Como a gentileza ajuda a evitar depressão em crianças e adolescentes?
Livro de educadora americana sugere que preparar as crianças para hábitos sociais as torna mais saudáveis
O jornal americano The New York Times trouxe uma matéria bastante interessante a respeito de uma pesquisa de cientistas da Universidade de Toronto que investigam o quanto fazer o bem aos outros pode poupar crianças e jovens de transtornos como depressão e ansiedade. O estudo se baseia na teoria de que fazer o bem gera uma sensação de satisfação e mantem distante a depressão. Agora, os canadenses se debruçam a descobrir em um estudo quantas e quais maneiras de fazer o bem promovem mais saúde em quem as executa.
Os últimos meses foram especialmente cruéis para as crianças e jovens. Isolados em casa, longe dos amigos, privados das aulas presenciais, distantes da rotina tão fundamental nesta faixa etária, tudo levou os jovens a um caminho de desesperança e angústia – sem citar as muitas questões globais, como a crise ambiental, política e econômica. Não surpreende que as estatísticas dos últimos dois anos apontem um crescimento de depressão e ansiedade entre esse público.
Segundo a educadora norte-americana Traci Baxley, autora do livro “Social justice parenting”, um dos melhores aliados nestes momentos é reforçar sentimentos como bondade, gentileza e compaixão às novas gerações. A base de seu pensamento está na ideia de que as crianças consigam reconhecer injustiças, ter empatia pelos outros e agirem para mudar.
Ela destaca a importância de pais ou responsáveis darem o exemplo na educação dos filhos – aliás, como sempre digo neste espaço. A nós, cariocas, o que não falta é oportunidade de dar o exemplo de fazer o bem: centenas de famílias passaram a morar nas ruas de diversos bairros. O problema sempre houve, mas se agravou ainda mais desde o início da pandemia. Com que olhar, que gesto, que atitude você lida com a família que mora na sua rua ou no seu bairro? É uma excelente oportunidade de, mais uma vez, dar exemplo ao seu filho.
Pais tem o hábito de valorizar notas escolares e performances esportivas, mas será que você se orgulha do ser humano que o seu filho está se tornando? O que o seu filho jovem ouve dentro de casa a respeito de racismo, igualdade de gêneros e bullying? Inexoravelmente isso irá se refletir no adulto que ele será.
No tempo do ódio e dos infindáveis “haters”, nas redes sociais e fora delas, é mais uma grande notícia da ciência que a gentileza, a bondade e a compaixão sirvam de prevenção para alguns transtornos mentais entre crianças e jovens.
Fabio Barbirato é psiquiatra pela ABP/CFM e responsável pelo Setor de Psiquiatria Infantil do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na pós-graduação em Medicina e Psicologia da PUC-Rio. É autor dos livros “A mente do seu filho” e “O menino que nunca sorriu & outras histórias”. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).