Marie Bèndelac: ela era do RH e foi assediada pela própria gestora
Parece absurdo, mas acontece mais do que imaginamos. O setor responsável por proteger as pessoas, às vezes se torna o epicentro da violência emocional

Parece absurdo, mas acontece mais do que imaginamos. O setor responsável por proteger as pessoas, às vezes se torna o epicentro da violência emocional.
Recebi o relato de uma profissional que, por meses, depois da mudança de liderança na cúpula da empresa, sofreu microagressões, exclusões e desvalorização orquestradas por sua líder direta. E o mais cruel: sem saber a quem recorrer. Afinal, como denunciar alguém que comanda a área encarregada de acolher denúncias?
Se esse tipo de história já é difícil de escutar, imagine agora saber que eu mesma vivi algo parecido.
Durante minha trajetória como executiva em uma multinacional, fui vítima de assédio moral por parte da então COO da América — uma mulher em posição de poder que usava a influência para manipular, silenciar e humilhar. O RH, inicialmente aberto ao diálogo, foi coagido e acabou se tornando conivente.
Foi uma das experiências mais dolorosas da minha carreira. Não apenas pelo que vivi, mas pelo silêncio institucional que legitimou o abuso. Quando eu entendi que eu não teria apoio da alta liderança — que era cega e manipulada — decidi sair.
O que poucos falam é que o assédio nem sempre grita. Às vezes, ele se disfarça de metas inalcançáveis. De reuniões das quais você é excluída. De ironias públicas. De silêncios estratégicos. De esvaziamento de funções.
E quando isso parte de mulheres contra mulheres, o tabu se aprofunda. Tememos reforçar estereótipos, enfraquecer pautas femininas. Mas é justamente porque queremos um ambiente corporativo mais ético que precisamos falar.
Assédio é assédio, mesmo quando vem com sorrisos ensaiados e discurso de empatia.
Se o RH quer ser um pilar de bem-estar, precisa também ser um espaço seguro para seus próprios profissionais. E isso só será possível quando a escuta for real, a coragem for coletiva e a ética não for seletiva.
E quando não temos a quem recorrer dentro da própria empresa, a solução está em buscar apoio de profissionais externos competentes e experientes. O silêncio precisa ser quebrado para não adoecermos.
Você já viveu ou está vivendo uma situação parecida, se sentindo desamparado, sem saber o que fazer nem a quem recorrer? Me mande seu relato no meu Instagram @mariebendelac. Ficarei feliz em te ouvir e trocar ideias sobre o assunto.
Vamos quebrar esse tabu!
Boa semana.
