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Psiquiatra infantil
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Por que os jovens estão se automutilando?

Dificuldade em lidar com adversidades tem levado adolescentes e jovens adultos a ferirem o próprio corpo

Por Fabio Barbirato
Atualizado em 4 Maio 2022, 09h55 - Publicado em 29 abr 2022, 12h25

Basta conversar com qualquer pai, mãe, responsável ou profissional que trabalhe com o público adolescente e a constatação é a mesma: o número de adolescentes que se automutila cresceu significativamente. Seja entre os pacientes das escolas da Zona Sul ou entre os pacientes da Santa Casa, o problema é recorrente. Mas afinal, o que está levando toda uma geração a recorrer a atitude tão extrema?

Conversando com os jovens, dentro ou fora dos consultórios, o que se constata é um enorme sentimento de frustração e a pouca habilidade em lidar com ela. As justificativas são muitas: de coisas simplórias, como a sensação de estar excluído de um grupo porque não foi chamado para uma “resenha” até questões mais graves, como a dificuldade de aceitar o próprio corpo, aparência ou condição financeira. Uma impressão coletiva de que a vida não é justa. Assim, dores de fundo emocional são compensadas em feridas no corpo.

O fenômeno não se restringe ao Brasil. De acordo com a American Association of Suicidology, um em cada cinco jovens relata já ter se ferido para se aliviar algum tipo de desconforto psicológico. A automutilação, inclusive, é assunto de algumas series populares entre jovens, como “13 Reasons Why”, “Riverdale”, “Euphoria” e “You”.

É importante registrar que os jovens não se automutilam com a intenção de cometerem suicídio. Eles alegam que machucar o próprio corpo traz uma sensação de alívio. Declaração semelhante foi dada por Lady Gaga na excelente série “O meu lado invisível”, em que a apresentadora Oprah Winfrey e o príncipe Harry descortinam uma série de questões relativas aos transtornos mentais.

Pais e adultos devem ficar atentos a possíveis indícios de que o jovem está se automutilando: o uso de roupas compridaspara esconder marcas no corpo e desculpas recorrentes para justificar queimaduras ou cortes nos braços e pernas, por exemplo, são alguns sinais.

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Conversando com esses jovens, também fica evidente que a frustração tem origem, muitas vezes, na falta de costume em ser contrariado, em não ter as vontades atendidas. Estamos falando da geração Z, nascidos depois de 2000, cujos pais tem, geralmente, entre 40 e 50 anos, trabalham muito e se esforçam além da conta para darem tudo o que não tiveram e que acreditam que o filho precisa e merece – muitas coisas materiais e poucos “nãos”. O resultado é uma geração pouco habituada à frustração.

O sentimento de frustração não é uma exclusividade dos jovens. Trata-se de algo que nos visita durante toda a vida – pelas mais diferentes razões. Agora mesmo, acabamos de atravessar por uma grande frustração coletiva – quantos planos, sonhos, projetos e vidas foram interrompidos pelo coronavírus?

Findo o momento ápice da pandemia, é hora de olhar para o futuro, com esperança. Não se trata de escapismo ou cortina de fumaça. Adolescentes e crianças precisam aprender que contratempos acontecem e que é preciso ser resiliente para enfrentá-los com a coragem que pedem – independente da idade.

Fabio Barbirato é psiquiatra pela ABP/CFM e responsável pelo Setor de Psiquiatria Infantil do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na Pós Graduação em Medicina e Psicologia da PUC-Rio. É autor dos livros “A mente do seu filho” e “O menino que nunca sorriu & outras histórias”. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).

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