Marie Bèndelac: dicas para lidar com pessoas que se “vitimizam”
Quem nunca se sentiu exausto ou impotente em uma situação ou relação? É humano ficar se lamentando e reclamando

“Não aguento mais!”, “Você nunca me ouve!”, “Você é muito egoísta, só pensa em você!”
Quem nunca se sentiu exausto ou impotente em uma situação ou relação? É humano ficar se lamentando e reclamando quando estamos insatisfeitos, sobretudo quando já engolimos muitos sapos e acreditamos ter tentado de tudo para resolver ou melhorar.
Contudo, isso pode ser também uma forma inconsciente de manipulação emocional — certas pessoas se colocam, frequentemente ou até sistematicamente, nessa posição, como tentativa de ver suas necessidades satisfeitas.
O psicólogo Stephen Karpman explica essa dinâmica tóxica nas relações, de forma brilhante e muito esclarecedora na sua teoria chamada “Triângulo Dramático de Karpman”.
O Triângulo Dramático de Karpman é um modelo psicológico que descreve a dinâmica de relacionamentos disfuncionais, caracterizado por três papéis: o Perseguidor, o Salvador e a Vítima.
Esse conhecimento foi um divisor de águas na minha vida, pois me ajudou a evitar muitos conflitos desnecessários e desgastantes. Até salvou o casamento de uma cliente que estava à beira de assinar o divórcio em 2019.
Nesse triângulo, o Perseguidor é quem critica, oprime ou agride; o Salvador é o que tenta ajudar e resgatar a Vítima, enquanto a Vítima se sente impotente e dependente.
A dinâmica funciona como um ciclo em que as pessoas frequentemente mudam de papéis, perpetuando conflitos e mal-entendidos. Para romper com essa dinâmica, é essencial que os envolvidos reconheçam seus papéis, assumam responsabilidades e busquem uma comunicação mais saudável e construtiva.
A Comunicação Não Violenta (CNV) pode ser uma solução poderosa nesse contexto.
Hoje, neste artigo, vou mostrar três formas práticas, utilizando elementos do meu Método CONECTA (CNV) para ajudar nesse tipo de interação.
1. Curiosidade e ouvir ativamente
Ao deparar com uma pessoa que se vitimiza, é crucial adotar uma postura de curiosidade. Pergunte sobre os sentimentos e as necessidades dela em vez de reagir com defensividade ou julgamento. Por exemplo, você pode dizer: “Eu percebo que você está se sentindo magoado. Poderia me contar mais sobre o que está acontecendo para que eu possa entender sua perspectiva?” Isso promove um ambiente de diálogo e pode desarmar a manipulação, pois a pessoa se sentirá ouvida e compreendida.
2. Não julgar e empatizar
Embora possa ser tentador julgar as ações da pessoa, a CNV nos ensina a observar sem criticar. Foque nos sentimentos e necessidades subjacentes. Use frases que expressem empatia, como: “Eu posso imaginar que deve ser difícil lidar com isso.” Isso não só valida o sentimento dela, mas também pode encorajá-la a explorar suas emoções de forma mais construtiva, ao invés de recorrer à vitimização e manipulação.
3. Checar e fazer transições
É importante verificar a compreensão do que foi compartilhado. Você pode fazer isso ao resumir o que a pessoa expressou e perguntar se está correto. Por exemplo: “Se eu entendi bem, você está se sentindo injustiçado em relação a essa situação, certo?” Isso não só ajuda a clarificar como também abre espaço para uma transição para uma conversa mais assertiva. Uma vez estabelecido o entendimento, dirija a conversa para soluções e ações efetivas, enfatizando a importância de responsabilidade mútua nas interações.
Lidar com pessoas que se vitimizam e utilizam a manipulação emocional pode ser desgastante, mas, com a aplicação de práticas da Comunicação Não Violenta, como as sugeridas acima, é possível estabelecer interações mais saudáveis e produtivas.
Usar os passos do Método CONECTA facilita a compreensão mútua e promove, também, um ambiente em que todos se sintam reconhecidos e respeitados.
Se você achar difícil aplicar os conceitos da CNV, ou se você observar que a comunicação empática não está ajudando a solucionar o problema com seu interlocutor e você se sente cada vez mais sugado ou frustrado na conversa, você pode estar lidando com uma pessoa muito disfuncional. Nesse caso, é recomendado procurar apoio de profissionais competentes.
Boa semana!
