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Fernanda Torres

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Blog da atriz Fernanda Torres

Covardia

Minha colega Andréa Beltrão é uma nadadora exímia. Três mil metros era o mínimo que cumpria nas piscinas. Agora que se mudou para Copacabana, descobriu o nado em mar aberto. Eu já invejava a sua disposição de acordar às 8 e se jogar na água gelada do Rio de Janeiro. Mas a notícia de que […]

Por Daniela Pessoa Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 25 fev 2017, 18h53 - Publicado em 1 nov 2013, 22h44

Minha colega Andréa Beltrão é uma nadadora exímia. Três mil metros era o mínimo que cumpria nas piscinas. Agora que se mudou para Copacabana, descobriu o nado em mar aberto.

Eu já invejava a sua disposição de acordar às 8 e se jogar na água gelada do Rio de Janeiro. Mas a notícia de que a Princesinha do Mar é a praia mais limpa da cidade agravou a frustração de não ter o espírito guerreiro da minha companheira.

Cardumes gigantes acompanham a travessia, diz ela, e tartarugas, e peixes, e barcos. Um dia eu chego lá.

Eu tinha 10 anos quando o filme Tubarão acabou com o meu prazer de entrar na água. Assim como milhões de espectadores impressionados com o tum, tum, tum, tum da tela, era sentir o pezinho boiando para ser assolada pela sensação de que a bocarra iria me partir ao meio.

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Eu ia muito a Itaipu com o meu pai para pescar. Ele ficava em um bote — acho que nunca fisgou um peixe — enquanto eu punha a máscara para olhar as pedras com uma prima.

Um dia, vi uma tartaruga pequena, desesperada, agarrada a uma rede de pesca. Em vez de ajudar, abandonei a coitada à própria sorte e fugi panicada. Culpa do Spielberg.

Fernando de Noronha me curou da síndrome do Tubarão. Cheguei a abraçar uns lixas de noite, munida de colete e garrafa, descobri a curiosidade amigável dos seres marinhos e o silêncio das profundezas.

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Um amigo mais audaz foi parar em Rangiroa, na Polinésia Francesa. O pacote de mergulho incluía um passeio na Cave de le Rocan. A caverna dos tubarões se encontra a 30 metros da superfície e, em caso de pânico, não é possível pular fora ligeirinho, tem de parar na descompressão.

Os turistas mergulhadores desceram na boca do atol, onde os mastodontes famintos aguardavam a saída dos peixes. Agarradas ao recife, em meio à correnteza, as pessoas viram o guia retirar uma carcaça suculenta de dentro de um saco e soltá-la perto dos visitantes.

Sugado pela corrente, um pedaço considerável de carne se aninhou no peito do meu amigo. Desespero total.

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As mandíbulas disputavam nacos a um palmo do rosto dele. Aqueles momentos em que a gente se pergunta o porquê de ter saído de casa. Mas ele viveu para contar — isso é o que vale.

Conheço outro que comemorou os 50 anos em uma gaiola, rodeado de tubarões-brancos na África do Sul. Tem seu estilo.

O problema é que eu nasci covarde. Passei uns vinte anos lutando contra a covardia, até que desisti; foi depois que
tive filhos.

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Tenho uma esteira em casa, onde corro como um rato adestrado, e uma cama de pilates. De vez em quando, dou a volta na Lagoa. As aulas ainda são cascudas, mas já me encaminho para a maturidade. Não luto mais para ser destemida.

Para os que não têm o fôlego de campeã da minha colega, e mesmo para os que o têm, depois do sagrado banho salgado de domingo, vale a visita à Casa Daros. O restaurante é excelente, a reforma, de cair o queixo e a exposição Le Parc Lumière, de tirar o fôlego. O penetrável do pátio, de Hugo Richard e Natali Tubenchlak, faz teu filho te agradecer por tê-lo arrastado para um museu, mas aconselho ir de manhã ou bem no fim da tarde, porque lá dentro esquenta.

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