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Psiquiatra infantil
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Morte em escola no Espírito Santo: por que esses ataques acontecem?

Caso levanta uma série de variáveis que precisam ser pensadas sobre a relação dos jovens com a violência

Por Fabio Barbirato
29 nov 2022, 10h46

Na última semana, mais uma vez a sociedade brasileira se viu diante de um ataque armado a escolas. Dessa vez, o caso aconteceu no Espírito Santo. Um adolescente de apenas 16 anos foi preso pela polícia horas depois do atentado que vitimou duas professoras e uma criança de 11 anos.

A razão da chacina ainda está sendo apurada pelas autoridades, mas o delegado encarregado pelo caso afirmou que o jovem não demonstrou arrependimento ao ser preso e afirmou que está sob tratamento psiquiátrico. Ainda segundo a polícia, o adolescente não tinha um alvo definido e teria agido por influência de grupos extremistas que se organizam pela internet, no Brasil e no exterior. No perfil do padrasto do jovem atirador em uma rede social, os policiais encontraram uma biografia de Adolf Hitler. Na casa do jovem foram encontradas suásticas e materiais de apologia ao nazismo.

Todas estas informações trazem uma série de pontos a serem refletidos. O primeiro deles é entender que os jovens de hoje têm uma relação com a violência diferente de gerações anteriores. Ela faz parte do cotidiano deles com muito mais frequência do que há alguns anos ou décadas atrás – e nem sempre sob supervisão dos pais ou responsáveis. Atos violentos se fazem presentes em séries, filmes, games e outros produtos de entretenimento que esta geração assiste em diferentes plataformas, sem esquecer do jornalismo e da mídia, que massacram os espectadores com violência em tempo real. O fato é que a violência é um fator de atração, especialmente entre jovens.

Além disso, a cultura da arma tornou-se um fato concreto nos últimos anos. De acordo com o Anuário de Segurança Pública, nos últimos quatro anos o número de pessoas com certificado de registro de armas cresceu 474% atingindo a marca de quase 700 mil pessoas ao ano! É ingênuo supor que no universo de um número tão grande, crianças e jovens não estejam mais expostas a armas de fogo.

Um terceiro ponto relevante é que o Brasil é um dos países mais violentos do mundo. De acordo com o Monitor da Violência do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o país teve 10,2 mil mortes violentas apenas no primeiro trimestre de 2022. Crianças e jovens, portanto, vivem sob a cultura da violência na maioria das localidades do país. No entanto, é importante ressaltar que a alta exposição à violência, por si só, não transforma um jovem em assassino em potencial.

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A esse quadro, soma-se um quarto elemento fundamental: o grande impacto que a pandemia deixou de legado na saúde mental dos jovens. E o pior, a maioria sem tratamento ou assistência adequada. Pesquisas recentes mostram que cerca de 80% dos casos de saúde mental entre jovens de 15 a 29 anos no País ficam sem diagnóstico e, portanto, sem tratamento. 

Apesar do rapaz que abriu fogo no Espírito Santo estar sob tratamento, é preciso deixar claro que não é porque um jovem está lidando com algum transtorno mental que ele se tornará mais agressivo ou mesmo será capaz de ferir outras pessoas. O ideal é que aos primeiros sinais de mudança de comportamento, o adolescente seja encaminhado para avaliação de um especialista.

Como está descrito acima, são muitas as variantes que determinam a relação de um jovem com a violência. À sociedade, cabe o papel de permanecer alerta e cobrar das autoridades o cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente, que lhes oferece um processo de amadurecimento seguro e saudável.

Fabio Barbirato é médico psiquiatra pela UFRJ, membro da Academia Americana de Psiquiatria da Infância e Adolescência e responsável pelo setor de Psiquiatria Infantil da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na PUC-Rio. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).

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