“Invertida”, com Janaína Torres: “Desprazer é ver pessoas compradas”
Embora nascida e criada num cortiço no Brás, onde mantém cinco restaurantes, tem um perfil que se encaixaria muito bem numa Lapa, por exemplo

Eleita Melhor Chef Mulher do Mundo (“The World 50’s Best 2024”), Janaína Torres, a “Dona Onça”, embora nascida e criada num cortiço no Brás, onde mantém cinco restaurantes, tem um perfil que se encaixaria muito bem numa Lapa, por exemplo — ela se declara apaixonada pelo Rio e, sempre que vem a trabalho, os ingressos se esgotam, sem falar que existe a torcida em tê-la na cidade há tempos. E há essa intenção!
Premiadíssima, além de cozinhar, ela também administra seus negócios e dá palestras sobre como manter a excelência quando cresce. Janaína tem o olhar além de si e trabalhou como voluntária na criação do Cozinheiros pela Educação, a convite do Governo do Estado de São Paulo, em projeto que incluiu aulas com as cozinheiras da rede pública. Desde junho de 2021, é presidente do Instituto Brasil a Gosto, fundado em 2006 pela empresária Ana Luíza Trajano.
Além da Dona Onça e de A Casa do Porco (em sociedade com o ex-marido, Jefferson Rueda, com quem foi casada por mais de 20 anos), tem ainda a lanchonete de cachorro-quente Hot Pork e a Sorveteria do Centro, e o projeto À Brasileira, que incentiva uma filosofia e arte de viver o seu país. Em 2022, Janaína passou por uma espécie de luto, depois de descobrir a traição do marido. Em seguida, veio o renascimento: fez uma plástica nos seios, tatuou o braço esquerdo com a pelagem de onça e tem conquistado um título depois do outro. Além da cozinha e dos projetos sociais, seu maior amor são os filhos, João Pedro e Joaquim José, de 18 e 15 anos.
UMA LOUCURA: Abrir novos projetos.
UMA ROUBADA: Conviver com gente que vai pro céu e cumprimenta o santo errado. Pessoas desavisadas, deslumbradas com o ego e com a fama.
UMA IDEIA FIXA: Morrer cozinhando.
UMA FRUSTRAÇÃO: Ter que lidar com gente que não merece sua amizade. É desconfortável e frustrante.
UM APAGÃO: Esquecer coisas que me fizeram muito mal (ou tentar esquecer). Ou então a menopausa… esqueço um monte de coisas (risos).
UMA SÍNDROME: Achar que todos serão leais e sempre me decepcionar com isso. Sofro. É uma síndrome que ainda não passou.
UM MEDO: Continuar sendo silenciada “pelo bem da sociedade dos homens” e não conseguir contribuir para que outras mulheres não passem pelo que eu estou passando (sobre o machismo estrutural).
UM DEFEITO: Tenho dois: ter sido muito explosiva, e agora me calar por medo.
UM DESPRAZER: Desprazer é ver as pessoas sendo compradas. Ver o dinheiro acima de tudo e de todos. Poucas, muito poucas pessoas não se vendem hoje em dia. Nada é mais feio e desprezível.