem? Cada um sabe de si, é ou não é? Tudo certo, se não fosse eu pensar tudo isso e mesmo assim sentir essa culpinha aí, essa sensação de que estou sendo indiferente a esse marco cultural.

Minhas últimas tentativas de “pular” Carnaval não foram, digamos, grande coisa. Talvez por isso esse desânimo. Vamos admitir, a euforia está sempre a um passo da angústia. Tudo depende da dose de álcool, da qualidade das companhias e do tempo e forma como você rompeu seu último relacionamento.

Se você se emburacou na fossa e agora está em ascendência na curva da solteirice (considerando o ápice aquele ponto em que a pessoa está se sentindo plena e cheia de alegria, tesão e amor próprio), dependendo do ponto em que você se encontra, o Carnaval pode ser uma catarse maravilhosa e inesquecível, e te levar ainda mais para o alto da curva. Pode ser até, quem sabe, o auge. Mas se você está no início da curva de ascensão ou em seu declínio, cuidado! O Carnaval é um risco. Pode gerar efeitos adversos bem desagradáveis. No meio da multidão, bate vazio, tristeza, solidão, mau humor e pinimba dos amigos que botaram pilha e estão curtindo altamente bêbados e cansativos, enquanto você só pensa em chegar em casa.

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O fato é que o Carnaval é um período em que muita gente casada queria estar solteira e muita gente solteira queria estar casada. Sei lá, ando desconfiada demais. Descrente de muita gente que se diz animada. Acho que o Instagram tirou um pouco da genuinidade das pessoas. Ou me deixou com pé atrás.

Fui uma vez para um bloco com uma amiga, que levou outra amiga. Este ser humano passou o bloco inteiroooo reclamando de tudo e com a cara mais amarrada do universo. Depois postou mil fotos com legendas empolgadinhas. Fica difícil acreditar em qualquer coisa.

Calma, gente. Não tô aqui para desanimar ninguém. Eu apoio total quem tá na onda carnavalesca. Até curto e comento, prometo. Sou simpatizante. Inclusive bateu agora uma súbita vontade de ir a algum bloco. Opa, passou. Ficou só aquela culpinha que falei, de não ser uma boa foliona. Mas, esse ano, prefiro continuar com essa culpa, no ar condicionado, tranquila.

E você, vai fazer o que no Carnaval?

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Luisa Mascarenhas é psicóloga, escritora e roteirista. Criadora da página de humor Pirei Online (no Facebook e Instagram) e autora do livro “A Vida Virtual Como Ela É”.

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