Bullying: a importância de os pais darem atenção às queixas dos filhos
A falta de escuta dos responsáveis pode soar como desamparo às crianças e adolescentes
Foi um dos assuntos da semana passada que mobilizou o Brasil: o menino que se suicidou depois de fazer reiteradas queixas aos pais – sem ser ouvido – a respeito do bullying que sofria na escola. O caso chocou e surpreendeu por diversas razões.
A primeira delas talvez seja pelo fato de que muitos pais ainda se surpreendam com o poder nocivo do bullying. Para alguns, trata-se de algo distante dos seus filhos, sejam eles vítimas ou algozes (a maioria dos pais tem enorme dificuldade em enxergar seus filhos no papel do “vilão”).
No entanto, este é um tema cada vez mais recorrente em consultório (ou fora dele). Pode-se dizer que o bullying se “sofisticou” e acompanhou a maneira de os jovens se comunicarem, migrando para o ambiente virtual. O que por muitas décadas eram apenas implicâncias ou ofensas, já bastante nocivas, ganharam novo terreno nas redes sociais, com a criação de perfis falsos com ofende o jovem ou com a exposição anônima de fotos íntimas ou vídeos registrados sem autorização.
O cruel disso tudo é que o bullying virtual corre numa velocidade proporcional à sua maldade. É difícil conter seu impacto, bem como identificar e deter o criminoso responsável. Mesmo assim, recentemente, a legislação se tornou mais dura para casos de cyberbullying, inclusive responsabilizando os pais.
Contudo, é fundamental não perder de vista os relatos dos jovens. Bullying, virtual ou não, é extremamente penoso a ser enfrentado – ainda mais sozinho. Os pais, por omissão, desatenção ou até por não saberem como lidar com a questão, podem acabar tentando se eximir de responsabilidades. E o jovem, acuado e sem saber como responder à violência, pode acabar recorrendo a atos extremos, como vimos mais uma vez esta semana.
Crianças e jovens gostam se ter a sensação que os pais se interessam por suas vidas e estão atentos a eles. Por mais que digam o contrário, que eventualmente se sintam envergonhados (quem nunca escutou o clássico “que mico, pai!”?), a certeza de que alguém com mais idade e experiência os está acompanhando de perto é reconfortante. Isto não tem nada a ver com tutelar ou interferir de maneira determinista. Pais responsáveis permitem que os filhos vivam suas próprias experiências e aprendam com elas.
Esforçar-se para que as crianças não sofram é uma luta inglória e pouco educativa. No entanto, ouvi-las e acolher suas dores, sem invalidá-las, tomando as medidas cabíveis conforme cada caso, é exercer a responsabilidade inerente aos papeis de pai e mãe.
Fabio Barbirato é médico psiquiatra pela UFRJ, membro da Academia Americana de Psiquiatria da Infância e Adolescência e responsável pelo setor de Psiquiatria Infantil da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na PUC-Rio. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).