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Lu Lacerda

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Jornalista apaixonada pelo Rio

Teatro, por Claudia Chaves: “Ruth & Léa” 

Um encontro emocionante entre o passado e o presente da dramaturgia negra brasileira, conduzido com maestria pelo diretor Luiz Antonio Pilar

Por lu.lacerda
Atualizado em 20 jun 2025, 12h15 - Publicado em 20 jun 2025, 09h00
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 (Fernando Machado/Divulgação)
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Existe um passado apagado no Brasil: o Descobrimento, a Independência, a Abolição, as ditas “revoluções”. No entanto,  é um passado que, como um fantasma meio zumbi, exige coragem para ser encarado, pois é incapaz de morrer. Os artistas negros, especialmente nas artes cênicas, vêm de longe — talentos antes isolados, mas cujos legados permanecem vivos até hoje, surpreendendo-nos com a seguinte pergunta: como não percebemos antes?

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(Fernando Machado/Divulgação)

Assim, a peça “Ruth & Léa” é um encontro emocionante entre o passado e o presente da dramaturgia negra brasileira, conduzido com inventividade, talento e total maestria pelo diretor Luiz Antonio Pilar. Pilar, um verdadeiro artesão das imagens e da arte da representação, constrói uma narrativa em que passado, presente, depoimentos e atuação das atrizes se entrelaçam sem dramas excessivos ou exageros, dando vida à história que não foi contada.

O texto, sensível e certeiro, assinado por Dione Carlos, mergulha nas memórias de Ruth de Souza e Léa Garcia com poesia, afeto e dignidade. Mais do que uma biografia dramatizada, o espetáculo é um tributo vivo e pulsante à resistência, ao talento e à representatividade de duas artistas que abriram caminhos em meio a tantos silêncios históricos.

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(Fernando Machado/Divulgação)
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As atrizes Bárbara Reis e Ivy Souza entregam atuações de profunda humanidade, construindo em cena uma conexão que ultrapassa o tempo e os personagens. A química entre elas emociona e sustenta a narrativa com delicadeza e força. Elas interpretam não apenas Ruth e Léa, mas também uma linhagem inteira de mulheres negras que marcaram a arte brasileira. A construção das personagens é tão verdadeira que o público se sente parte do processo criativo, íntimo e simbólico. É uma entrega que não grita, mas reverbera fundo, como um sussurro cheio de história.

A direção de arte situa a ação num estúdio cinematográfico, onde elementos técnicos e de vida se misturam. Os figurinos de Rute Alves, inspirados na obra do multifacetado Emanoel Araújo — escultor, desenhista, ilustrador, figurinista, gravurista, cenógrafo, pintor, curador e museólogo — evocam ancestralidade e sofisticação. A abertura, com vestidos deslumbrantes em branco e vermelho, evolui ao longo da peça com lenços, objetos e roupas do cotidiano que acompanham as falas das personagens. Essa costura simbólica, de grande precisão, remete ao tempo de Ruth e Léa, quando imperavam os grandes designers e a alfaiataria impecável. Ponto para Rute.

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(Fernando Machado/Divulgação)
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Pilar, no entanto, não se compromete apenas com uma causa – seu compromisso é com a memória coletiva, que não se resume a Ruth e Léa. Figuras históricas, como Abdias do Nascimento, Mercedes Baptista e Aguinaldo Camargo, retornam ao presente em fotos, filmes, vozes e textos. A peça ensina sem ser didática, sem recorrer à dor como ferramenta principal. A inclusão do público ocorre pela identificação, pelo reconhecimento e pela admiração — transformando espectadores em descobridores, com os olhos voltados para o futuro.

Serviço:

Teatro Glaucio Gil, Copacabana (Praça Cardeal Arcoverde s/nº)

Até 28 de julho, sábado a segunda, às 20h. 
Venda online: https://funarj.eleventickets.com/#!/apresentacao/c13f2b75355fd23e8ccddfbb09225615687cf7b5

Claudia Chaves
(Arquivo/Arquivo pessoal)
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