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Lu Lacerda

Por Lu Lacerda Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Jornalista apaixonada pelo Rio

Invertida, com Luís Roberto Barroso: “Cometo gafes horríveis”

Ministro surpreendeu a todos anunciado sua aposentadoria — digamos, precoce (já que, pelo previsto, seria apenas em 2033)

Por lu.lacerda
10 out 2025, 11h41
luis roberto barroso ok antonio augusto stf 4 (1)
 (Antonio Augusto/STF/Divulgação)
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(Wallace Martins/STF/Divulgação)

Na abundância de poder do Supremo Tribunal Federal, se alguém imaginar — ou disser — que os ocupantes daquelas 11 cadeiras só pensam no mundo físico, não acredite. Pelo menos um deles, Luís Roberto Barroso, sempre falou em Lei do Universo, reflexão profunda, poder da natureza — temas comuns em suas entrevistas e incomuns na vida de advogados, políticos, ministros e afins. Com a despedida de Barroso do STF, surpreendendo o Brasil inteiro, e deixando o Judiciário atônito, nessa quinta (09/10), essa visão de mundo teria ficado pra trás?

Em trecho de seu discurso, ao anunciar a aposentadoria — digamos, precoce (já que, pelo previsto, seria apenas em 2033) — disse: “Sinto que agora é hora de seguir outros rumos. Nem sequer os tenho bem definidos. Com mais espiritualidade, literatura e poesia.”

Sempre atento a esse lado, escreveu, por ocasião da morte do Papa, em abril de 2015: “A espiritualidade verdadeira é a expressão do bem, do amor e da paz, com sabedoria, tolerância e compaixão. O Papa Francisco encarnou essas virtudes como poucas lideranças nos dias de hoje. Foi uma luz iluminando a humanidade.”

Sob essa perspectiva, nesses 12 anos de STF, Barroso conduziu julgamentos grandiosos, que podem evitar muito sofrimento — como a descriminalização da maconha e a regulação das plataformas digitais.

Enquanto isso, mantém os amigos eternos — em Vassouras (onde passou a infância), no Rio (na fase adulta) ou sabe-se lá em que outros postos e cidades. Seja como professor da UERJ, seja como colaborador acadêmico na Harvard Kennedy School.

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Perguntado a um médico de onde viria sua admiração por Barroso — diante de elogios feitos numa festa de Lucinha Araújo, mãe do seu amigo Cazuza (“a gente não faz amigos, reconhece-os”, já disse o ministro) —, respondeu: “Desde que li que ele evita julgar as pessoas por um único mau momento.” Espera-se que esse ponto de vista tenha deixado rastro entre os colegas do STF.

A gente precisa lembrar que também existe a turma que, no fundo, sempre torce contra. Mas hoje não é dia pra isso.

Como disse um grande nome da área, sob discrição, ao ser procurado: “A saída de Barroso é uma perda para o Supremo, é uma perda para o Brasil, mas é um ganho para o próprio Barroso, que se livra da selvageria da qual foi vítima em vários momentos nos últimos tempos.”
Sobre o antigo Rolex — protagonista nas redes recentemente, depois de aparecer em foto publicada na coluna Mônica Bergamo — o ministro afirmou: “Comprei o relógio em 2008, anos antes de ir para o STF. Nunca troquei.”

Leia sua entrevista: 

UMA LOUCURA:  Ainda planejando alguma.

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UMA ROUBADA: Fake news. Eu nunca disse que “eleição não se ganha, eleição se toma”. De fato, eu disse “Perdeu Mané, não amola!” a um povo que passou três dias me seguindo e me xingando pelas ruas de Nova York. Achei até que fui educado, considerando a selvageria que faziam. Outra: logo após as eleições, fui com amigos a uma casa de praia em um estado da Federação. A casa foi cercada por umas trezentas pessoas, que proferiram todo tipo de xingamento e depois rezavam a Ave Maria e o Pai Nosso. Nunca consegui entender a falsa espiritualidade dessas pessoas que misturam religião com violência, agressividade e falta de educação.

