Marie Bèndelac: como lidar com perfis dominantes sem brigar?
Perfis dominantes costumam ser assertivos, competitivos e, muitas vezes, impacientes com processos colaborativos

Em mais de 12 anos trabalhando com Comunicação Não Violenta (CNV) no universo corporativo, uma das queixas mais recorrentes que ouço de líderes e empresários é: “Como lidar com pessoas dominadoras sem perder a compostura — e, principalmente, sem perder a minha liderança?”
Perfis dominantes costumam ser assertivos, competitivos e, muitas vezes, impacientes com processos colaborativos. No dia a dia, podem atropelar ideias, interromper reuniões ou impor decisões sem escuta. À primeira vista, parecem difíceis de gerenciar, mas, quando compreendemos o que há por trás desse comportamento, tudo muda.
O que está por trás de um perfil dominante?
Segundo uma pesquisa da Harvard Business Review, líderes dominantes tendem a ter elevada autoconfiança e aversão à vulnerabilidade — o que os torna eficazes em decisões rápidas, mas muitas vezes ineficientes em relações interpessoais.
A Comunicação Não Violenta (CNV) nos convida a ir além da reação automática e buscar o que não está sendo dito: quais necessidades estão por trás do comportamento dominante? Normalmente, encontramos necessidades de segurança, reconhecimento, controle ou eficácia.
Ao escutar com empatia e responder com clareza e firmeza, é possível transformar relações de tensão em relações de confiança.
Caso real: do confronto à colaboração
Em 2021, fui chamada para fazer um teambuilding durante um dia, em um time de alta liderança onde o um dos diretores era conhecido como “trator” — ninguém ousava contrariá-lo. Durante nossa primeira sessão de mentoria em grupo, ele interrompeu três vezes a fala de outra diretora.
Na sequência, propus um exercício simples de escuta empática em duplas, com base na CNV: cada líder deveria ouvir atentamente seu par e parafrasear o que havia entendido da fala do outro antes de se expressar. Foi desconfortável no início, especialmente para ele.
Contudo, em poucas horas, o grupo passou a perceber o valor de uma escuta de qualidade e que o “trator” começou a frear. Quando se sentiu realmente ouvido, ele não precisou mais impor sua voz.
Como agir na prática com perfis dominantes
Mantenha a escuta empática, mas firme. Não ceda ao impulso de reagir com dureza. Diga algo como: “Quero muito ouvir você; vou pedir que espere eu concluir para que nossa troca seja mais produtiva.”
Traga clareza sobre os impactos. Dominantes nem sempre percebem o efeito que causam. Em vez de acusar, descreva fatos: “Quando você interrompe, as pessoas param de contribuir.”
Ofereça alternativas de ação, dê caminhos objetivos. “Se pudermos organizar melhor a ordem de fala, acredito que sua contribuição será ainda mais valorizada.”
Conecte a força dele ao objetivo do time. Perfis dominantes valorizam resultados. Mostre que a escuta e o respeito às ideias também impulsionam a performance coletiva.
Lidar com perfis dominantes não exige que você se torne submisso — e muito menos que entre no jogo da dominação. A Comunicação Não Violenta nos lembra que é possível ser firme sem ser agressivo, e empático sem ser passivo.
Empresas que adotam essa abordagem colhem resultados sólidos: segundo um estudo da McKinsey, líderes que desenvolvem inteligência emocional e habilidades de escuta aumentam em até 31% o engajamento das equipes.
Mais do que nunca, o mundo corporativo precisa de lideranças que saibam mediar, inspirar e transformar ambientes desafiadores em espaços de crescimento mútuo.
E a boa notícia? Isso pode (e deve) ser aprendido.
Se você deseja preparar sua liderança para lidar com perfis desafiadores sem abrir mão da ética, da autoridade e da alta performance, entre em contato conosco. Será um prazer caminhar ao lado de quem escolhe liderar com consciência e humanidade.
Boa semana!
