Crônica, por Eduardo Affonso: Rimeiques
Devido ao enorme sucesso de público e de crítica de “Vale tudo, mas tudo mesmo”, já estão em pré-produção os próximos rimeiques

Devido ao enorme sucesso de público e de crítica de “Vale tudo, mas tudo mesmo”, já estão em pré-produção os próximos rimeiques:
Caminho das Índias: Agora ambientada no Paquistão, conta a história de Asteca (na versão original chamava-se Maya), que tem seu casamento arranjado pelos pais com o vegano Raj, mas se apaixona pelo carnívoro Bahuan. No final, Raj e Bahuan se casam, numa cerimônia ovolactovegetariana homoafetiva, e Asteca se muda para o Brasil, onde conhece Tarso, Raul e Ramiro, formando com eles um trisal de quatro (a autora sentiu a necessidade de inovar até nisso).
Roque Santeiro: A pequena cidade de Assum Preto (era Asa Branca, mas mudou de nome para ficar politicamente correta) vive de uma lenda do rock (Santeiro), que teria morrido aos 27 anos, de overdose (como convém a uma lenda do rock). Um cartel formado por Sinhozinho Malta, Florindo Abelha e Zé das Medalhas fatura alto com o Rockpalooza, um festival de música sertaneja (a autora do rimeique não liga muito para esses detalhes). A boate Generu’s (era Sexu’s, mas agora é comandada por Matilde, Ninon e Rosaly, mulheres trans) e o festival são as principais fontes de renda do município, cuja prefeita agora é a Viúva Porcina. Até que chega à cidade uma equipe que fará uma série da Netflix sobre Santeiro, e Fiuk (escalado para o papel-título, que já foi do seu pai) vira um vampiro que, nas noites de lua cheia, aterroriza os moradores. Santeiro, na verdade, apenas se cansou de ser roqueiro e foi viver de baladas pop – mas a autora da novela brigou com o ator que fazia o personagem e ele foi esquecido.
A clone: Jade é uma jovem angolana (sim, a novela agora se passa em Luanda) que se apaixona por Lucas, filho do rico empresário Leônidas, que tem um caso com Vera Fischer, sem saber que ela trafica mulheres para a Turquia em outra novela. Diogo, irmão gêmeo idêntico de Lucas, também se apaixona por Jade, e procura o cientista Albieri, para que ele faça um clone de Jade (sim, por uma questão de representatividade, agora são as mulheres que se multiplicam). Vinte anos depois, Lucas está quarentão, casado com uma Jade quarentona, enquanto seu irmão Diogo (que tem praticamente a mesma idade, porque a autora do rimeique se esqueceu que eles são gêmeos) está casado com uma Jade de 20 anos – o que gera uma briga fratricida entre os irmãos (se é fratricida, só pode ser entre irmãos, mas a autora do rimeique estava mais focada no merchandising e na discussão do etarismo e ignorou o pleonasmo).
Avenida Brasil: O jogador de futebol Tornado (era Tufão) atropela um cidadão e se casa com a viúva, Carminha. Eles adotam o filho dela, Brócolis (era Batata), separando-o de sua melhor amiga, a pequena, doce, meiga e vingativa Rita, que é adotada por um casal uruguaio (era argentino, mas a autora quis mexer em tudo). Passam-se os anos e Rita, agora apresentadora do Masterchef, volta para o Brasil e consegue emprego de cozinheira na casa de Carminha, para desmascarar a megera. Mas é desmascarada antes. Carminha acaba matando seu amante, Max, é julgada, condenada, vai presa, vira evangélica na prisão e é solta após de cumprir 1/6 da pena (ou seja, uma semana depois). Todos a perdoam e são felizes para sempre. Menos Max, que morreu, e Rita, que, gastronomicamente falando, achava que Batata era mais versátil que Brócolis.
Também devem ser refeitas “A pessoa escravizada Isaura”, “Cerrado” (era “Pantanal”, mas será atualizada com merchandising do agronegócio, e Juma Marruá não vira onça, mas um pé de soja) e “A predileta” (era “A favorita”, mas… você já pegou o espírito da coisa, né?).
