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Lu Lacerda

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Jornalista apaixonada pelo Rio

Próprio Punho, por André Perecmanis: “O gosto que o 11 de setembro deixou”

"Jamais imaginei que algum dia estaríamos tão perto de nova ruptura institucional"

Por lu.lacerda
13 set 2025, 07h00
andre
 (./Divulgação)
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Nasci quando a Ditadura Militar já dava seus últimos suspiros. Durante a minha infância, presenciei o Movimento Diretas Já e vi a decepção dos meus familiares com o adiamento do sonho. No início da minha adolescência, acompanhei meu pai em comícios, assisti acalorados debates na televisão e desenvolvi o interesse pela política. Desde muito novo, não colocava os pés na rua sem ter lido o jornal inteiro. Perdi a conta de quantas vezes minha mãe me apressava para sair de casa e ir para a escola e eu, impassível, seguia com meus olhos fixos nas notícias.

Nunca fui um desses jovens indecisos quanto ao curso universitário que desejava fazer. Sempre soube que a carreira jurídica seria o caminho a ser seguido. Minha única dúvida, no entanto, residia na escolha entre advogar na área trabalhista (para, pensava eu, defender o proletariado) ou tentar me tornar um Promotor de Justiça (para, acreditava eu, acabar com a impunidade).

Quis o destino que, no início do segundo ano de faculdade, um professor querido me indicasse um estágio em um escritório de advocacia criminal, onde, contratado, fiquei por 13 anos, mais defendendo pessoas acusadas do cometimento de crimes do que acusando.

Durante todos esses anos, no entanto, aprendi o valor das garantias constitucionais, do direito à presunção de inocência e à ampla defesa. Vi o quanto nossas ideias preconcebidas viciam nosso julgamento, colocando em risco a liberdade de tantos inocentes. Senti, estagiando e advogando, a força opressora de um Estado que pune muito, e seletivamente.

Mas acima de tudo, tive a confirmação do quão fundamental é a liberdade. Liberdade de ir, vir, ficar. Liberdade de pensamento e expressão. Liberdade de imprensa. Liberdade de crítica. Liberdade de reunião e associação. Liberdade de dizer sim e de dizer não. Liberdade de ser quem se deseja ser.

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Nunca pensei que nós, enquanto sociedade, permitiríamos que nossas liberdades fossem colocadas em risco novamente. Jamais imaginei que algum dia estaríamos tão perto de nova ruptura institucional, com a apropriação de nossa escolha democrática por pessoas e Poderes autoritários inconformados com a derrota nas urnas.

O julgamento concluído nessa quinta-feira, dia 11 de setembro de 2025, deixou em mim um gosto muito amargo, não pelo resultado final, mas por sua própria existência. Pensar que, depois de tudo o que vivemos não apenas durante a Ditadura Militar iniciada em 1964, como ainda durante a Pandemia – com milhares de vidas perdidas pela ação criminosa do Poder Público -, ainda haveria espaço para que tentassem solapar a nossa Democracia, anular nossa escolha e roubar nossa liberdade, é absolutamente desolador.

Que o tempo sirva para curar essa ferida.

Andre Perecmanis é advogado criminalista, professor de direito penal da PUC, da Escola da Magistratura do Rio, da Academia Brasileira de Direito Constitucional e do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis. 

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