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Psiquiatra infantil
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A perigosa “moda” do diagnóstico de transtorno mental

De uns tempos pra cá, temos assistido a um “boom” de diagnósticos que atendem aos mais diversos interesses, menos o da saúde do paciente

Por Fabio Barbirato
20 mar 2024, 15h44

Todo tipo de modismo pode ser perigoso, por induzir a massa a um comportamento, no mínimo, questionável. Um exemplo: as famosas “trends” na internet criam tendências que colocam em risco a saúde, quando não a vida, de crianças e jovens.

Mais recentemente, eu e meus colegas psiquiatras temos acompanhado nos consultórios um outro comportamento tão reincidente que arrisco a dizer que se trata de um modismo: a busca por um diagnóstico de transtorno mental. Veja bem, não se trata de uma criança ou jovem com questões concretas que precisam de um acompanhamento médico. Ao contrário, o desejo de ter um diagnóstico de autismo ou depressão, por exemplo, numa espécie de hype ao contrário.

O que essas pessoas ignoram é que as doenças mentais não são denominadas “transtornos” impunemente. Elas são, de fato, um transtorno na vida de quem as tem. Claro que todo o trabalho dos profissionais de saúde é mitigar esse fator, mas não é possível ignorar que transtornos mentais se caracterizam por trazerem prejuízo à vida de quem os tem – seja prejuízo social, laboral, familiar, afetivo. Em resumo: é possível, mas não é fácil conviver com um transtorno. Quem reveste de glamour uma condição como esta desconhece o que seja conviver com ela, de fato.

Por um lado, luta-se pelo fim do preconceito e maior aceitação e inclusão de pessoas com transtorno mental; por outro lado, testemunhamos uma certa banalização do que seja viver sob certas condições. Quem colaborou significativamente para este imbróglio foi a internet. Poderosa disseminadora de conceitos e valores, a internet e as redes sociais podem ser preciosos aliados na ampliação de conhecimento e informação. Mas também tem a mesma eficácia – talvez até maior, infelizmente – em criar ilusórios modismos ou tendências – além de desinformação.

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O resultado é que os jovens já chegam para a consulta “diagnosticados” pela internet. Ignoram que a presença de um profissional corretamente preparado para a função é primordial para que qualquer quadro de transtorno mental seja efetivamente confirmado. Além disso, uma eventual correção do primeiro “diagnóstico” é capaz de criar frustração, quando não indignação no paciente.

O atual “boom” de diagnósticos de transtornos mentais pode atender aos mais diversos interesses, menos ao que deveria ser o principal, razão primeira da nossa profissão: a saúde dos pacientes.

Fabio Barbirato é psiquiatra pela ABP/CFM e responsável pelo Setor de Psiquiatria Infantil do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na pós-graduação em Medicina e Psicologia da PUC-Rio. É autor dos livros “A mente do seu filho” e “O menino que nunca sorriu & outras histórias”. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).

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