Tia Celina e a decadência financeira na maturidade
Meu desafio atual? Passar meu conhecimento sobre economia para os maduros. Tarefa árdua, mas que Tia Celina, com sua insensatez, está me ajudando

Sim, Odete Roitman, personagem da novela Vale Tudo é um cão chupando manga quando se trata de afeto, mas, não posso negar que ela toca a real. Na relação da trama, ela e a irmã, a Tia Celina se casaram – cada uma – com velhos endinheirados. Ambos faleceram e elas ficaram ricas. Odete fez o dever de casa e triplicou a fortuna, ainda que por meio escusos, e a irmã, só vive de gastar o que acumulou com o enlace. Nos capítulos mais recentes, discussões sobre patrimônio e controle de gastos vieram à tona. Odete ralhou com a irmã e a advertiu que a grana está acabando. Esfregou na cara que além de não produzir nada, ainda gasta desenfreadamente trocando estofados da sala de estar, comprando flores para montar seus arranjos, procedimentos estéticos para adiar o despencamento da cara acrescidos de roupas, joias, bebidas, festas…. É Odete quem faz a planilha para a irmã e tem acesso a todos os muito zeros que estão sendo subtraídos da fortuna de Celina. Segundo a vilã, ela não emplaca mais quatro anos rica. Na trama parece que Celina ainda terá uma chance de enriquecer, sendo sócia da ética-trabalhadora Raquel Acioli. Mas isso é novela né… Voltando para o mundinho dos mortais, eu vejo cada coisa. Gente que desdenhou a vida inteira da aposentadoria do INSS e hoje não tem nem um salário-mínimo de soldo, pessoas que gastaram em inutilidades como 5 canais de streaming que nunca assistiram, bolsas caras para desfilar por almoços caros que não podem mais pagar. Gente que não sabe quanto ganha, quanto custa e sobretudo quanto precisa economizar para dar conta dessa nova longevidade que injetou, no barato, 10 anos à nossa linha do tempo. Faz como? Come o que? Mora onde? Plano de saúde quita como? Trabalho 60+ é bem difícil. Empreender, mais ainda. Eu sou a prova viva do esforço para manter a planilha no azul. Fiz 26 bazares vendendo peças de roupas que minha mãe acumulou ao longo da vida; peguei vários frilas que me tomaram noites em claro e hoje vivo um andar abaixo do que posso. Sou quase a musa da escassez. Anoto cada centavo. Penso três vezes antes de comprar qualquer coisa que cheire a supérflua. Mas quitei todas as minhas dívidas e saí do vermelho e ainda me tornei investidora. Meu desafio atual? Passar meu conhecimento sobre economia para os maduros. Tarefa árdua, mas que Tia Celina, com sua insensatez, está me ajudando. Nada como o folhetim para dar um choque de realidade na vida.