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Psiquiatra infantil
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Ataques em escolas: por que crianças estão sendo mortas em sala de aula?

Assassinos dão pequenos, porém relevantes sinais, de comportamento diferenciado

Por Fabio Barbirato
Atualizado em 10 abr 2023, 09h07 - Publicado em 10 abr 2023, 09h05

O Brasil, mais uma vez, assiste em choque ao ataque a uma creche em Blumenau, que acabou vitimando quatro crianças. Há poucas semanas, o susto se deu com um ataque na cidade de São Paulo, que levou matou uma professora. Não é a primeira vez que eventos dessa natureza acontecem no Brasil. Em 2011, assistimos ao terrível massacre na escola de Realengo. À época, prestei serviço de apoio psiquiátrico às vítimas e testemunhas.

O que todo mundo se pergunta em momentos de choque com tragédias como estas é: por que? O que faz com que uma pessoa invada uma creche ou escola e mate crianças inocentes?

Diferente do que muitos gostariam, não se pode generalizar e cravar um motivo único. No entanto, quando olhamos mais detidamente as informações que aparecem sobre os assassinos, geralmente elas nos dão alguns indícios que permitem reconstruir a lógica particular de quem comete gestos bárbaros como estes.

É comum que se observe histórico de abandono ou maus tratos na infância. Há, por exemplo, relatos de violência física por parte de pais. Outro traço que une os assassinos, com alguma frequência, são relatos de serem vítimas de bullying. Paira sobre eles a sombra da injustiça e de mágoa não resolvidas – sociais, comportamentais e sexuais (como os incel, homens com dificuldade de se envolverem amorosamente com mulheres, de forma espontânea). Com o passar do tempo, sentem-se ainda mais excluídos e, consequentemente, buscam o isolamento.

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Neste ponto, é fundamental destacar uma outra vertente: o advento nos últimos anos das redes sociais. Elas agem como causa e como consequência: são causa quando vendem uma vida inventada, longe da realidade da maioria das pessoas. E são consequência quando, junto com a deep web da internet, servem a um gigantesco universo de divulgação de conteúdo extremista, com controle ineficiente por parte das empresas responsáveis. Neste momento, o STF estuda formas de atribuir mais responsabilidades às plataformas e sites, que se defendem afirmando que não produzem aquele conteúdo – no entanto, o perpetuam de forma descontrolada.

É na internet e nas redes sociais que muitos assassinos buscam informações sobre armas, sobre formas de ataque e, pior, ganham fama e encontram apoio para suas iniciativas criminosas. Justamente por isso, veículos de imprensa, como O Globo e Estado de São Paulo decidiram não publicar foto, vídeo, nome ou outras informações sobre os autores do ataque, tendo em vista pesquisas que mostram que essa exposição pode levar a um efeito de contágio, de valorização e de estímulo de atos de violência. A visibilidade dos agressores, afirmam, é vista como um “troféu” nas redes.

Por fim, é importante registrar a morosidade de escolas em dar uma resposta a altura aos indícios de comportamentos inadequados de alunos. Um mau comportamento, que se tolera por longo tempo, tende a se repetir – cada vez com mais gravidade.

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Muitas das pessoas que cometem crimes contra crianças e adolescentes em escolas podem ter quadros de transtornos mentais, como depressão. Por óbvio, o transtorno, por si só, não “transforma” ninguém em assassino. Mas a falta de assistência e tratamento ainda na infância ou adolescência – muito por preconceito com o que ainda se julga ser “coisa de maluco” – é determinante para comportamentos inadequados ao longo da vida.

E como pai, deixo aqui minha solidariedade aos pais das vítimas de ataques covardes e cruéis em escolas contra crianças e adolescentes.

Fabio Barbirato é psiquiatra pela ABP/CFM e responsável pelo Setor de Psiquiatria Infantil do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na pós-graduação em Medicina e Psicologia da PUC-Rio. É autor dos livros “A mente do seu filho” e “O menino que nunca sorriu & outras histórias”. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).

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