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Por Ike Cruz, empresário artístico
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Halston, a pessoa mais famosa que você nunca ouviu falar

A clássica história onde a soberba e a vaidade derrotam o talento e o ser humano

Por Ike Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 3 jun 2021, 21h39 - Publicado em 3 jun 2021, 19h14

Nunca tinha escutado falar em Halston, o famoso estilista americano dos anos 70. Como sou de 67 e só comecei a me interessar por moda no final dos anos 80, me sinto autoperdoado perante o tribunal que também deve julgar alienação fashion na internet.

Aliás, o primeiro estilista americano famoso que ouvi falar e era o boom dessa minha época foi Calvin Klein. Coincidentemente, o grande rival de Halston, segundo a série. A título de curiosidade para os mais jovens, naquela década, um jeans da CK era para os influencers de hoje um post para 10 000 likes, no barato. 

Como adoro biografias e são apenas 5 episódios, assisti à série de uma única vez. Sobretudo quando as histórias abordam o trio: ascensão, apogeu e queda. Para mim, além de fascinantes, são excelentes objetos de estudo (a propósito, pelo que observo hoje e com essa ferocidade na internet, não resta mais dúvida de que somos as espécies mais difíceis de serem decifradas. Em suma, condenados a eternos estudos e cada vez menos conclusão).

Voltando à série…Muito talentoso, o estilista teve uma projeção meteórica, mas infelizmente proporcional à sua durabilidade. Foi um enorme sucesso, mas de vida curta, tanto que diretor da série, Daniel Minahan, o descreveu brilhantemente como “a pessoa mais famosa que você nunca ouviu falar” 

Antes que desistam da leitura por não saberem quem é Halston ou ainda por não terem assistido à série, adianto que a coluna não é sobre o filme. É apenas uma reflexão sobre trajetórias profissionais e humanas.

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 Fazendo uma análise superficial e atual sobre “sucesso”, não acredito em fórmulas prontas, secretas ou mirabolantes. A cada dia, através da tecnologia, da quantidade de informação gerada e do baixo critério de exigência da maioria, as receitas (e as espécies de ídolos) vão se expandindo em inúmeras possibilidades. Algumas se transformam em uma longa e sólida carreira profissional, outras duram o tempo de um balão japonês. 

A fórmula que realmente muda pouco, mesmo com o passar dos anos, é a do fracasso. Essa, além de eficiente, é implacável. 

Comecei como vendedor da extinta Yes Brazil (Simon Azulay) em meados dos anos 80, grife de artistas e celebridades da época. 

Trabalhava numa das lojas da YES mais badaladas da época, no Fórum de Ipanema, no quarteirão conhecido como “quadrilátero da moda”, entre as ruas Maria Quitéria (onde ficava o famoso Georges Henri) e a Joana Angélica. 

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Essa área abrigava os nomes mais emblemáticos da moda nos anos 80. Entre eles, Maria Bonita (Mara Macdowell), Alice Tapajós, Andrea Saletto e a badalada dupla Frankie & Amaury (uma sumidade em roupas de couro e camurça), cujo declínio ainda culminou com um trágico desfecho.  

Depois passei pela Company, ícone da moda jovem dos anos 80/90. Em seguida, ainda muito novo, me tornei agente de modelos e, na sequência, empresário artístico, ofício que exerço até hoje. 

Dentro dessas lojas que trabalhei atendendo a nata da zona sul carioca, e depois, ao longo de todos esses anos, presenciei inúmeros casos de ascensão e queda. Eram estilistas, fotógrafos, artistas, produtores, cabeleireiros, maquiadores, modelos, etc. Halston me fez lembrar um pouco de cada um deles. 

Ao final da série, enquanto os créditos subiam, minha cabeça vagava… 

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Como disse acima, o caminho do sucesso possui muitas variáveis, porém quase todas começam por algum ou muito talento. Uns mais, outros menos, mas o talento está ali, presente. O que me chama mais atenção é o paradoxo da incrível inabilidade da maioria desses talentos em lidar com suas próprias vocações e conquistas. A criatura tem a “faca e o queijo na mão”, mas só consegue decepar a mão. 

A “espinha dorsal” do fracasso iminente passa quase sempre por cinco características: soberba, vaidade, autossuficiência (os gênios e talentosos tendem a ouvir pouco), orgulho (cegueira) e escolhas questionáveis, que incluem, mas não se limitam, a relacionamentos afetivos e amizades vampirescas.  Adicione a isso álcool, drogas, noitadas e…BUUM, a receita se torna infalível. 

A série mostra tudo isso de uma vez só. A arrogância do personagem é tamanha que se torna proporcional à compaixão que nos inunda ao final do último episódio. Sobretudo quando sabemos que foi verídico.  

Cuidado com o sucesso, ele embriaga muito e ensina pouco

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Poderia ter sido diferente? Sim. Poderia ter ido mais longe? Sem dúvida. 

A meu ver não tem coisa mais melancólica nesse aspecto do que testemunhar uma pessoa com enorme potencial chegar ao final da vida com o lamentável rótulo de “alguém-que- podia-ter sido (bem-sucedido)-mas-não-foi”. E, pior, devido às próprias escolhas. 

Repito exaustivamente aos mais próximos e aqui o faço publicamente. Cuidado com o sucesso, ele embriaga muito e ensina pouco.  O que ensina mesmo são os erros e o fracasso. Maturidade é aprender com eles. 

Já ia esquecendo, o que é a atuação de Ewan McGregor na série?

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Brilhante! Isso sim, sucesso inquestionável. 

 

 

Ike Cruz é empresário artistico e fundador do Actors & Arts

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