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Psiquiatra infantil
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Política é assunto para crianças?

No embalo da polarização das eleições, pais acabam transmitindo aos filhos suas paixões políticas

Por Fabio Barbirato
28 out 2022, 09h50

Se alguém quis ficar alheio às eleições presidenciais que se encerram neste domingo, precisou de muito esforço. A discussão política estava em todos os lugares: nas casas, nas reuniões de trabalho, nas corridas de táxi, no bate-papo com amigos. Nesse contexto, é praticamente impossível manter as crianças alheias ao debate.

Não me refiro aos adolescentes. Estes estão em plena fase de amadurecimento e formação cognitiva, precisam e devem estar atentos às discussões, afinal o compromisso eleitoral no Brasil começa aos 16 anos, se o eleitor assim o desejar.

Meu questionamento é com relação aos mais novos. Crianças pequenas, muitas vezes na primeira infância, sem poder de escolha sobre o assunto. Vimos nas redes sociais, nas mídias e nas ruas uma infinidade de pais vestindo os filhos com a camiseta do seu candidato, usando adesivos, sendo engajados em um tema sobre o qual tem discernimento. Não se trata de uma exclusividade deste ou daquele candidato – a postura foi adotada pelos dois lados.

Em tese, esse comportamento não seria um problema grave. A questão é que o debate político está contaminado por tamanho ódio e violência que engendrá-los neste assunto pouco acrescenta neste momento à sua educação. Como sempre digo: criança é esponja, reproduz com eficiência os comportamentos a que assiste. É inútil imaginar que elas estejam alheias ao que se fala no país, mesmo que sem a real compreensão do seu conteúdo.

No entanto, temos visto no consultório, infelizmente com mais constância do que gostaríamos, crianças que são vítimas de bullying por razões políticas, ou porque apareceram na escola com adesivo do candidato X ou porque os pais não escondem que votam no candidato Y. Uma instituição de ensino em Pernambuco chegou a cancelar as aulas esta semana, tamanho o belicismo entre os alunos por causa de política.

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Outro dia, ouvi um relato de uma criança que foi impedida de ir à casa do amiguinho porque seus pais votam no candidato contrário ao do colega. Será que é isso que os pais desejam para seus filhos? Pregar a discórdia desde tão tenra idade? Perde-se uma oportunidade preciosa do exercício da tolerância na idade em que isso é de fato relevante – e não briga política.

Não se trata de alienar as crianças – mesmo porque isso seria impossível dada a temperatura da eleição e da alta quantidade de informações a que elas estão expostas. Justamente por isso, fica a pergunta: será preciso incuti-las um espírito político-partidário? Me refiro ao bom senso. Se as crianças trouxerem questões, respondê-las de acordo a idade delas. Mas não exagerar ou incentivar algo que simplesmente não lhes é natural com tão pouca idade.

Ganhe quem ganhar no domingo, o país está cindido. Metade concorda com um lado, a outra metade concorda com outro. Repito: sem querer tomar partido do certo e do errado, vamos legar às novas gerações a perpetuação da polarização que, até aqui, não nos trouxe nada de bom? Pais devem se preocupar em transmitir o conjunto de valores que julgam corretos aos filhos. Deixem as questões partidárias para quando eles alcançarem a idade adequada.

Fabio Barbirato é médico psiquiatra pela UFRJ, membro da Academia Americana de Psiquiatria da Infância e Adolescência e responsável pelo setor de Psiquiatria Infantil da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na PUC-Rio. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).

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