Marie Bèndelac: como gerenciar afetos, egos e negócio de família
Quando afeto e negócios se confundem: o dilema das mulheres que comandam empresas familiares
Recentemente, fui procurada por uma mulher empresária que precisava organizar sua sucessão. Fundadora de uma empresa há mais de 30 anos, construiu uma história de sucesso admirável e hoje é referência no seu setor.
Ela tem três filhos. Os três já trabalharam com ela em diferentes momentos. Dois deles geraram resultados extraordinários. Um em especial triplicou o faturamento da empresa em pouco tempo: brilhante, estratégico, visionário. Mas também agressivo, explosivo e difícil de conviver, o que gerava desgaste na família.
O terceiro filho, por outro lado, não tinha o mesmo perfil de performance. Era mais lento, mais calmo, mas também mais sensível e empático, agradável de conviver.
Quando chegou a hora de escolher quem ficaria à frente da empresa, ela surpreendeu muita gente, inclusive a própria família. Optou pelo filho mais tranquilo, ainda que menos “rentável”.
Disse algo que me marcou profundamente:
“Prefiro uma empresa que cresça um pouco menos, mas que continue sendo um bom lugar para trabalhar e que não gere desgaste entre nós.”
Foi uma decisão de coragem, uma lição de sabedoria. Ao longo dos últimos 30 anos, sempre observei o contrário: a performance acima de qualquer coisa e acima da qualidade das relações humanas e do bom ambiente de trabalho.
Se liderar é um desafio, imagine liderar a própria família: exige um grau de lucidez, tato e equilíbrio emocional que poucos estão preparados para sustentar.
As mulheres que fundaram e conduzem empresas familiares carregam uma responsabilidade que vai muito além dos números. Elas administram afetos, egos, heranças e expectativas, tudo ao mesmo tempo.
Segundo o estudo “The Power of Women in Family Business” (KPMG, 2024), mulheres em empresas familiares ainda enfrentam resistência em posições de decisão, especialmente quando precisam conciliar resultados e relações. Já o relatório da ONU (UNDP, 2024) mostra que as mulheres empresárias brasileiras acumulam, em média, 70% mais carga mental relacionada à gestão da família do que seus pares masculinos. E uma pesquisa da Ipsos (2025) revelou que 52% dos brasileiros consideram a saúde mental o maior problema de saúde do país — dado que inclui justamente essas mulheres que tentam equilibrar papéis múltiplos.
Por trás da fortaleza e da elegância, há uma exaustão silenciosa: a dor de precisar ser justa, racional e afetiva ao mesmo tempo.
Empresas familiares são laboratórios vivos de emoções. Conflitos profissionais se misturam com feridas antigas. Decisões de negócios viram dramas afetivos. E a fronteira entre “mãe” e “CEO” fica cada vez mais tênue.
Nessas horas, a Comunicação Não Violenta (CNV) é muito mais do que uma ferramenta: é vital. Ela devolve à liderança a capacidade de separar fatos de julgamentos, ouvir sem interromper, acolher sem se anular e expressar-se sem ferir. A CNV ajuda a transformar conversas difíceis em pontes de entendimento — algo essencial quando família e empresa se entrelaçam.
Ao aplicar a CNV nesses contextos, percebo que o conflito raramente está no que se diz, mas no que não é dito: a necessidade de reconhecimento, o medo de perder o pertencimento, a luta por espaço e valor. Quando essas camadas são nomeadas com empatia e clareza, a energia da disputa se converte em diálogo. E o negócio e a família voltam a respirar.
A empresária que mencionei no início entendeu que harmonia e resultado não precisam ser opostos. Ela escolheu o equilíbrio em vez da disputa. Escolheu a continuidade em vez da vitória imediata. E, acima de tudo, escolheu a saúde emocional da empresa e da família.
No fundo, essa é a decisão mais difícil — e mais corajosa — que uma mulher pode tomar: continuar liderando, mas sem se perder de si. A Comunicação Não Violenta é o caminho que torna isso possível. Ela ensina que é possível liderar com firmeza sem perder a doçura. E que o verdadeiro legado de uma mulher à frente de uma empresa familiar não é apenas o patrimônio que deixa, mas a cultura de respeito e diálogo que constrói.
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