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Por Julia Zardo, professora de empreendedorismo e gerente de ambientes de inovação
Inovação e Sociedade: uma conversa sobre desafios, oportunidades e impactos das práticas inovadoras na vida de todos nós
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Como estamos dando a volta por cima na maior crise do século

Não foi o porte da empresa que determinou o quanto ela conseguiu se adaptar e enfrentar os desafios da pandemia. Foi a atitude

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Atualizado em 12 fev 2021, 20h17 - Publicado em 12 fev 2021, 09h55

Aprendemos muitas lições com a pandemia. Duas delas dizem respeito à mudança de atitude e ao contexto de adaptação e colaboração que empresas e sociedade precisaram se inserir. Tivemos todos que desenvolver competências ligadas à inovação e à adaptabilidade. Se essa era uma demanda do novo século, esse período tornou mandatório olhar para o que temos feito e pensar como podemos fazer mais, melhor, com menos custo e de forma diferente, a fim de gerar um impacto positivo no entorno.

Nunca usamos tanto a palavra resiliência.

Testemunhamos essa atitude adaptativa e inovadora em diversas estórias de empresas que tiveram que enfrentar o desafio de transformação digital, por exemplo, para continuar produzindo e vendendo. Ao olhar para esse passado recente e observar os legados que a pandemia nos deixou é interessante perceber que não foi o porte da empresa que determinou o quanto ela conseguiu se adaptar e enfrentar os desafios. Foi a atitude.

Vimos grandes empresas com estruturas engessadas, processos burocráticos, e com algum fôlego para financiar as mudanças necessárias, olharem para pequenas empresas e desejarem sua rapidez, estrutura com menos hierarquia e processos mais ágeis.

Vimos, também, pequenas empresas sonhando com um fluxo de caixa estável e recurso provisionado para investimento, além de garantias para tomar crédito na praça; realidade que, em geral no nosso país, nunca foi para as pequenas.

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Vimos, sobretudo, quem conseguiu se adaptar, ressignificar seu negócio e ajudar a causa mais urgente do momento. Muitas indústrias conseguiram mobilizar suas matrizes em outros países e sua estrutura interna para colaborar na manutenção de respiradores, como no exemplo da Jaguar Land Rover, produto absolutamente diferente do que estava acostumada a fazer.

As pequenas também brigaram pela possibilidade de voltar a produzir e mobilizaram seus funcionários no auge da crise para colaborar na produção de Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s). Todas elas precisaram aprender a produzir e identificar em que parte da cadeia podiam somar com a expertise, os equipamentos e material que já possuíam. Com essa atitude conseguiram a preservar as vendas, os empregos e a autoestima de muitos trabalhadores.

A lógica do empreendedorismo informal, como atitude adaptativa individual, também foi fundamental para a manutenção de muitas famílias. A vontade de comprar do pequeno e estimular negócios familiares e iniciativas empreendedoras passou a se tornar uma realidade cada vez mais presente. E, nesse contexto, a facilidade de acesso a quem produz em razão do boom do e-commerce fez toda a diferença para que esse movimento desse certo.

Grandes players do varejo como a Magalu e dos meios de pagamento como a Stone, se mobilizaram e criaram plataformas que viabilizaram o acesso e a compra dos pequenos. Professores e alunos de universidades também se movimentaram para colocar seus conhecimentos de forma voluntária a favor de quem precisava organizar e divulgar seus negócios em iniciativas como a ManaMano. Os gestores e empreendedores dessas iniciativas contaram sobre elas na Casa Firjan.

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As redes funcionaram. A atitude colaborativa foi rápida. Redes de solidariedade se organizaram, mobilizando empresas e pessoas para produção e doações.

Inovação aberta na prática

O SOS Favela por exemplo, uma iniciativa do Viva Rio coordenada com empresas e pessoas físicas, distribuiu alimentos e itens essenciais de higiene, além de disseminar encontros sobre atitude empreendedora e saúde emocional para famílias moradoras de favelas e periferias pobres.

O Movimento União Rio mobilizou voluntários e fez justamente o link entre as principais demandas para o enfrentamento da pandemia pela rede de saúde pública do estado e quem podia contribuir. Organizou, também, doações para famílias em situação de vulnerabilidade social e impactou a realidade de muita gente.

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Médicos que enfrentavam a falta de EPI’s, mobilizaram pesquisadores na PUC-Rio para construírem com suas redes de voluntários organizados em makerspaces e fablabs, alternativas possíveis para serem usadas na linha de frente.

Com a necessidade de buscar escala e produção coordenada, a universidade mobilizou a Firjan, que imediatamente identificou os setores industriais com potencial de fazer essa adaptação, além das empresas que topassem o desafio.

A rede deu certo e a federação organizou a logística e a articulação pelo estado, com empresas se voluntariando para produzir ou doar. E foram muitas.

A mobilização de tantas diferentes instituições colaborando de forma eficaz para a criação e o desenvolvimento de soluções para a crise em tempo recorde deixariam Henry Chesbrough, criador do termo Inovação Aberta, orgulhoso. Vimos ela acontecer na prática.

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Não bastasse tudo isso, presenciamos todas estas instituições trabalhando com transparência nos dados e nas ações. Preocupadas em garantir um processo ético para uma população já tão cansada de golpes em sua confiança.

O desafio agora é continuar se adaptando, inovando e colaborando em 2021 com as competências que desenvolvemos em 2020, a duras penas. A pandemia nos fez trabalhar com foco na urgência e na relevância, no olhar para o resultado e o impacto final responsável de nossas ações. Temos que aprender com tudo isso e em algumas mudanças não podemos retroceder.

 

Julia Zardo,

Gerente de Ambientes de Inovação da Firjan e professora de empreendedorismo da PUC-Rio. PhD em Políticas Públicas, Estratégia e Desenvolvimento pelo IE – Instituto de Economia da UFRJ. Mestre em Comunicação e Cultura pela ECO

 

 

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