Crianças do Rio e da Tailândia sofrem com estresse pós-traumático
Os impactos de experiências como as dos meninos que ficaram presos em uma caverna podem levar seis meses ou até um ano para aparecerem
A única coisa capaz de dividir atenções com a Copa nas duas últimas semanas foi o resgate dos treze presos na caverna na Tailândia. O mundo acompanhou, agoniado, o drama dos doze meninos e o treinador de futebol que foram passear na caverna e não conseguiram mais sair, ilhados pelas fortes chuvas. A história acabou com um final feliz: todos foram resgatados com vida e passam bem fisicamente. Mas como fica a cabeça de uma criança que passa por uma situação limite como esta?
O impacto concreto de uma experiência tão definitiva não dá sinal imediatamente. Talvez leve de seis meses a um ano para se apresentar. O indicado é que essas crianças tenham acompanhamento especializado por, pelo menos, dois anos.
Após as adversidades que passaram nos últimos dias, não seria estranho se desenvolvessem estresse pós-traumático, uma espécie de transtorno de ansiedade caracterizado por pessoas que vivenciam ou presenciam uma situação de alto estresse.
Alguns sintomas que evidenciam o estresse pós traumático são: acordar assustado no meio da noite, expressar pequenos sinais de pânico, lembranças recorrentes do fato ou medo de passar perto do local onde o trauma foi vivido. No caso das crianças tailandesas, a fobia a lugares fechados ou quadro de pânico não seria uma excentricidade.
Não é raro ouvir relatos de estresse pós-traumático nas crianças carentes atendidas na Santa Casa do Rio, a milhares de quilômetros da Tailândia. Em sua maioria, elas vivem em zonas conflagradas de conflito entre milicianos, traficantes e policiais. Muitas contam casos de parentes assassinados na porta de casa. Já passamos pela experiência de ver uma criança transtornada pela lembrança de tiros ao ouvir o som de estalinho de festa junina.
É importante valorizar a resiliência das crianças tailandesas, ou seja, a capacidade de superar situações difíceis. O fato de serem amigos de futebol, acompanhados pelo treinador, sem dúvida ajuda a amenizar a angústia natural de uma situação limite.
O mesmo se pode dizer das crianças cariocas. Milhares de alunos levantam todos os dias e vão para as aulas, mesmo depois de verem ou saberem de um coleguinha assassinado a caminho da escola, como aconteceu mês passado com Marcos Vinicius da Silva, de 14 anos, baleado pela polícia usando uniforme escolar.
Que nós, pais, professores e responsáveis, saibamos auxiliá-los na construção de suas resiliências diante das adversidades da vida, fortalecendo a autoconfiança e a segurança das crianças.