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"Crivella, com a calma habitual de pastor, esmera-se na postagem de discursos estapafúrdios, tratando a população como um séquito de fiéis idiotizados"

Por Fernanda Torres
Atualizado em 24 fev 2018, 15h50 - Publicado em 24 fev 2018, 15h50
 (Isabelle Barreto/Veja Rio)
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Na manhã de 14 de fevereiro, Quarta-Feira de Cinzas, recebi uma mensagem do empresário Oskar Metsavaht que exibia imagens desoladoras dos canteiros de espécies nativas das areias de Ipanema, devastados pela passagem dos blocos carnavalescos.

Extremamente sensível, a vegetação que cresce sobre as dunas reduz a erosão e recupera a fauna, ajudando na saúde e na preservação da orla.

Replantados pelo Instituto-E, com o apoio de empresas privadas, moradores, escolas e ambientalistas, os canteiros resistiram incólumes a oito anos de folia graças à ação da prefeitura, que os cercou e protegeu dos cortejos de Carnaval. Em 2018, no entanto, a negligência das autoridades resultou na sua completa destruição.

Oskar pedia apoio para a divulgação de um manifesto em repúdio ao desleixo. Aventou-se a possibilidade de que o descaso fosse premeditado, parte de um plano do atual prefeito, com o objetivo de provar que o Carnaval de rua é uma ameaça ao bem comum. Talvez.

Um texto redigido por militantes do grupo #342, que se prontificou a servir de instrumento para veicular o lamentável ocorrido, viria a público no dia seguinte.

Na quarta à noite, caiu o dilúvio.

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Nas primeiras horas da quinta-feira, as imagens da enchente que se seguiu às chuvas deixaram claro que a inépcia do governo de Marcelo Crivella ia muito, mas muito além do seu desprezo pelo Carnaval.

Em viagem à Áustria, ele fingia preocupação com a segurança do município, enquanto os cidadãos cariocas enfrentavam espancamentos, saques, apagões e água pela cintura.

A tragédia fez recuar o ato em prol do meio ambiente. Diante de 2 000 desabrigados, o luto pela devastação da flora de uma praia da Zona Sul soaria como frieza e alienação.

Vivemos um estado de absoluta insegurança, de emergência, sem tempo, cabeça ou lugar para discutir educação, saúde, saneamento, muito menos meio ambiente, cultura e lazer.

Crivella sabe quanto a cidade lhe é hostil. Até os que lhe confiaram o voto reconhecem sua incapacidade administrativa e juram não repetir o erro. Por uma estranha coincidência, seu retorno da Europa aconteceu no dia em que foi decretada a intervenção militar no estado. Uma investigação do Ministério Público já está em curso, visando a esclarecer o porquê de tantas viagens pagas pelos cofres públicos, nas quais ele mistura interesses da igreja à qual é filiado com os da cidade que finge gerir.

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Pezão jogou a toalha e mostra-se aliviado por ter perdido parte do comando do estado. Seu olhar sorumbático, as declarações vagas e a expressão de pavor são a prova de que o governador não tem condições de honrar o compromisso que assumiu nas urnas.

Já Crivella, com a calma habitual de pastor, esmera-se na postagem de discursos estapafúrdios, tratando a população como um séquito de fiéis idiotizados.

O impeachment ou a renúncia do governador e do prefeito traria alegria momentânea para fluminenses e cariocas. A ascensão dos vices, no entanto, nos levaria de volta ao muro das lamentações.

Tá brabo.

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