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Psiquiatra infantil
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“Um conto sombrio dos Grimm” e o medo das histórias infantis

Pais relatam o medo dos filhos com a nova série animada da Netflix

Por Fabio Barbirato
Atualizado em 2 nov 2021, 12h16 - Publicado em 2 nov 2021, 12h10

A Netflix acaba de estrear uma nova série para as crianças que tem dado o que falar. O motivo da repercussão é menos pelas suas – muitas – qualidades artísticas e mais pela forma como alguns componentes são apresentados. Inspirado no conto de fadas de João e Maria, publicado em 1812 pelos irmãos Grimm, a série “Um conto sombrio dos Grimm” tem dez episódios de meia hora de duração cada e é voltada para crianças com mais de 10 anos. Assisti a série em família, com meu filho de 11 anos, e não vi (e nem ele viu) qualquer problema em seu conteúdo.

No entanto, alguns pais se posicionaram em redes sociais considerando a série imprópria para seus filhos porque logo no primeiro episódio (spoiler parcial!) há uma decapitação de personagens por quem menos se espera. A cena não é explícita e é usada pelos criadores com humor e responsabilidade. Não há sangue ou sofrimento de qualquer ordem. “Há crianças aí?”, diz o corvo narrador, olhando para o espectador, prevendo para quem a história está sendo contada. Logo em seguida, a cena se explica e a decapitação é contornada de maneira criativa.

O que mete medo nos pequenos? A resposta varia de criança para criança. O que impressiona uma, não necessariamente irá assustar a outra. O importante é que as histórias sejam consumidas pelas crianças respeitando a idade recomendada pelo streaming e sob supervisão dos pais. Na prática, cada família deve julgar, obedecendo ao bom senso, o que seus filhos podem assistir. A quantas crianças menores de idade foi autorizado assistir a violentíssima série “Round 6”?

A literatura dos irmãos Grimm é cercada de referências sombrias, inclusive com violência (embora não é isso que se vê na série da Netflix). A verdade é que muitas das histórias infantis não são exatamente água com açúcar: estão cheias de bruxas, mortes, poções e venenos, movidos por instintos de vingança e ódio. Portanto, o importante é saber de que forma esses elementos são usados para se construir a moral da história.

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Histórias são metáforas da vida. As infantis são conscientemente pensadas para educar, formar e ampliar o conhecimento e a capacidade de abstração através de tramas e personagens. Não se tem notícia de nenhuma criança que tenha virado seria killer ou criminosa por conta da influência de histórias que atravessam os séculos e fazem parte do imaginário de gerações.

Mais do que histórias infantis, os pais devem estar atentos à aparentemente inofensiva televisão ligada, na hora do almoço ou do jantar. As tragédias de um telejornal – que são pensados para adultos – tem a capacidade de impactar mentalmente uma criança em escala muito maior do que uma série infantil.

Fabio Barbirato é psiquiatra pela ABP/CFM e responsável pelo Setor de Psiquiatria Infantil do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na pós-graduação em Medicina e Psicologia da PUC-Rio. É autor dos livros “A mente do seu filho” e “O menino que nunca sorriu & outras histórias”. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).

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