UMA IDEIA FIXA: Melhorar o Brasil. Mas já melhoramos muito. Quando estava na faculdade, eu me preocupava em como acabar com a tortura, a censura, a ditadura. Hoje, estou preocupado em melhorar a qualidade da educação, elevar a ética pública e privada no país, enfrentar a pobreza e a desigualdade. São avanços difíceis, mas a qualidade das minhas preocupações melhorou muito.

UM PORRE: Carnavais na adolescência, em Vassouras, onde tenho amigos da vida inteira. Apesar de ter mudado para o Rio com 5 para 6 anos, passei toda a minha adolescência frequentando Vassouras, onde vivi todos os ritos de passagem para a vida adulta, das primeiras festas aos primeiros namoros. Nossa família mudou para o Rio em 1963, a tempo de eu ver o primeiro título do Flamengo. Ver não é exatamente a palavra: inexperientes, chegamos a um Maracanã lotado, e havia uma parede humana na nossa frente.

UMA FRUSTRAÇÃO: Falta de clima no país para julgar a ação que descriminaliza a interrupção de gestação. Ser contra o aborto – ninguém é a favor – é diferente de achar que a mulher que passe por esse infortúnio deva ser presa.

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UM APAGÃO: Esquecer o nome do anfitrião ao iniciar uma palestra. Mas a minha maior dificuldade na vida é ser mau fisionomista — confundo as pessoas e cometo gafes horríveis. Uma vez, numa festa junina, um jovem chegou perto de mim e disse: “Eu sou irmão da Elizabeth”. Eu não me lembrava bem quem era Elizabeth; depois me dei conta de que deveria lembrar. Enfim, saí da roda para pegar um chope, voltei para o mesmo lugar, e perguntei para o sujeito: “E a Elizabeth, como está?” Ele me olhou espantado e perguntou: “Quem é Elizabeth?”. A roda havia mudado de composição e não me dei conta.

UMA SÍNDROME: Carrego canetas de todas as cores nos bolsos do paletó: azul e preta, do lado esquerdo; vermelha e lapiseira, do lado direito; um marcador amarelo no bolso lateral esquerdo e outro azul, no direito. Todos têm uma utilidade diferente.

UM MEDO: Ditaduras.

UM DEFEITO: Como assim? (risos).

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UM DESPRAZER: Discursos longos demais. Procuro seguir sempre o conselho de um velho mestre que gostava de dizer: “Discursos: convém que sejam poucos; se possível, bons; em qualquer caso, breves”. Gosto de uma história que li certa vez: George Washington fez o mais breve discurso de posse na Presidência dos Estados Unidos, com cerca de 130 palavras, e William Harrison fez o mais longo, com mais de 8 mil palavras, pronunciadas numa noite bem fria, em Washington. Harrison morreu trinta dias depois, de pneumonia gravíssima contraída naquela noite. Considero essa ser a maldição que recai sobre os oradores que falam além do seu tempo.

UM INSUCESSO: Um só? Já tive tantos… rs. Às vezes, as pessoas vêem aonde você chegou e pensam que você ganhou todas. Nenhuma vida completa é feita só de vitórias. Meu primeiro grande insucesso foi não ter conseguido ser um craque no futebol. Tentei de tudo: joguei bola no paralelepípedo da minha rua lá em Vassouras, em campinho de terra, em quadra de cimento, na praia e na escolinha do Flamengo. Faltou talento. Outro: perdi a eleição para orador da minha turma de faculdade. Ainda vivíamos a ditadura, e eu fiz um discurso político bem duro. Ganhou o meu concorrente, com um texto muito mais leve e lírico. O vencedor e eu somos amigos de toda a vida. Temos um pequeno grupo de faculdade que se reúne algumas vezes por ano, para contar e recontar as mesmas histórias – rsrs.

UM IMPULSO: Aceitar convites sem pensar muito e depois me arrepender. Já fui parar em cada lugar e já dormi em cada espelunca que você não acreditaria! Desde o início da minha carreira acadêmica, viajo pelo Brasil, dando palestras. Conheço todos os Estados da Federação, do Oiapoque ao Chuí. Nos últimos dias do meu mandato como presidente, estive em Tabatinga, no Amazonas, no Surucucu, em Roraima e em Santa Vitória do Palmar, no Rio Grande do Sul, fronteira com o Uruguai.

UMA PARANOIA: Entrar com o pé direito nos lugares.

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