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Psiquiatra infantil
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Transtorno Opositivo Desafiador: falta de educação não é transtorno mental

Exagero na quantidade de diagnósticos do transtorno faz pensar sobre a responsabilidade dos pais

Por Fabio Barbirato
26 abr 2023, 08h18

Com certa frequência, ouço no consultório muitas dúvidas acerca do que seria o Transtorno Opositivo Desafiador (TOD). De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), o que caracteriza o TOD é um conjunto de comportamentos desafiantes ou desobedientes, em especial diante de figuras de autoridade, como pais, avós, professores ou responsáveis.

Para se fechar um diagnóstico, é preciso constatar a presença de ao menos quatro dos principais sintomas: irritabilidade e acesso de raiva frequentes; intenção deliberada de aborrecer os outros; ofender-se com facilidade maior que o comum; discutir e enfrentar adultos ou pessoas a quem deve respeito e obediência; reagir de forma desmedida quando é contrariado; culpar os outros pelos seus erros; opor-se às regras; ser vingativo e rancoroso quando se vê contrariado.

A razão precisa que leva ao Transtorno ainda não é comprovada, mas de acordo com as evidências, é preciso considerar fatores neurofisiológicos e genéticos no desenvolvimento do quadro. Mas e quando não se trata de um transtorno, mas sim de birra ou falta de educação das crianças?

Isso fica bastante claro quando a criança tem a postura desafiadora em casa, mas em consultório ou no Ambulatório da Santa Casa, se mostra dócil. Os que mantem uma postura de enfrentamento, são logo contidos pelo médico ou psicólogo bem treinados, caindo por terra a ideia de seu comportamento ser um transtorno desafiador – mas sim o elemento de uma família cuja dinâmica precisa ser revista.

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Em terapia de família, diz-se que é melhor ter um “paciente identificado” a ter a necessidade de mudar toda a dinâmica de uma família. Então, o diagnóstico de TOD, é bem mais conveniente, porque assim o problema fica na criança, não na falta de pulso do pai e da mãe.

Quando se prescreve uma medicação para Transtorno Opositivo Desafiador (TOD) – provavelmente um antipsicótico ou estabilizador de humor – a criança naturalmente ficará mais contida, mesmo que não tenha nenhum transtorno. É justamente o que buscam muitos pais, porque educar requer tempo, exige muitas vezes abdicar de vontades próprias e priorizar o filho – comportamentos que alguns pais não estão preparados. Acaba se tornando mais cômodo, portanto, recorrer à medicação.

Há pouco tempo, atendi uma menina de 12 anos que recebeu o diagnóstico de TOD aos cinco anos. Desde então, tomava medicação. Seus pais jamais foram orientados. A meu ver, a menina não tinha TOD, ela apenas não tinha o pulso forte dos pais a controlá-la.

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Como sempre acontece nestes casos, os pais se sentem reféns dos filhos:  seja por medo deles ou temor de que eles não entendam limites e fiquem magoados. Uma terceira hipótese é que para fugir das queixas dos filhos quando submetidos à autoridade, cede-se à vontade da criança para que ela pare de reclamar. Um bom exemplo é da família que que foi visitar um apartamento à venda e a criança disse que ficaria com a suíte maior. Para não contrariá-la e criar problemas, os pais desistiram do imóvel.

Quando uma criança escolhe onde irá dormir e tira, de forma acintosa, os pais do quarto deles – e estes cedem por medo de uma crise de birra -, isto não é doença. Porém, hoje em dia, uma situação como esta está sendo considerada cada vez mais como TOD por profissionais não devidamente preparados.

O objetivo desta coluna, não é rejeitar a realidade do diagnóstico, mas sim fazer uma reflexão sobre exageros e sobre o quanto os pais querem um diagnóstico que os exima da responsabilidade de educar. Sim, educar dá trabalho. O fato que alguns pais tem dificuldade de aceitar é que, em muitos casos, o filho não ter qualquer transtorno. Na realidade, a criança não conhece limites e age com falta de educação. São questões diferentes.

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Fabio Barbirato é psiquiatra pela ABP/CFM e responsável pelo Setor de Psiquiatria Infantil do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na pós-graduação em Medicina e Psicologia da PUC-Rio. É autor dos livros “A mente do seu filho” e “O menino que nunca sorriu & outras histórias”. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).

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