Marie Bèndelac: O futuro do trabalho pede líderes mais humanos
O tema do maior congresso de RH da América Latina deste ano foi "Potencializando conexões": é preciso falar de gente

Estive em São Paulo na abertura do CONARH 2025, o maior congresso de RH da América Latina. O auditório estava lotado, vibrante, reunindo milhares de líderes, gestores e profissionais de recursos humanos. O tema deste ano, “Potencializando conexões”, já anunciava uma direção clara: não basta falar de tecnologia ou processos, é preciso falar de gente.
Falou-se de inteligência artificial, saúde emocional, diversidade e segurança psicológica. Mas no fim, a mensagem era única: sem confiança, sem cultura saudável e sem líderes emocionalmente maduros, toda inovação se torna vazia.
Como ex-executiva, empresária e mentora, sei o quanto é desafiador encontrar o equilíbrio entre performance e humanidade.
A Comunicação Não Violenta (CNV) é uma das ferramentas mais eficazes que conheço para essa transição: oferece ferramentas concretas para ser firme sem ser agressivo, corrigir sem humilhar e cobrar resultados sem adoecer pessoas.
Enquanto ouvia os painéis de abertura, me lembrei da minha própria trajetória no mundo corporativo. Como diretora em multinacional, vivi de perto a realidade de líderes que sabiam inspirar e extrair o melhor de suas equipes. Mas também convivi com aqueles que gritavam, silenciavam ou adoeciam pessoas em nome de resultados. E foi justamente desse contraste que nasceu minha missão atual: ajudar líderes a combinarem performance com humanidade.
O congresso deixou claro: o futuro do trabalho será moldado pela forma como conseguirmos integrar tecnologia e humanidade. A inteligência artificial, o uso estratégico de dados e a automação estão transformando a gestão de pessoas – mas sem cultura, sem confiança e sem líderes emocionalmente maduros, toda inovação se torna vazia.
A diversidade e a inclusão também tiveram espaço de protagonismo. Não apenas como discurso, mas como prática de negócios que sustenta reputação, engajamento e inovação.
Outro ponto que ecoou fortemente foi a saúde emocional. Burnout, ansiedade e a falta de segurança psicológica são hoje alguns dos maiores riscos psicossociais das organizações. Como garantir produtividade sem esgotar o ser humano por trás do crachá? É um desafio constante.
Não quero levar a pensar que toda responsabilidade deve ser das organizações. É claro que a cultura organizacional faz toda diferença, porém, muitos profissionais são os próprios « carrascos » e se cobram muito mais do que a própria empresa. Cada indivíduo tem a responsabilidade de se cuidar e colocar limites saudáveis para si e para os outros.
E a liderança? Mais do que nunca, foi lembrada como o eixo central dessa transformação. Liderar não é controlar. É inspirar, escutar, dar clareza de direção e ao mesmo tempo espaço para autonomia. É exercer autoridade sem autoritarismo.
Ao sair do congresso, senti que a mensagem central era inequívoca: o futuro não será feito apenas de máquinas, mas de conexões humanas que as máquinas jamais substituirão.
Como eu mencionei previamente, a Comunicação Não Violenta, que ensino a executivos nas empresas, aparece justamente como essa ponte: uma linguagem capaz de unir firmeza e empatia, clareza e respeito. Ferramenta simples, mas transformadora, para o líder que deseja resultados sustentáveis sem perder a alma do time.
O CONARH 2025 nos lembra que os próximos anos exigirão de nós não apenas competência técnica, mas coragem para mudar a forma de liderar. E essa coragem começa com uma escolha: ser o tipo de líder que deixa números ou o tipo de líder que deixa legado.
Para finalizar, gostaria de deixar algumas reflexões para CEOs, RHs e líderes:
• Sua empresa está preparada para usar tecnologia sem desumanizar as relações?
• Seus líderes conseguem equilibrar cobrança de resultados com reconhecimento e escuta genuína?
• Há segurança psicológica suficiente para que as pessoas se expressem sem medo?
• O discurso de diversidade já virou prática concreta e cotidiana?
• Qual será o legado da sua liderança: resultados que passam ou pessoas que florescem?
Boas reflexões e uma excelente semana!
