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Celuloide

Leia na crônica de Fernanda Torres

Por Fernanda Torres
Atualizado em 24 nov 2017, 20h30 - Publicado em 24 nov 2017, 17h00
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  • Nos meus verdes anos de atriz, fui testemunha do intransponível abismo que existia entre o cinema e a televisão. Era um racha ideológico, mas também físico, já que o cinema captava imagens em celuloide e a tevê, em vídeo.

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    Na televisão, trabalhava-se com câmeras mastodônticas, presas a cabos, mal deslocadas sobre um tripé e dotadas de uma só lente possante, capaz de ir do plano geral ao close, sob o comando do operador. A edição era feita no momento da gravação, com um técnico a dedilhar a mesa de corte, e os cenários, dispostos como no teatro, ficavam diante das três câmeras posicionadas em meia-lua, no lugar da plateia. O raro elemento a guardar parentesco com o equipamento usado nos sets de filmagem era a grua.

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    O cinema não tinha recursos para erguer cenários em estúdio. Filmávamos em locação, inseridos na quarta parede, e a cada plano, como até hoje se faz, era preciso trocar a lente, remarcar o foco e reposicionar a iluminação. Os trilhos e plataformas, feitos de prego e madeira, levavam uma eternidade para ser concluídos, e muitas vezes, ciente do arrocho financeiro das produções, me senti culpada ao ouvir o custosíssimo rolo de negativo girar no interior da Ariflex.

    Enquanto na televisão se gravavam trinta, quarenta cenas num dia, no cinema faziam-se duas, três, o que só aumentava a distância entre indústria e artesanato. E foi assim até o dia em que, aposentado o negativo, tudo se transformou em pixels. De uma hora para outra, estávamos todos inseridos no mesmo contexto.

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    A novela O Outro Lado do Paraíso é prova recente dessa junção revolucionária. No capítulo de abertura, o lento despertar da chapada do Jalapão, com a casinha da heroína em plano mais que aberto, a fotografia delineando a silhueta dos personagens na penumbra do alvorecer e a profundidade de campo, buscada mesmo nos closes, evidenciam um apuro de imagem que se tornou realidade na televisão. Já há algum tempo, os cenários adquiriram teto e quarta parede, o uso de uma única câmera é frequente e aquilo que antes se resolvia num close hoje requer travelling e mudança de lente. Esse apuro custa muito à direção e à equipe, pois é preciso manter o ritmo industrial de gravação, enquanto se ambiciona a sofisticação de linguagem.

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    A barreira se rompeu também do outro lado, o que é evidenciado pelas produções independentes, que se tornam cada vez mais frequentes na televisão.

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    Sob Pressão, seriado que trata das mazelas da saúde pública no Brasil, é um caso dessa bem-vinda parceria, assim como a excelente minissérie Treze Dias Longe do Sol, a que assisti de enfiada, no Globo Play, com aquela adição que não deixa você em paz enquanto não chega ao último capítulo. Com um roteiro complexo e maravilhoso elenco, a série traça um panorama trágico do temerário desvio de verba numa construtora. A economia de material na estrutura de um arranha-céu, visando ao lucro, acaba por fazê-lo desabar na cabeça do engenheiro responsável e dos operários. O primeiro capítulo é bom, mas os demais são imperdíveis.

    Há algo de novo acontecendo com o audiovisual brasileiro.

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