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Por Lelo Forti, mixologista
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A coquetelaria e o glamour que nasceu no cinema

A sétima arte transformou copos em histórias e drinques em acessórios indispensáveis em nossas vidas

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7 fev 2022, 18h52

Você lembra quando foi a última vez que foi ao cinema? Que filme você assistiu? A resposta pode até demorar, uma vez que passamos por dois anos de pandemia, lockdown, etc, mas de uma coisa tenho certeza: tiveram muitas cenas em bares, restaurantes, comidas e, claro, muita bebida, doses e drinques, certo?

Pois é. Não imaginamos um filme, ou melhor, eu não lembro, nos meus últimos 30 anos, ter assistido a um único filme que não tenha uma cena, um momento à beira de um balcão de bar, uma dose de uísque ou um glamouroso coquetel. O cinema inventou a coquetelaria, ou melhor, ela nasceu no cinema. Você pode vir com essa história de que existem relatos da época de Jerry Thomas, pai da coquetelaria, em 1860. Está corretíssimo. Tudo certo, mas ele não tinha o cinema pra divulgar o trabalho. Os irmãos Lumière mudaram tudo, mudaram o mundo. Transformaram anônimos em celebridades, álcool em produto sociável e trouxe até aqui a história da coquetelaria, através de milhares de películas hollywoodianas.

Para começar a provar o fino esplendor e o glamour do mundo dos coquetéis, não há melhor lugar do que o cinema. O Dry Martini é tão característico em Hollywood quanto “Luz, Câmera, ação”. Se não fosse o cinema, talvez, bem provável que os famosos drinques clássicos não passassem de apenas boas misturas desconhecidas. 007 só é uma película completa porque tem mocinho, paquera, aventura e Dry Martini, mas o que poucos sabem é que o pai dos coquetéis já aparece no cinema desde os anos 30. A comédia “Tudo Pode Acontecer”, MGM stúdios, traz os atores Clark Gable e Constance Bennett, juntos, fazendo história e bebendo taças intermináveis de gim puro.

A sétima arte reviveu em mais de 100 anos de sua história todos os humores da coquetelaria: de bebidas provocantes e sedutoras, passando por celebrações animadas, até a melancolia e a reflexão freudiana. Foi o cinema o grande responsável pela difusão de drinques lendários, centenários e inesquecíveis. “Hoje em dia é difícil encontrar um bartender que não tenha inventado algum drinque cheio de bossa, misturas, cores e sabores, mas nenhum chega perto dos originais da velha Hollywood, onde um bom coquetel só precisa de umas sacudidelas”, escreveu Tobias Steed em seu livro, “Coquetéis de Hollywood”, editora Senac. Fonte de inspiração desta crônica de onde eu reescrevo e reproduzo trechos fielmente com muito orgulho, satisfação e referência (queria eu ter escrito essa obra).

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O glamour da coquetelaria nasceu com o cinema, muito antes do próprio cinema, ser glamoroso. Faça um teste simples: pense no filme que você mais gosta, ou que seja inesquecível para você. Vai perceber muitas cenas, inúmeros momentos, onde drinques, bebidas, bares, jantares e balcões de bar convivem e contam a historia de seus personagens. Protagonistas, coadjuvantes, antagonistas ou até mesmo figurantes, não importa, eles estão sempre com algum copo na mão, e quase sempre, tem coquetel dentro.

Escritores, pintores, cineastas, vilões ou mocinhos, não importam: são filhos de suas obras e alcoólicos convictos, ou ainda, suas obras só existiram graças a muitas doses de bebidas inebriantes, capazes de aprofundar a genialidade de cada interpretação cinematográfica, cada pingo de cor na imensa tela ou na dor e solidão de mil páginas escritas. Basta assistir à comédia romântica “Meia Noite em Paris”, (2011), para entender a importância da coquetelaria na vida dos gênios das artes. Uma dica: tenha em mãos opções alcoólicas, você vai sentir necessidade.

