Fernanda Torres: “Eu já havia sido alertada para problemas com o Uber”
Na crônica da semana, os incidentes com o aplicativo de transporte particular
Comemorávamos um aniversário em família num restaurante. Na saída, minha cunhada pediu um Uber executivo para levar minha sogra, que tem problemas de locomoção.
O mapa do aplicativo localizou o carro a uma distância de um quarteirão de onde estávamos. Um viva à tecnologia. O minuto previsto passou e o mapa mudou, avisando que o motorista estava dando a volta no quarteirão. Aguardamos. A 100 metros do destino, o percurso sofreu nova alteração na tela, mostrando o Uber em Copacabana. Estranhamos.
Minha cunhada enviou uma mensagem, mas não obteve resposta, e a demora nos fez cancelar a viagem. De imediato, um outro carro apareceu na tela, com previsão de chegada de cinco minutos.
Não deu um, apareceu o primeiro, que havíamos cancelado. A mesma placa, a mesma foto do condutor, tudo certo, não fosse o veículo. Era um Corsa esquisito, com vidros pretos, que estacionou um pouco distante de onde estávamos. Pedimos que ele subisse na calçada, para facilitar a entrada da minha sogra, mas ele relutou em fazer a manobra. Como insistimos, o homem se limitou a mandar todo mundo tomar no c… e saiu cantando os pneus.
Ficamos estarrecidos, sem entender o ódio e a confusão. Foi quando chegou o outro carro, solicitado logo após o cancelamento. Este, sim, executivo e com um motorista educado. Ressabiados, preferimos pegar um táxi.
Depois de chegar em casa, minha cunhada se lembrou de que a Uber lhe enviara um recado em que avisava que hackers haviam roubado os dados dos usuários. Era um Uber pirata, um assaltante, provavelmente, que desistiu da ação quando viu a passageira com o andador.
Eu já havia sido alertada para problemas com o Uber. O grupo de pais da escola do meu filho nos advertira que checássemos a placa e o motorista antes de embarcar, pois sequestros-relâmpago andavam ocorrendo com certa frequência. Também soube de casos de estupro, de roubo, tudo muito assustador, mas jamais havia presenciado, ou sofrido, nenhum incidente. Dessa vez, tratava-se de um golpe perfeito, com a placa e até a foto do bandido no celular.
Saí do Uber, apaguei meus arquivos e voltei para as cooperativas de táxi. Elas melhoraram muito, devido à concorrência, e entraram na era digital, com bons aplicativos à disposição. Os carros estão mais bem cuidados, têm cinto de segurança no banco de trás, o que antes era raridade, e a frota é regulamentada. Você paga mais caro, é verdade, mas os taxistas conhecem a cidade, sabem dirigir e são registrados.
Tristes tempos de barbárie à solta.
A Uber já foi uma boa opção, numa época em que se pedia um táxi e, meia hora depois, mandavam avisar que não havia nenhum disponível. Mas a empresa se transformou num saco de gatos, alternativa para o desemprego, cheia de gente sem preparo para estar na praça. Havia, e há, também o risco de pegar um táxi pirata na rua — não dá mais para brincar. O melhor é voltar para a boa e velha cooperativa. Foi o que fiz.