Picasso, Hemingway, Fitzgerald, Frank Sinatra, Elizabeth Taylor, Marlon Brando, Marylin Monroe, Clark Gable foram muito mais que artistas contemporâneos, gênios de suas artes. Foram beberrões, boêmios, amados e amantes e fizeram do bar e da bebida um estilo de vida e um combustível para sua arte. Se você hoje conhece ou consome Manhattan, Cosmopolitan, Sidecar, Bellini, Whisky sour, Negroni, Pina Colada, Dry Martini e uma infinidade de outros clássicos, agradeça a esses e outros artistas. Faça um brinde aos inventores do cinema e seus diretores e roteiristas. Toda vez que você sentar em um balcão de bar e pedir um drinque, lembre-se: movie star (estrela de cinema).

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A etiqueta dos coquetéis

Os coquetéis de Hollywood são SEMPRE glamorosos. Basta assistir aos filmes. Alguma vez você viu o ator britânico David Niven ou o Estadunidense Gregory Peck em uma cena em que não estivessem impecavelmente vestidos e elegantes? É bem possível você preparar os melhores coquetéis do mundo, mas fazer isso em uma cozinha bagunçada, com rock pesado retumbando ao fundo, tem o mesmo efeito que requentar uma xícara de café instantâneo. Para aproveitar ao máximo, é necessário arrumar o cenário, e isso significa música calma (talvez Jazz), pouca luz, e um sofá que não esteja semeado de latas de cerveja e revistas velhas. É “rigueur” vestir-se adequadamente para um coquetel. Nos dias de hoje, um blazer branco talvez esteja em desuso, mas uma camisa bem passada é básico. Nenhuma mulher perdeu seu parceiro por vestir finas meias transparentes, e ir deixando um discreto rastro de perfume francês. Pense em Audrey Hepburn. Pense em “Bonequinha de Luxo”

Em Hollywood o “happy hour” era um momento de transformação, em que cineastas pausavam a ação e desenrolavam suas narrativas. Era também, logicamente, um momento de reflexão e alívio – como na canção de Cole Porter, que compara “gim e vermute” à “fonte da juventude”. Em seu auge, Hollywood tinha cenários suntuosos e locações tropicais para seus filmes – e eram bem exóticos também os coquetéis consumidos nos sets. Havia o doce charme dos plantations do sul, capturado nos perfumados juleps e Planter’s Punch, enquanto a loucura de Manhattan era refletida nos inebriantes Zombies. Americanos expatriados embebiam-se de Gimlet, e, ao assistir estrelas várias a cambalearem em ilhas paradisíacas, o público de cinema aprendia tudo sobre os maliciosos prazeres do rum. Como toda boa fantasia hollywoodiana, um bar bem abastecido, organizado e limpo, permite transformar um dia comum de verão, uma saída noturna, ou qualquer outra ocasião, em um evento verdadeiramente extraordinário.

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A influência do cinema em nosso cotidiano é tão verdade, que o almoço acompanhado de três martinis ainda não havia se tornado compulsório para jornalistas ao juntarem-se Clark Gable e Constance Bennett, em “Tudo pode acontecer”, mas o filme pode muito bem ter ajudado a fazer a conexão do drinque com a profissão. Nesta comédia, o ator faz o papel de um editor de jornal que pretende solucionar um caso de assassinato, enquanto Constance vive o papel de uma colunista social. Imperdível.

Não me atreveria a finalizar esta crônica, (mais uma reverência), sem deixar algumas indicações hollywoodianas, onde você vai se embriagar, literalmente com atuações, cenas, história e muito álcool. Não se atreva a assistir sem beber. Cheers.

Filmes imperdíveis aos amantes da coquetelaria

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“TUDO PODE ACONTECER” – 1935                                         “CASABLANCA” – 1942

“A VIDA É UMA FESTA”- 1937                                                  “MEUS DOIS CARINHOS”- 1957

“O PECADO MORA AO LADO”- 1955                                      “NOSSO HOMEM EM HAVANA”- 1959

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“…E O VENTO LEVOU”- 1939                                                    “BONEQUINHA DE LUXO”- 1961

“COCKTAIL”- 1988                                                                         “SEX ON THE CITY”- 1998

“O JULGAMENTO DE PARIS” – 2008                                      “OS INFRATORES”- 2012

“HEMINGWAY & GELLHORN” – 2012  

 

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